Por Guilherme Bianchini
São Paulo, 26/06/2022 - O gerente-geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), Agustín Carstens, afirmou que o cenário mais provável para a maioria das jurisdições é de inflação substancialmente acima das metas por algum tempo. Segundo Carstens, a trajetória da inflação é a preocupação mais urgente para os bancos centrais.
“Os fatores que elevaram a inflação ainda estão em ação: a repercussão dos preços mais altos das commodities, a forte demanda por bens e a tensão relacionada nas cadeias de suprimentos, sanções e gargalos nos principais insumos, crescimento robusto em muitas economias avançadas apoiado por taxas de juros reais ainda negativas e mercados de trabalho muito apertados”, explicou o gerente-geral durante a Assembleia Geral Anual da entidade, em Basileia, na Suíça, neste domingo.
Carstens chama a atenção para a perspectiva de salários maiores no mercado de trabalho, com trabalhadores visando recuperar o poder de compra perdido. O movimento deve manter a inflação elevada por mais tempo, e os salários já estão em trajetória ascendente em alguns países.
“Para evitar o enraizamento da inflação elevada, será importante aprender com as lições da década de 1970. Após a crise do petróleo de 1973 e 1979, a inflação foi persistentemente alta e o crescimento econômico foi baixo”, analisou. “Hoje, o aumento do preço do petróleo é relativamente menor e a intensidade energética do PIB muito menor. Ao mesmo tempo, uma gama muito mais ampla de fontes de energia e de commodities agrícolas tem visto aumentos acentuados de preços.”
Apesar dos desafios, o gerente-geral do BIS ressalta que, em comparação aos anos 70, os objetivos e instrumentos da política monetária estão muito mais estabelecidos, as estruturas institucionais são mais robustas e a credibilidade é maior.
“Para evitar o risco de uma mudança de regime, os bancos centrais precisam comunicar claramente o objetivo final: trazer a inflação rapidamente de volta à meta”, resumiu. “E não preciso nem dizer que eles têm de agir em consequência disso. A experiência mostra que ciclos de aperto mais curtos e intensos tornam aterrissagens suaves mais prováveis.”
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