Economia & Mercados
29/09/2021 17:49

Elevação de juros não chega a reverter crescimento do setor imobiliário, apontam especialistas


Por Marcelo Mota e Circe Bonatelli

São Paulo, 29/09/2021 - A perspectiva de elevação dos juros, no Brasil e no mundo, ameaça o prosseguimento da recuperação econômica, mas não a ponto de interromper o bom momento vivido pelo setor imobiliário. Na opinião de especialistas reunidos em evento online promovido pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), o setor tem sustentação para continuar crescendo e é chave para a manutenção do emprego.

"Vejo cenário difícil, principalmente por causa dos juros, mas não a ponto de reverter essa tendência de crescimento da indústria imobiliária no Brasil", disse o sócio e fundador da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola. "Tem perspectiva importante de aumento da oferta de crédito pela entrada de novos players e pela maturação dos instrumentos do mercado de capitais diretamente ligados à indústria imobiliária."

O diretor do Bradesco, José Rocha Neto, também não acredita que a elevação do juro chegue a cortar totalmente o embalo do setor. "Na nossa visão, pode desacelerar um pouco o desembolso, mas não chega a causar impacto grande para o setor." Neste ano, segundo ele, o mercado vai ultrapassar a marca dos R$ 200 bilhões em financiamento imobiliário. "Pode ser que no ano que vem esses números não sejam alcançados. Com a queda dos juros em 2023, esse mercado retoma."

Também no painel de abertura do evento, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, lembrou que, mesmo nos momentos mais agudos da pandemia, quando muitas torneiras de crédito secaram, a Caixa se manteve financiando a habitação, e com isso ganhou mercado. "A Caixa chegou a ter 55% do mercado, em abril e maio de 2020. Em janeiro de 2019, era menos de 20%. Hoje está ao redor de 40%."

Os três enalteceram a importância do setor na manutenção do emprego durante a pandemia. "A construção civil tem sido um elemento fundamental na preservação do crescimento e do emprego", frisou Loyola. Para o ex-presidente do Banco Central, a economia se valerá também do impulso dado pelo setor para continuar avançando em 2022, apesar das turbulências eleitorais.

"Nossa projeção é de crescimento de 1,8% (do PIB, em 2022)", disse o sócio da Tendências, que prevê 5% de crescimento neste ano. "Esperamos que o ciclo de aperto monetário leve a (taxa básica) Selic a 8,25% (ao ano) no final deste ano e para o ano que vem a tendência é de manutenção desse patamar, a não ser que riscos inflacionários se materializem. Por exemplo, se o real sofrer desvalorização forte no ano que vem, isso pode afetar."

No cenário global, Loyola teme pelos efeitos de uma eventual desaceleração da economia chinesa. "Não só pelos problemas na imobiliária Evergrande, mas por percepção de que existe processo desordenado de crédito." Também pelos efeitos do aperto monetário esperado para diversas economias do mundo, liderado pelos Estados Unidos, que podem pressionar moedas de emergentes.

"A taxa de câmbio que resulta dos modelos que temos da Tendências apontam para um dólar ao redor de R$ 5,30 ao final deste ano. Esse é um patamar desvalorizado da moeda brasileira", disse Loyola. "Para o ano que vem, tende a se manter nesse patamar, sujeita a chuvas e trovoadas econômicas e políticas."

Contato: Contato: marcelo.fernandes@estadao.com e circe.bonatelli@estadao.com
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