Economia & Mercados
28/07/2020 18:00

Entrevista/Eurogrupo/Donohoe: atuarei como construtor de pontes para evitar fragmentação da UE


Por André Marinho

São Paulo, 28/07/2020 - É em meio à mais grave crise econômica e sanitária da história da União Europeia que o irlandês Paschal Donohoe assume a presidência do Eurogrupo, que reúne os 19 ministros de Finanças da zona do euro. Nomeado no início deste mês, após um processo eleitoral que dividiu os países do norte e do sul, ele inicia um mandato de dois anos e meio como sucessor do português Mário Centeno, que renunciou ao cargo.

Ciente dos desafios que o esperam, Donohoe cita a recuperação "inclusiva e sustentável" como prioridade de sua gestão, em entrevista exclusiva ao Broadcast. Para isso, o político diz que pretende atuar como "construtor de pontes" para evitar que o projeto de integração europeia seja ameaçado pela fragmentação.

O pacote de 750 bilhões de euros aprovados pelos líderes da UE, com 390 bilhões compostos por subsídios diretos, é um passo importante nesse sentido, indicando que ainda há disposição política para medidas coordenadas em Bruxelas, diz o ministro. Mas ele sabe que mais terá que ser feito: "Uma agenda substancial e desafiadora está à frente para o Eurogrupo", destaca. Confira os principais trechos da entrevista:

Broadcast: qual o principal objetivo de sua gestão à frente do Eurogrupo?

Donohoe:Inicio meu mandato em um período desafiador para a economia da zona do euro. Uma grande prioridade será construir uma recuperação inclusiva e sustentável, que apoie crescimento econômico e criação de empregos em todos os Estados membros. Minha intenção é de que o Eurogrupo atue de forma conjunta e decisiva para garantir uma retomada econômica bem-sucedida. Uma agenda substancial e desafiadora está à frente para o Eurogrupo, uma que possa minimizar a fragmentação e garantir recuperação bem-sucedida dos efeitos econômicos e sociais desta crise.

Broadcast: qual é sua visão a respeito do fundo de recuperação aprovado por líderes da UE?
Donohoe:Os líderes chegaram a um acordo sobre o próximo orçamento plurianual e o fundo de recuperação "Próxima Geração da UE" na terça-feira da semana passada. Saúdo esse acordo no valor de 1,82 trilhão de euros, que inclui um pacote de recuperação de 750 bilhões de euros. Esta é uma resposta sem precedentes da UE ao impacto da crise da covid-19 e representa um bom negócio para a Europa. A iniciativa é justa, equilibrada e demonstra que a Europa pode trabalhar coletivamente para lidar com esta crise. O trabalho do Eurogrupo tem como objetivo apoiar os líderes na abordagem desses assuntos.

Broadcast: Qual é sua posição sobre a possibilidade de a UE emitir títulos de dívida conjuntas para financiar a recuperação?

Donohoe:No início desta crise, a ideia de a UE emitir títulos conjuntos para financiar a recuperação foi considerada. O acordo recentemente alcançado pelos líderes sobre o instrumento de recuperação prevê que a Comissão Europeia levante fundos nos mercados internacionais e conceda empréstimos e doações aos Estados membros.

Broadcast: Por que é importante que haja uma resposta a nível europeu, além das nacionais?

Donohoe:À medida que empreendemos trabalhos relacionados à recuperação, será importante que a recuperação seja justa, equilibrada e evite a fragmentação entre os Estados membros. Embora a pandemia tenha atingido todos os países, existe uma assimetria na capacidade deles de responder a essa imprevisível crise econômica e social. Por isso, está clara a importância da coordenação na resposta da política da zona do euro do euro, uma vez que a alternativa seria uma recuperação incompleta ou desigual que impactaria as perspectivas econômicas de todos os membros do mercado único. Concordo que os estados membros são os principais responsáveis pela gestão das suas próprias economias. No entanto, neste caso, é necessário colocar o interesse comum da zona do euro do euro em primeiro lugar, dada a escala da crise. Isso nos ajudará a traçar um caminho para uma recuperação sustentável e inclusiva.

Broadcast: Qual é o papel do Eurogrupo nesse processo?

Donohoe:Desde o início da pandemia, o Eurogrupo trabalhou em conjunto para acertar medidas de emergência para combater a crise. Refiro-me, em particular, às três redes de segurança acordadas pelo Eurogrupo e endossadas pelos líderes em abril. Essas três medidas-chave, uma para trabalhadores (o instrumento SURE), uma para empresas e negócios (Fundo pan-europeu de garantia do Banco de Investimento Europeu) e uma para países (um instrumento de apoio à crise do Mecanismo de Estabilidade Europeu) representam uma resposta fiscal substancial da UE de mais de meio trilhão de euros. No contexto de maior incerteza em torno da pandemia, uma resposta coordenada desse tipo foi bem-vinda. Desde então, os líderes concordaram ainda com o pacote sobre o orçamento plurianual e o instrumento de recuperação, totalizando 1,82 trilhão de euros.

Broadcast: como o senhor pretende lidar com as divergências advindas do processo de eleição para a presidência do grupo?

Donohoe:Fui eleito por unanimidade como presidente do Eurogrupo após votação entre meus colegas da zona do euro. É uma honra e privilégio que meus colegas ministros das Finanças tenham me escolhido para liderar o Eurogrupo. Temos muitos problemas em comum e muito trabalho a fazer para garantir uma recuperação sustentável e inclusiva nos próximos anos. Na qualidade de presidente do Eurogrupo, atuarei como construtor de pontes entre o norte e o sul, leste e oeste, dentro e fora da zona do euro e entre Estados membros maiores e menores, para criar confiança entre nós e continuar a abordar as questões que enfrentamos agora e para termos uma zona do euro mais forte e melhor, que pode ajudar a proporcionar o crescimento econômico e o nível de emprego necessários.

Contato: andre.marinho@estadao.com
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