Economia & Mercados
05/10/2020 09:40

Aproximação tecnológica entre Brasil e Israel é aposta de entidade empresarial


Por Cristian Favaro

São Paulo, 05/10/2020 - Um grupo de empresários, sob o guarda-chuva da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria, tem ampliado esforços para promover um intercâmbio tecnológico entre os dois países. A equipe conseguiu fechar dois novos investimentos na Kaiima Seeds, de melhoramento genético de sementes, e na Cnoga, com atuação na saúde. A meta é conseguir ajudar grupos brasileiros a se instalar também em Israel, considerado um polo em inovação no mundo.

Um dos novos negócios envolveu a então israelense Kaiima Seeds, com forte atuação em mamona, cujo óleo tem ampla utilização na indústria. A empresa já operava no Brasil há três anos, mas a entrada de novos sócios trouxe a sede do grupo para o Brasil. É a estrutura daqui que ficará responsável pela distribuição dos produtos para países como Estados Unidos e México. O foco é trazer também todo o setor de pesquisa para Uberlândia (MG) até janeiro de 2021.

O gerente-geral da Kaiima Seeds no Brasil, Alexandre Dezanet, explicou que o foco da empresa é se transformar em uma espécie de "trading" de mamona. Com isso, eles venderiam a semente e já comprariam antecipadamente a colheita do agricultor.

"No Brasil, a cultura é bastante nova e se planta hoje em torno de 60 a 70 mil hectares de lavouras comerciais de mamona. A Índia é o maior produtor e tem 1,4 milhão de hectares", explicou. A meta é conseguir alcançar área plantada com sementes produzidas pelo grupo de 100 mil hectares em três anos. "Nos próximos cinco a sete anos a gente quer um tamanho de mercado muito parecido com o que tem na Índia", disse.

Hoje, o país tem cerca de 33 milhões de hectares plantados de soja. A mamona, explicou, pode ser usada na safrinha como uma opção ao milho por se tratar de uma cultura que precisa de menos água. "Perto dessa área total, o setor ter 1 milhão de hectares de mamona é nada", disse, destacando investimentos projetados na casa dos R$ 100 milhões nos próximos cinco anos. Os grandes consumidores do óleo de mamona hoje são China, França e Estados Unidos.

Outro novo negócio envolveu a israelense Cnoga, cuja operação na América Latina foi adquirida por investidores brasileiros. A empresa desenvolve tecnologias para exames médicos rápidos e sem a necessidade de coletas de sangue. No Brasil desde 2015, a empresa começou a crescer rapidamente no último ano após conseguir inserir testes rápidos de hemoglobina para a triagem de doadores em bancos de sangue.

"Em 2019, a gente cresceu cerca de 200% em número de exames", disse o diretor operacional da Cnoga no Brasil e América do Sul, Luis Salvador Neto. "Hoje fazemos aproximadamente 200 mil exames por mês nos bancos de sangue", acrescentou. A maior janela de oportunidade, explica, está nas regiões mais remotas do País e distantes dos laboratórios, como comunidades ribeirinhas e o Amazonas.

O investidor por trás desses dois projetos é Jack Magid, empresário do segmento de relógios. "A melhor área que existe para esse intercâmbio é a agricultura, que o Brasil é destaque na produção e Israel lidera em tecnologia", disse. Os dois projetos somaram aportes na ordem de US$ 4 milhões feitos por Magid e um grupo de investidores locais.

O advogado Renato Ochman, que assumiu a presidência da Câmara Brasil-Israel em junho, destacou que a nova diretoria definiu como meta concretizar no mínimo 20 projetos em dois anos. Em 2019, o número de negócios entre os países foi de US$ 1,5 bilhão.

"Os negócios entre Brasil e Israel nunca a foram muito desenvolvidos, sobretudo na área tecnológica", disse. A pandemia se mostrou um desafio, mas as reuniões continuaram de forma online para prospectar oportunidades. Há um movimento também para levar empresas brasileiras para Israel, com a intenção de aproximá-las ao polo tecnológico daquele país.

A relação entre Brasil e Israel tem sido marcada por algumas polêmicas por causa do plano do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, de transferir a embaixada de Tel-Aviv para Jerusalém, seguindo os passos do presidente norte-americano Donald Trump. Jerusalém é alvo de disputa entre Israel e a Palestina e ao transferir a representação brasileira para a cidade o presidente poderia entrar em uma situação delicada. Ochman foi questionado sobre o tema, mas se limitou a dizer que não caberia a ele avaliar a questão. "Os negócios estão acontecendo", ponderou.

Contato: cristian.favaro@estadao.com
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