Economia & Mercados
28/09/2022 08:37

Especial: Com vitória no CE, Aegea terá agora desafio de levar saneamento a 25 mi de pessoas


Por Juliana Estigarríbia

São Paulo, 27/09/2022 - A Aegea arrematou os dois blocos leiloados nesta terça-feira pelo governo do Ceará para prestação de serviços de esgotamento sanitário, com propostas agressivas de deságio, desbancando grandes grupos como Iguá e GS Inima. Agora, a companhia terá o desafio de atender 25 milhões de pessoas em projetos complexos ao redor do País, incluindo a gigante Cedae, no Rio de Janeiro.

Às vésperas das eleições, o governo do Ceará promoveu um leilão para conceder os serviços de esgotamento sanitário de 24 municípios, divididos em dois blocos. Sob o modelo de Parceria Público-Privada (PPP), o certame tinha como critério o menor valor de contraprestação pago pelo poder público: à medida que a empresa vencedora vai realizando investimentos e cumprindo metas, o governo paga mensalidades conforme previsto no contrato.

No caso do bloco 1, que abrange 17 municípios, o investimento estimado é da ordem de R$ 2,4 bilhões, além de R$ 225 milhões de gestão comercial ao longo dos 30 anos de contrato.
Nesse lote, a Aegea brigou com outras três proponentes (Iguá Saneamento, um consórcio formado por Marquise, GS Inima e PB Construções e outro por Encalso, Terracom, Hidrosystem e CGD) e levou com uma proposta de contraprestação de R$ 7,65 bilhões, um deságio de 27,9% sobre o valor máximo de R$ 10,6 bilhões.

No bloco 2, formado por 7 municípios (incluindo a região metropolitana de Fortaleza), a Aegea também ganhou com um deságio agressivo de 37,8% sobre o valor máximo de contraprestação de R$ 18,3 bilhões. O investimento estimado é da ordem de R$ 3 bilhões, além de R$ 527 milhões de gestão comercial. Na disputa pelos dois blocos, a Aegea foi a viva-voz com a Iguá, que por sua vez desistiu após o primeiro lance de sua concorrente.

Com a conquista, a Aegea passa a operar em 178 cidades, distribuídas em 13 estados. A postura no leilão do Ceará pode ser explicada, em parte, pelo fato de a companhia já atuar na região, como em Teresina (PI), próximo à região Norte, onde a empresa tem uma concessão de saneamento em Manaus (AM).

“A nossa experiência em atuar em localidades de diferentes dimensões, com um modelo de negócio transparente e ético, atrelado à nossa eficiência operacional, investimentos responsáveis e no cumprimento de metas, será fundamental para contribuir para a universalização do saneamento nessas regiões”, disse em nota o presidente da Aegea, Radamés Casseb.

Histórico de prestação de serviços

O analista de Research do Banco ABC, Roberto Dumke, observou que a Aegea já havia dobrado de tamanho quando arrematou os dois maiores blocos do leilão da Cedae, no Rio. “Mesmo com os desafios de tirar o projeto da Cedae do papel, a Aegea se mantinha com uma alavancagem bem abaixo de seus pares, o que consideramos bastante saudável.”

Ele avalia que a companhia tem a seu favor um histórico positivo da prestação de serviços de Teresina e Manaus. “A Aegea promoveu mudanças impressionantes nesses ativos, com muito know-how em gestão comercial, o que a diferencia no mercado”. Segundo Dumke, em concessões de saneamento, um dos grandes desafios é começar a regularizar, desde o início do contrato, a situação dos usuários, algo crucial para reduzir as perdas - principalmente comerciais.

O analista aponta ainda que o critério do leilão do Ceará, que não previa pagamento de outorga, também foi favorável para a Aegea. “A alavancagem mais pesada, que seria da outorga, não existiu. O resultado do leilão mostra que a empresa está confiante de que vai entregar o que promete.”

Outro desafio da Aegea, na visão do analista, deve ser a composição da equipe para essa nova operação de mais de 4 milhões de clientes no Ceará. “A companhia precisou de executivos para a Cedae, agora terá mais esse desafio no Ceará.”

O sócio do Giamundo Neto Advogados, Luiz Felipe Pinto Lima Graziano, afirma que operadores experientes e qualificados, como é o caso da Aegea, têm boa capacidade de atração de investimentos, além de musculatura financeira própria. “O desafio maior talvez seja estruturar o time, pois já se percebe uma escassez de mão de obra com experiência prévia (no setor) em razão da ampliação do número de projetos de saneamento”, observou.

Perspectivas

Na avaliação do sócio de infraestrutura do escritório Machado Meyer, Rafael Vanzella, o resultado do leilão, com propostas de descontos significativos, revela uma maturidade crescente do setor de saneamento. “Esse nível de concorrência era inimaginável há 3 anos, o que revela uma vitória do novo marco.”

De acordo com Vanzella, essa tendência já vinha se desenhando com os leilões recentes em Alagoas e no Rio. “Isso significa que o mercado está em franca expansão.” O especialista lembrou que as proponentes de hoje já tinham encarteirado contratos grandes. “A própria Iguá e também a Aegea já tinham sido muito contundentes em Cedae e agora comparecem no leilão da Cagece com bastante apetite, um resultado que sinaliza que o mercado comporta não só novos leilões, como também novas entrantes.”

Na visão do analista do banco ABC, todas as empresas do setor de saneamento já estão alavancadas, tocando diversos projetos. “A partir de agora, a Aegea deve ser mais seletiva, mas como todo o setor também está na mesma condição, com grandes desafios e alavancagem, mesmo colocando uma régua mais alta (na escolha de projetos), a companhia ainda tem espaço para levar novos ativos”, afirmou.

Contato: juliana.estigarribia@estadao.com
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