Economia & Mercados
08/02/2022 09:53

Sem guerra de preços, Porto Seguro repassa ao consumidor inflação do automóvel


Por Matheus Piovesana

São Paulo, 08/02/2022 - A Porto Seguro começou a reajustar os preços das apólices de seguro automotivo em setembro do ano passado, para fazer frente ao impacto da inflação sobre as despesas com sinistros. De acordo com o presidente e diretor de relações com investidores da seguradora, Roberto Santos, não há uma guerra de preços no setor, o que tem gerado uma boa aceitação dos aumentos.

"Tem uma pequena retração nas conversões, mas tem sido positivo porque como esse efeito pegou todo o mercado, todo mundo está fazendo esse movimento", disse ele ao Broadcast, em entrevista após a divulgação dos resultados da companhia no quarto trimestre.

No seguro auto, a inflação pesa de duas formas. Primeiro porque eleva os preços dos carros, aumentando também o valor dos sinistros. Segundo, porque se estende aos preços de peças, o que leva o efeito até mesmo a sinistros de menor abrangência. É um descasamento temporário, mas que afeta os números do setor a curto prazo.

Em 2021, a inflação dos preços de automóveis foi maior por causa das constantes interrupções das cadeias de produção, que fizeram disparar os preços até dos veículos usados. Na Porto Seguro, o efeito foi de elevação da sinistralidade em automóveis em 13,5 pontos porcentuais entre o quarto trimestre de 2020 e o mesmo período do ano passado, para 61,6%.

Os prêmios emitidos no ramo, por sua vez, subiram 9,5%. Mesmo em um ano complexo para o setor, a empresa, líder em seguro automotivo no País, ganhou mercado, e chegou a 5,77 milhões de automóveis segurados, além de registrar sinistralidade 13,4 pontos mais baixa que a média. A taxa tende a arrefecer, mas de forma gradual.

"A gente entende que esse movimento não vai terminar no primeiro semestre. Vai acontecer provavelmente no quarto trimestre, e nós já precificamos a nossa carteira para isso", afirmou Santos. Segundo ele, pode haver um efeito positivo: com despesas subindo menos que o preço das apólices, a Porto pode ter uma diluição de seus custos.

Diversificação

O mercado, entretanto, cobra há tempos que a Porto diversifique suas fontes de receita, tanto para que esteja menos exposta às intempéries do auto quanto para crescer mais. "Por estar muito concentrada no seguro auto, o crescimento da Porto é menor que seguradoras de outros segmentos, como de saúde. O seguro auto cresce estruturalmente menos", comentaram em janeiro os analistas da Genial Investimentos.

Santos disse que a empresa está arregaçando as mangas para tornar seu mix mais diverso. "O nome do jogo aqui na Porto Seguro é crescimento", afirmou ele. Esse crescimento deve vir em especial das verticais de saúde, onde a companhia está construindo uma nova plataforma de tecnologia, focando em pequenas e médias empresas e na qual espera ter 1 milhão de vidas seguradas até 2025; e da área de serviços financeiros, em que emite cartões de crédito, entre outros produtos.

Uma das apostas é a de aumentar o uso dos produtos pelos clientes que já possui, além de conquistar novos. O executivo afirmo que, em média, cada cliente da Porto utiliza de 1,5 a 1,6 produto da empresa - média bem menor que a de um grande banco, por exemplo.

Para colocar essa venda cruzada em prática, a empresa criou um "super app", que já tem cinco produtos e deve reunir todos eles nos próximos meses, diferentemente do que ocorria antes. "Nós tínhamos 16 aplicativos, cada negócio lançava o seu. Quase impossível fazer cross selling assim", admitiu.

Outra ideia, esta relacionada à flexibilização feita pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) no ano passado, é a de oferecer dois produtos diferentes em uma apólice só, com cobrança unificada. "A gente vê uma oportunidade de fazer uma apólice única de auto e residencial", comentou Santos. Hoje, disse ele, um corretor vende os dois produtos ao mesmo cliente, mas em apólices e cobranças diferentes, o que aumenta a chance de que só um seja efetivamente pago.

Contato: matheus.piovesana@estadao.com
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