Política
12/10/2018 16:15

Meirelles: Podem me imitar à vontade, não vou cobrar direito autoral


Brasília, 12/10/2018 - Henrique Meirelles (MDB) disse que ficará "independente" no segundo turno da campanha entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Candidato derrotado à Presidência, ele abriu um sorriso, no entanto, quando soube que seu slogan "Chama o Meirelles" já foi transformado em "Chama o Bolsonaro".

"Podem me imitar à vontade", afirmou o ex-ministro da Fazenda. "Não vou cobrar direito autoral." Apesar de ter obtido apenas 1,20% dos votos, ficando em sétimo lugar na disputa, Meirelles garante que não se arrepende de nada. "Talvez a verdade não tenha ganho voto", argumentou.

Seu plano, agora, é montar um canal digital, onde divulgará propostas para o País. O ex-comandante da economia será uma espécie de "youtuber". Questionado se participaria de um governo Bolsonaro ou Haddad, preferiu não dar pistas. "Decisão não é como peru que morre na véspera", brincou. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Broadcast: Quem o sr. vai apoiar no segundo turno da eleição presidencial? Henrique Meirelles: A minha posição é de independência e de avaliação sobre o que os candidatos de fato pretendem fazer.

Broadcast: Com qual programa econômico o sr. se identifica mais? Meirelles: Depende de saber qual é. O programa do Haddad é o que está no plano de governo do PT ou o que foi o Lula no primeiro mandato? Se for o Lula 1, foi um bom governo do ponto de vista econômico. Se for o da Dilma, é péssimo, um desastre. Do lado do Bolsonaro, se for o que está dito pelos economistas liberais, é um bom plano. Agora, se for produto mais direto do que o candidato tem dito, algumas vezes com conteúdo estatizante, aí é mais questionável.

Broadcast: Isso quer dizer que, dependendo do programa mais detalhado, o sr. pode ir para um lado ou outro? Meirelles: Como estamos em pleno curso da campanha do segundo turno, considero mais provável que isso só fique claro depois das eleições.

Broadcast: O publicitário Elsinho Mouco, que é marqueteiro do presidente Michel Temer, mas também colaborou com sua campanha, lançou agora o slogan "Chama o Bolsonaro". Como o sr. viu isso? Meirelles: Ótimo. Podem me imitar à vontade. Fico honrado.

Broadcast: O sr. descarta ser ministro novamente? Meirelles: Decisão não é como peru que morre na véspera. Eu tomo decisões concretas. Dependendo de quem for eleito, se esse alguém me convidar para alguma coisa, vou analisar qual é o programa e a proposta. Em princípio, eu não tenho planos para isso.

Broadcast: Haddad disse que, se for eleito, não terá um banqueiro no governo. Meirelles: É o embate político dele com Bolsonaro, por causa do Paulo Guedes (guru econômico do candidato do PSL).

Broadcast: Mas o sr. também é visto como um banqueiro... Meirelles: Sou visto, mas desafortunadamente não fui. (risos)

Broadcast: O sr. parece ter gostado da política, quer disputar outra eleição? Meirelles: No momento, não tenho esses planos. A minha primeira medida concreta será a criação de um canal digital no qual vamos veicular conteúdos, com uma série de especialistas de diversas áreas para falar com todo esse público. Nas pesquisas que fiz, saí com boa imagem da eleição. Isso, de fato, me dá uma possibilidade muito grande de influenciar o debate.

Broadcast: E o que faltou para o voto? Meirelles: Nós vivemos um momento muito peculiar da política brasileira, em que houve uma polarização muito grande. De um lado o PT e, de outro, o anti-PT. Houve um movimento de grande preocupação com segurança e aumento do sentimento de indignação. Houve um tsunami em direção aos extremos. Na minha campanha, eu disse com clareza: "Posso perder o seu voto, mas espero ganhar o seu respeito". Isso eu consegui. Agora, talvez a verdade não tenha ganho voto. Cada povo é dono do seu destino.

Broadcast: Foi a Lava Jato que influenciou esse quadro? Meirelles: Várias coisas influenciaram. Em primeiro lugar, a renda per capita, durante essa crise, caiu 9%. É brutal isso. Ao mesmo tempo, tivemos inflação alta, o que gerou um sentimento muito grande de revolta. Depois, tivemos todos esses episódios de denúncias... Então, a eleição foi muito impulsionada pela indignação. Eu fiz até uma peça de propaganda, mostrando um motorista de ônibus dirigindo com venda nos olhos. Dizia o seguinte: "Não vote cego pela indignação, use a indignação para votar certo".

Broadcast: O povo votou cego? Meirelles: Não sei. Cada um vai julgar se estava cego ou se estava vendo tudo. Eu não sou oráculo (risos).

Broadcast: O sr. foi abandonado pelo MDB na campanha? Meirelles: Eu não me senti abandonado. Tive apoio muito grande das principais lideranças regionais. Agora, todos os grandes partidos estão em processo de grande desgaste.

Broadcast: A impopularidade do presidente Michel Temer o prejudicou? Meirelles: É difícil medir isso. Ele recebeu a maior recessão da história e pagou um preço grande.

Broadcast: Os candidatos têm como cumprir o que estão prometendo, como a capitalização da Previdência, com um custo muito elevado, e o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física? Meirelles: Não há dúvida de que o regime de capitalização cria um problema. É muito bom quando já existe uma capitalização que pague o custo dos já aposentados. O maior problema de fazer isso no Brasil é o grande déficit dos já aposentados. Se todos os que vão contribuir para o futuro deixam de pagar o custo dos aposentados que não têm a capitalização, esse recurso vai sair de onde? Aumento da dívida? A Lei da Responsabilidade Fiscal obriga a definir fonte de recursos.

Broadcast: Qual a primeira medida que o futuro presidente deve tomar na área econômica? Meirelles: A primeira coisa a ser feita é promover o equilíbrio fiscal. É insustentável a presente situação. Precisamos ter um programa de eliminação do déficit primário num espaço de tempo realista, de três anos. E o equilíbrio fiscal passa pela reforma da Previdência. Não adianta tentar fazer mágica. São duas reformas fundamentais, a da Previdência e a tributária. Esse é o maior desafio. Depois, há toda aquela série de medidas para aumentar a produtividade da economia. Segurança, educação, saúde vêm como consequência. Todo mundo está prometendo tudo: combater bandido, crescer, perdoar dívida... Mas é preciso ver de onde vem o recurso.

Broadcast: O sr. se arrepende de ter gasto tanto dinheiro da sua poupança (foram R$ 53,2 milhões) na campanha? O sr. foi até criticado por isso, depois que ficou atrás do Cabo Daciolo... Meirelles: Criticar alguém de usar o próprio recurso é no mínimo extravagante. Por acaso, usar o recurso do governo ou do povo é bom? Não me arrependo de nada. Eu recebo avaliações de diversas pesquisas mostrando que minha mensagem foi ouvida. Tanto que isso pode até influenciar o governo. Essa questão fiscal, por exemplo, não era parte do debate. Hoje é, assim como são a qualidade do serviço público e a ética. Eu fui um candidato ficha limpa.
(Vera Rosa e Adriana Fernandes)
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast Político e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso