Por Bruno Ribeiro e Ciro Campos
São Paulo, 05/01/2021 - A Prefeitura de São Paulo pagará R$ 100 milhões para realizar o Grande Prêmio (GP) de Fórmula 1 em Interlagos pelos próximos cinco anos. De acordo com o Diário Oficial do Município (DOM) desta terça-feira (5), o acordo assinado no dia 23 e válido até 2025 com a empresa MC Brazil Motorsport Holding Ltda. tem como objetivo a "contratação de empresa para realização do Grande Prêmio São Paulo de Fórmula 1".
Nos anos anteriores, a Prefeitura não pagava diretamente para a realização da Fórmula 1. Os recursos públicos eram investidos para melhoria da pista do Autódromo de Interlagos José Carlos Pace (que é da Prefeitura paulistana), mas não para os organizadores do evento. Quando anunciou a permanência da prova na cidade, no dia 16, a gestão Bruno Covas (PSDB) não informou que recursos seriam repassados aos organizadores.
São Paulo renovou o contrato com a F-1 após vencer uma disputa com o Rio, que pretende construir um autódromo na região de Deodoro, zona oeste da capital fluminense. O grande entrave de toda a negociação que envolvem os dois municípios foi o pagamento da taxa de promoção, cobrada pela F-1 para cada um dos promotores que realizam provas.
Nas edições de 2017, 2018 e 2019, por exemplo, o GP do Brasil era o único ao lado de Mônaco a não pagar a taxa (veja lista abaixo) por causa de um acordo feito com o então chefe da F-1, o empresário Bernie Ecclestone. Depois que o grupo Liberty Media assumiu o controle da categoria, a empresa procurou fazer da etapa brasileira um evento mais lucrativo e vantajoso.
A Secretaria Municipal de Turismo já fez dois repasses, em dezembro, que totalizaram R$ 17,7 milhões, diretamente para a Formula One World Championship, de acordo com o Diário Oficial desta terça-feira. A transferência foi descrita como para a "aquisição dos direitos, pelo município de São Paulo, para a realização do evento denominado Grande Prêmio de São Paulo". O Estadão/Broadcast Político pediu esclarecimentos à gestão Bruno Covas, mas não teve resposta até a publicação dessa reportagem.
Os pagamentos realizados em dezembro foram definidos na véspera de Natal, quando Covas autorizou a emissão de duas notas de empenho em favor da Formula One World Championship para despesas relativas à retenção do Imposto de Renda (IR) e demais taxas envolvidas no processo descrito como contratação para realização do GP.
Em anos anteriores, a verba pública investida na prova era destinada à reforma, manutenção e aparatos de segurança do autódromo. A ponte entre a gestão municipal e a F-1 era feita por um promotor privado. Esse cargo cabia à Interpub, a responsável por se encarregar de negociar taxas de promoção, venda de ingressos, operações de camarotes, entre outros. Agora, o promotor do evento é a MC Brazil Motorsport Holdings, empresa controlada pela Mubadala, grupo de investimentos ligado ao governo de Abu Dhabi.
Procurado pela reportagem, o Poder Executivo municipal ainda não retornou os questionamentos da reportagem. A empresa responsável pela organização do evento, a MC Brazil Motorsport Holding Ltda., tem como diretor Alan Adler, nomeado o novo promotor da prova. Também procurado pelo Estadão/Broadcast Político, Adler, por enquanto, não respondeu.
QUANTO CADA ETAPA PAGAVA DE TAXA DE PROMOÇÃO (TEMPORADA DE 2018)
Austrália - R$ 205 milhões
Bahrein - R$ 279 milhões
China - R$ 159
Espanha - R$ 117 milhões
Mônaco - Nada (dispensado por razões comerciais)
Canadá - R$ 95 milhões
França - R$ 106 milhões
Áustria - R$ 96 milhões
Grã-Bretanha - R$ 117 milhões
Alemanha - R$ 117 milhões
Hungria - R$ 139 milhões
Bélgica - R$ 99 milhões
Itália - R$ 138 milhões
Singapura - R$ 271 milhões
Rússia - R$ 258 milhões
Japão - R$ 161 milhões
Estados Unidos - R$ 109 milhões
México - R$ 180 milhões
Brasil - Nada
Abu Dhabi - R$ 410 milhões