Economia & Mercados
10/10/2022 15:40

Especial: Opep+ coloca alta da gasolina no radar, com impacto potencial de até 0,5pp no IPCA


Por Cícero Cotrim e Marianna Gualter

São Paulo, 10/10/2022 - O corte na produção de petróleo anunciado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) na última quarta-feira, 5, colocou no radar do mercado o risco de um aumento dos preços da gasolina pela Petrobras. Para economistas ouvidos pelo Broadcast, a diferença entre os preços domésticos e internacionais do combustível já mostra espaço para uma alta próxima de 10% nas refinarias, com um impacto potencial de até 0,50 ponto porcentual sobre a inflação de 2022.

Na semana passada, o contrato futuro do petróleo Brent para dezembro teve valorização de 15,01% na Intercontinental Exchange (ICE), a US$ 97,92 o barril, enquanto o futuro do WTI para novembro avançou 16,64% New York Mercantile Exchange (Nymex), a US$ 92,64. Cálculos publicados hoje, 10, pela Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) mostram que os preços domésticos da gasolina estão cerca de 10% abaixo da paridade internacional e os do diesel, em torno de 13% menores.

"Se os preços ficarem nesse patamar atual, provavelmente será necessário um ajuste para cima, mas há tantas variáveis no meio que pode ser que o preço do petróleo não se sustente ou que tenhamos alguma mudança no câmbio com o resultado da eleição", diz o economista da Garde Asset Luis Menon. O cenário da gestora indica alta de 5,40% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2022, sem considerar um novo ajuste dos preços dos combustíveis.

Segundo o analista, a manutenção da defasagem nos níveis atuais abriria espaço para um reajuste positivo de cerca de 10% nos preços da gasolina e de 18% nos preços do diesel nas refinarias, com um impacto potencial de 0,45 ponto porcentual sobre a inflação deste ano. Menon ressalva, no entanto, que um reajuste até o segundo turno da eleição presidencial, no próximo dia 30, é "praticamente impossível", a não ser que os preços disparem no mercado internacional.

O economista afirma, no entanto, que embora a prática de segurar um reajuste não seja "o mais correto do ponto de vista de governança da empresa", também não representaria um quadro grave para a Petrobras, que respeitou a paridade de preços ao longo do ano. "Não houve nenhum momento em que ela cortou o preço sem ter espaço no mercado internacional. Vimos por um instante uma expectativa de algum corte influenciado por esse contexto eleitoral e ele não veio", pondera.

O economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, calcula que os preços domésticos da gasolina estão de 5% a 10% abaixo dos praticados no mercado internacional, a depender da metodologia de comparação. Com base nos últimos reajustes concedidos pela Petrobras, o analista afirma que o mais provável é um aumento entre 5% e 7% dos preços do combustível nas refinarias, que adicionaria entre 0,10 e 0,15 ponto porcentual sobre a projeção de IPCA do ano, atualmente em 5,50%.

Para Serrano, o mais provável é que um eventual reajuste dos preços de combustíveis só ocorra a partir de novembro, embora haja razões técnicas que possam embasar uma postergação dos reajustes. "Eventualmente, os preços podem cair ao longo da semana que vem, então seria uma decisão técnica e não política. A gente já viu a Petrobras segurar reajustes recentemente, em momentos de forte volatilidade dos preços", comenta o analista, lembrando que a petroleira também leva em conta fatores como o estoque de combustíveis.

O economista sênior do Banco ABC Brasil Adriano Valladão calcula que a correção da defasagem atual dos combustíveis poderia adicionar entre 0,43 e 0,50 ponto porcentual ao IPCA de 2022, estimado pela instituição em 5,46%, com impacto de 0,40 a 0,45 ponto da gasolina e de 0,03 a 0,05 ponto do diesel. O cenário-base do banco não considera reajustes, devido a fatores que podem compensar a alta dos preços no mercado internacional.

"Estamos com preço flat dos combustíveis", diz Valladão. "No momento, temos esse corte [na produção] da Opep e uma tensão nas refinarias na França que afetam os derivados de petróleo como um todo, mas os Estados Unidos também já deram indicações de que vão usar os estoques de petróleo, o que pode dar uma contrabalançada."
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