Por Juliana Estigarríbia
São Paulo, 15/12/2021 - Com a aprovação da fusão entre Localiza e Unidas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) nesta quarta-feira, as empresas começam oficialmente a corrida para encontrar um comprador para os ativos que deverão ser vendidos para a conclusão da operação. Conforme apurou o Broadcast, as potenciais candidatas já vêm se movimentando há algum tempo, mas só devem avançar nas negociações após o esclarecimento do acordo, sigiloso, firmado com o órgão antitruste.
Para aprovar a operação, Localiza e Unidas teriam que vender entre 68 mil e 70 mil carros, além de agências e sistemas, lojas de seminovos e a marca Unidas, apurou a reportagem. A Movida, hoje a terceira maior locadora do País, está vetada de negociar a compra dos ativos, uma vez que o acordo firmado no Cade tem como intuito criar uma nova empresa capaz de rivalizar com a companhia resultante da fusão.
Neste cenário, a Ouro Verde é considerada a candidata “natural” para o negócio. Em setembro deste ano, a locadora especializada na gestão e terceirização de frotas (GTF) anunciou um aporte de aproximadamente US$ 40 milhões por sua controladora Brookfield. Na ocasião, a gigante canadense informou considerar um incremento dessa rodada de investimento em mais US$ 60 milhões, “a ser realizado em momento oportuno”.
Atualmente, a Ouro Verde possui 22.472 veículos leves, mas a força da companhia cresce à medida que sua frota total, incluindo máquinas e equipamentos pesados, soma 31.142 unidades. Segundo fontes, a Ouro Verde estaria disposta a avaliar a compra do pacote caso o volume de carros ofertado superasse 70 mil unidades. Procurada, a locadora disse que não vai comentar o assunto.
Outra potencial candidata aos ativos seria a Volkswagen Financial Services, por meio de uma joint venture anunciada recentemente com a LM Frotas, que atua no GTF e hoje tem um tamanho semelhante ao da Ouro Verde (em termos de frota). O braço financeiro da Volkswagen controla a Fleetzil, que atua em carro por assinatura, e se habilitou como terceira interessada no processo de fusão entre Localiza e Unidas. Procurada, a Volkswagen Financial Services informou que não irá comentar o assunto.
Um candidato bem menos óbvio aos ativos é o grupo Comporte, da família Constantino, que controla a companhia aérea Gol. Segundo apurou a reportagem, a Comporte, que tem empresas como a Viação Piracicabana, teria sondado a possibilidade de comprar os ativos, uma vez que possui uma pequena operação em GTF.
“Além de entrar forte na locação, o negócio faria total sentido para o grupo Comporte, já que uma parcela importante das operações das locadoras está nos aeroportos, em uma sinergia com a Gol”, diz uma fonte que prefere não se identificar. Procurado, o grupo Comporte informou que não vai comentar o assunto.
A Unidas informou por meio de nota que as duas empresas estão, agora, em busca de compradores para os ativos indicados nas condicionantes determinadas pelo Cade. “Toda comunicação sobre a transação está sendo realizada diretamente com a autarquia e seus conselheiros. Até a conclusão da operação, as companhias continuam atuando de forma independente”.
Riscos para concluir a operação
Apesar do interesse das empresas pelos ativos, o pacote acordado com o Cade pegou o mercado de surpresa, vindo muito mais amargo do que o esperado. Neste sentido, o candidato à aquisição terá que estar disposto a desembolsar uma quantia vultosa, que segundo cálculos feitos por fontes a pedido do Broadcast pode partir de R$ 3,5 bilhões até R$ 5 bilhões.
“Localiza e Unidas devem perder nessa negociação para conseguir negociar o pacote. Do contrário, a operação corre risco”, diz uma fonte próxima ao caso.
Para uma outra fonte próxima às empresas, os interessados podem avaliar o custo de oportunidade. “O candidato vai comprar ‘meia’ Movida já em funcionamento, mas de fato o valor do negócio pode cair para ser concluído.”
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