Por Matheus Piovesana
São Paulo, 10/11/2022 - Os cinco maiores bancos do País (Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander Brasil) tiveram lucro de R$ 28 bilhões no terceiro trimestre deste ano, valor 6,8% maior que o registrado no mesmo período do ano passado. Em um trimestre marcado pelo salto da inadimplência entre as pessoas físicas, BB e Itaú se saíram melhor, diante de carteiras mais conservadoras, enquanto Bradesco e Santander tiveram queda nos resultados.
Cinco maiores bancos lucram R$ 28 bi no 3º trimestre |
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Banco |
Lucro no 3tri21 |
Lucro no 3tri22 |
Variação |
Banco do Brasil |
R$ 5,139 bi |
R$ 8,360 bi |
+62,7% |
Itaú Unibanco |
R$ 6,779 bi |
R$ 8,079 bi |
+19,2% |
Bradesco |
R$ 6,767 bi |
R$ 5,223 bi |
-22,8% |
Caixa |
R$ 3,207 bi |
R$ 3,224 bi |
+0,5% |
Santander Brasil |
R$ 4,340 bi |
R$ 3,122 bi |
-28% |
Total |
R$ 26,232 bi |
R$ 28,008 bi |
+6,8% |
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Fontes: Itaú, BB, Bradesco, Caixa e Santander
O maior resultado do trimestre foi o do BB, que com lucro de R$ 8,4 bilhões, bateu recorde pelo sexto trimestre seguido. O banco público sustentou resultados acima dos pares graças à carteira de crédito de menor risco, com uma predominância do crédito para o agronegócio e para grandes empresas, que "diluem" os atrasos de pessoas físicas.
"Não tem mágica. O nosso modelo de crédito é mais conservador", disse o presidente da in
stituição, Fausto Ribeiro, em coletiva deimprensa nesta quinta-feira. O BB continua aumentando a exposição a linhas de crédito mais arriscadas, mas diante da piora da inadimplência em pessoas físicas, passou a ser mais seletivo nas concessões.
Os números do BB foram divulgados logo após os do Bradesco, que surpreendeu negativamente o mercado com o ritmo de deterioração da qualidade dos ativos. Mais exposto a pessoas físicas de menor renda que os concorrentes listados, o banco teve o maior índice de atrasos em 90 dias, de 3,9%, e teve de separar R$ 7,267 bilhões para o colchão contra calotes, o que incluiu uma provisão extra de R$ 1 bilhão.
"A inadimplência tem nome e sobrenome: está na pessoa física em cartão de crédito e em
crédito pessoal", disse o presidente do banc, Octavio de Lazari Junior. O único dos cinco bancos que divulga a inadimplência por produto é o BB, e o número dá uma amostra da piora do produto - passou de 4,1% no ano passado para 10,3% neste ano.
Cenário complexo
O pano de fundo da piora do crédito para pessoas físicas é o aperto na renda disponível dos brasileiros, diante da escalada dos juros e da persistência da inflação em patamares altos. Hoje, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o IPCA de outubro subiu 0,59%, após três meses de deflação. O índice acumulado em 12 meses foi de 6,47%, acima da mediada das previsões de mercado.
Este cenário atinge em cheio algumas das maiores apostas dos bancos após a reabertura da economia, no ano passado. Com a volta do consumidor às ruas, as instituições aumentaram as concessões em linhas de crédito voltadas ao consumo, o cartão de crédito entre elas. A inflação persistente, porém, passou a comprimir a renda que não era consumida por gastos essenciais, o que explica o aumento dos calotes.
Para os bancos, a solução foi fechar a torneira das concessões. O Santander, que tomou essa decisão antes dos pares, acredita que a volta a patamares mais elevados só deve acontecer à medida que os juros caírem. "Em algum momento em 2023, nossa plataforma de financiamento ao consumidor acelerará", disse o presidente do banco, Mario Leão.
Lazari, do Bradesco, tem estimativa parecida. Segundo ele, o resultado do banco deve se manter fraco nos próximos trimestres, e uma reversão provavelmente será vista no segundo semestre do ano que vem. Ainda assim, a instituição não pretende mudar o foco de atuação. "Nos momentos cíclicos da economia, com juros e inflação baixos, nós capturamos resultado e valor por termos essa base de clientes."
Projeções revisadas
As mudanças no cenário levaram o Bradesco e o BB a revisarem suas projeções para o ano, mas em sentidos opostos. O banco da Cidade de Deus aumentou a expectativa para os gastos com provisões, com o teto passando de R$ 21 bilhões este ano para R$ 27,5 bilhões. Nos nove primeiros meses do ano, a despesa superou o piso da projeção anterior, que era de R$ 17 bilhões.
"Assumindo o ponto médio da nova projeção e as provisões nos nove primeiros meses do ano, de R$ 17,4 bilhões, estamos falando sobre um custo de crédito de R$ 9,1 bilhões no quarto trimestre", estimou o analista Eduardo Rosman, do BTG Pactual.
O BB, por outro lado, elevou a estimativa para o lucro deste ano, e agora espera chegar a até R$ 32,5 bilhões. "O ponto médio do novo guidance implica um lucro de R$ 8,7 bilhões no quarto trimestre, e a estimativa para o ano fica 6,4% acima da nossa projeção", afirmou Gustavo Schroden, do Bradesco BBI.
Entre os cinco maiores bancos do País, somente BB, Bradesco e Itaú divulgam projeções. O Itaú não mudou suas estimativas - o que tende a ser bem visto pelo mercado após um trimestre desafiador.
Contato: matheus.piovesana@estadao.com