Economia & Mercados
16/08/2023 11:29

Especial: Demanda por NTN-F segue robusta com possível reforço da atuação de players locais


Por Denise Abarca

São Paulo, 16/08/2023 - A demanda pelas Notas do Tesouro Nacional - Série F (NTN-F) tem se mantido forte nas últimas semanas, contrariando as expectativas de que as férias de verão no Hemisfério Norte, o recesso do Congresso, na segunda quinzena de julho, e o período de hiato dos dealers, nos dez primeiros dias de agosto, afetariam o fluxo. Os lotes semanais disponibilizados nos leilões do Tesouro se sustentaram acima de 2 milhões desde a segunda semana de julho, volume acima da média histórica padrão para o papel, o preferido dos investidores não residentes.

Profissionais consultados pelo Broadcast tentam entender esse fenômeno e a explicação mais plausível é que a demanda tem sido amparada pelo apetite de players locais que tentam buscar prêmios ainda interessantes na ponta longa da curva, mas que tendem a ficar mais magros dado o otimismo com os fundamentos econômicos, em especial, o avanço na pauta de reformas.

"A curva ainda tem prêmio e o mercado local busca se antecipar a uma nova 'pernada', pois ainda não está clara a velocidade com que a Selic chegará a seu nível terminal", afirma Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez, que é uma das instituições dealers do Tesouro. Na sua visão, o movimento não parece vir tanto dos fundos, mas sim de tesourarias. "Os fundos normalmente preferem LTN ante as NTN-F, mas os bancos conseguem, sim, apostar na NTN-F", avalia.

Na mesma linha, o estrategista de renda fixa da Necton Investimentos Fernando Ferez também credita aos investidores locais a pujança dos lotes. "Com a expectativa de que o Banco Central pode acelerar o ritmo de cortes da Selic, o fluxo de locais está se adiantando", afirma.

Na quinta-feira pós-Copom (3), quando ainda começava o período do hiato dos dealers (1º a 10 de agosto), o Tesouro conseguiu vender 1,709 milhão de títulos, ou quase toda a oferta de 2 milhões, com o mercado provavelmente vendo uma "porta aberta" no comunicado para aceleração de ritmo de cortes da Selic para 0,75 ponto porcentual. Na quinta-feira passada (10), houve demanda integral pelas 3 milhões de NTN-F ofertadas, com os investidores aparentemente se antecipando a um IPCA de julho (0,12%), que veio no teto das estimativas mas com leitura positiva na abertura, em especial núcleos e preços de serviços.

Os especialistas, contudo, afirmam ser cedo para definir se há uma alteração em curso no perfil dos detentores do papel. "Essa provável atuação maior dos locais não quer dizer necessariamente uma mudança. Acredito que o papel, estruturalmente, ainda deve ficar mais nas mãos dos gringos", diz Ferez.

Cassio Andrade Xavier, gestor de renda fixa da Sicredi Asset, também vê os estrangeiros ainda como protagonistas nas NTN-F e podem até estar expandindo sua atuação. "Na LTN julho de 2027 também me parece ter demanda de gringos", afirmou, acrescentando que o mercado parece já estar se movimentando em torno do vencimento das Letras Financeiras do Tesouro (LFT) no próximo dia 1º de setembro.

Caminho inverso

Um mapeamento da atuação dos investidores deve ficar mais claro somente na divulgação do Relatório Mensal da Dívida (RMD) de julho, quando também haverá entrevistas dos representantes do Tesouro, no fim de agosto. Em junho, a participação dos não-residentes no estoque das NTN-F era de 51,80%, o menor nível do ano. Ainda assim, o dobro da fatia das instituições financeiras, que em junho era de 24,97%, o pico de 2023, por sua vez. Cabe destacar que a evolução destes players nos últimos meses faz o caminho inverso. Enquanto a fatia dos estrangeiros vem caindo desde março (55,05%), a dos bancos vem subindo desde fevereiro, quando era de 22,22%.

O apetite pelos prefixados mais longos da dívida pública tem como suporte a perspectiva otimista com a economia nos próximos meses, sem grandes riscos de cauda no horizonte de médio prazo, ao menos internamente, com as reformas encaminhadas ao Congresso. "Estamos construtivos com a agenda econômica", disse Leal, da BGC Liquidez. "O ajuste fiscal não deve vir via controle de gastos, mas o governo tem uma boa estratégia, por exemplo, de mostrar para a sociedade os custos das exceções na reforma tributária. Mostra transparência", complementou, referindo-se ao estudo divulgado pela pasta a respeito do IVA proposto na reforma tributária e o custo das exceções à cobrança do tributo.

Riscos

Por outro lado, um revés no ambiente internacional pode colocar os investidores na retranca e estancar o momento positivo, que tem sido importante para o alongamento da dívida e também para fomentar a liquidez na curva dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI)

"O principal risco é externo. O mercado está às cegas", afirma Leal, sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) e sobre a economia americana. "Ainda temos mais dados de inflação nos Estados Unidos antes da reunião do Fed e se o mercado de trabalho ainda estiver resiliente, as taxas podem voltar a subir. E o risco de termos taxas altas para financiar a dívida americana pode pesar por aqui".

Fernando Ferez acrescenta ainda o "risco petróleo". "Tem um peso grande na inflação, ainda que não se espere repasse integral da defasagem", observa. Dada a grande diferença entre preços internos e as cotações internacionais, há expectativa de um reajuste iminente na gasolina e no diesel. A depender do nível de aumento, pode afetar as expectativas de inflação e, consequentemente, as apostas na velocidade do ajuste da política monetária, completa.

Contato: denise.abarca@estadao.com
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