Economia & Mercados
25/09/2023 10:34

Cartões entram na disputa com o Pix por pagamentos de escola e aluguel


São Paulo, 22/09/2023 - A indústria de cartões deve iniciar nos próximos meses uma campanha corpo a corpo para estimular o uso do plástico no pagamento de aluguéis, mensalidades de instituições de ensino e também de planos de saúde, em uma primeira etapa. O eventual sucesso da iniciativa pode agregar cerca de R$ 400 bilhões em valores processados pelo setor, ou 12% de tudo o que transita anualmente por cartões de crédito, débito e pré-pagos no ano passado.

"Dependendo dos segmentos em que conseguirmos mais ou menos presença, isso gira em torno de R$ 400 bilhões pelos cálculos que fizemos", diz ao Estadão/Broadcast o conselheiro da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) e do Banco Original, Raul Moreira.

A movimentação do setor tem por objetivo ocupar um espaço hoje dominado pelos boletos e o débito automático, antes que o Pix ganhe funções que lhe deem escala nessa frente de negócios. A grande ameaça, na verdade, vem do "Pix Automático", que o Banco Central deve lançar em abril de 2024. Essa nova função do Pix funcionará como uma espécie de "débito automático", sem custos para o consumidor pagador. As tarifas devem recair sobre as empresas recebedoras, como acontece com o Pix tradicional.

Moreira reconhece que o Pix será importante nas cobranças recorrentes, mas isso não impedirá que os cartões também ganhem espaço nessa frente. "O mercado brasileiro vai ter três grandes estruturas de pagamentos recorrentes", diz ele. "A cobrança tem suas vantagens, relacionadas principalmente ao custo. E teremos o Pix como infraestrutura, e também os cartões. Queremos ser uma das três com a maior participação possível."

EMBATE. Nos próximos meses, de acordo com o executivo, a Abecs deve conversar com associações setoriais. Até aqui, a entidade falou com empresas de grande porte e donas de sistemas de gestão, em uma agenda "investigativa", para entender se haveria interesse em incluir o cartão entre as possibilidades de recebimento.

A recepção foi positiva, e reforçada pelos resultados de uma pesquisa feita pela entidade, que apontou que os consumidores também se interessam em pagar mensalidades e aluguéis com cartão.

A outra ponta do esforço será voltada aos emissores de cartões, em especial os bancos. Moreira diz que as áreas de atendimento a empresas dos bancos podem ajudar a disseminar o cartão nos pagamentos recorrentes, ao tratar de produtos de gestão de caixa.

"Quando o banco discute o gerenciamento de caixa da empresa como um todo, queremos que ele discuta também o meio de pagamento cartão como recebimento dessas grandes corporações", explica.

A Abecs começou ainda uma discussão para atrair também as concessionárias de serviços públicos, como água, luz e telefone. Entretanto, Moreira diz que esse debate virá depois porque, do ponto de vista do sistema financeiro, as cobranças desses setores são processadas de modo diferente das de outros serviços.

CULTURA. No primeiro semestre, a Abecs divulgou uma diretiva que unificou as regras para o recebimento de pagamentos recorrentes via cartão, em um primeiro passo do esforço que pretende intensificar agora. Ao mesmo tempo em que viu a possibilidade de diversificação de negócios nessa área, a entidade identificou uma dificuldade de caráter histórico: os sistemas de recebimento de aluguéis e mensalidades são pouco afeitos aos cartões.

"A cultura do brasileiro para o pagamento de prestações veio muito do carnê e do boleto. Os sistemas de integração acabaram sendo desenvolvidos para a cobrança[VIA BOLETO], e isso acabou, pela inércia, ganhando uma escala muito grande", diz Moreira.

Nos contatos com os setores, segundo ele, ficou claro que há interesse em receber pagamentos mensais pelo cartão pelo menor risco de inadimplência. O risco de o cliente deixar de pagar uma mensalidade escolar cai muito se houver um cartão cadastrado. Como é o banco emissor quem garante os pagamentos ao resto da cadeia, os estabelecimentos têm a entrada de caixa garantida.

Para os clientes, segundo ele, o apelo está tanto nos limites de crédito quanto nos benefícios atrelados aos cartões, como os programas de fidelidade. No caso dos emissores, os bancos, há uma substituição da cobrança bancária tradicional, que vem perdendo força com a migração de transações para os canais digitais e para o Pix, que não têm taxas para o cliente. "A remuneração do banco ou emissor é compatível com o nível de prestação de serviço, e a cobrança tem um nível de prestação mais simples."

Além do acesso a crédito, a indústria de cartões aposta na segurança dos sistemas como uma vantagem na disputa - o mesmo apelo que tem feito para compras online, ambiente em que o Pix ganhou o espaço que antes era do boleto.
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