Política
23/09/2022 11:03

Eleições 2022/Bastidores: Por 'voto por empatia', Bolsonaro pressiona PF a retomar caso Adélio


Por Débora Álvares

Brasília, 23/09/2022 - Integrantes do governo têm pressionado a Polícia Federal a desencadear alguma ação em torno da facada sofrida pelo presidente Jair Bolsonaro em 2018 para retornar o assunto ao noticiário. Descrito por aliados como "em desespero" nesta reta final, o chefe do Executivo aposta todas as fichas e visa o "voto por empatia".

Fontes do governo ouvidas pelo Broadcast Político disseram que as investidas se intensificaram após o 7 de setembro, quando as pesquisas de opinião passaram a mostrar uma estagnação do presidente. No Datafolha divulgado ontem à noite, Bolsonaro manteve os mesmos 33% da semana passada, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu 2%, passando a 47% e abrindo 14% de vantagem. Os trackings internos da campanha têm seguido a mesma tendência, conforme os relatos.

O presidente foi atingido no abdômen por um golpe de faca desferido por Adélio Bispo em 6 de setembro de 2018. O episódio é considerado por analistas como o ponto chave daquela campanha. Existe um consenso de que a facada mobilizou um movimento de solidariedade nacional e ajudou Bolsonaro a conquistar os 46% de votos que o levaram ao segundo turno contra Fernando Haddad (PT), que obteve quase 30% na ocasião.

Desde o primeiro momento, o mandatário e aliados tentaram vincular o atentado à esquerda. Em dois inquéritos, contudo, a PF não viu nenhuma relação partidária e concluiu que Adélio atuou sozinho. Uma terceira investigação ocorre em sigilo na Diretoria de Inteligência Policial.

O fato é que Bolsonaro nunca se conformou, relataram fontes do governo ao Broadcast Político, que destacaram ainda pedidos diretos do presidente ao ministro da Justiça, Anderson Torres, para que "se encontre alguma coisa". "Ele quer pautar o caso novamente", disse uma pessoa que presenciou mais de uma conversa em que o assunto foi abordado.

Semana passada, ao participar de uma entrevista a um podcast jovens cristãos, o presidente reavivou o tema, chegando a dizer que Adélio o seguia e que também planejava matar seu filho Carlos.

Procurado pela Broadcast Político, o Palácio do Planalto não se manifestou até a publicação desta reportagem. A Polícia Federal também não respondeu oficialmente aos pedidos de posicionamento.

Nos bastidores, o clima na PF é de enorme incômodo. Fontes que falaram à reportagem em condição de anonimato confirmaram a chegada de pedidos "em tom de ordens" e "pressões" via Palácio do Planalto e também partindo do Ministério da Justiça.

A PF teme que desencadear uma operação neste sentido às vésperas da eleição "comprometa a imagem" da corporação, que alguns consideram já ter sido "arranhada" durante o governo Bolsonaro.

O chefe do Executivo já é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente intervir na Polícia Federal. O inquérito, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes, foi aberto após o ex-ministro da Justiça Sergio Moro acusá-lo de querer interferir pessoalmente nas indicações da corporação.

Após a demissão de Moro, em abril de 2020, veio à tona um vídeo de uma reunião ministerial ocorrida dias antes, na qual o mandatário fala claramente em "interferir". "E me desculpe o serviço de informação nosso - todos - é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá pra trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade", disse em determinado momento.

Em outro ponto do encontro, Bolsonaro reclamou de não conseguir trocar "gente da segurança do Rio", dando a entender que se referia à Superintendência da PF no Estado. "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro e oficialmente não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe. Troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira."

Esta semana, a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, pediu o arquivamento do inquérito ao STF, alegando não haver provas de que o presidente tivesse interesse de beneficiar a si ou familiares. Moraes ainda não se manifestou.

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