Política
21/01/2019 19:57

Como presidente, Mourão se contém em decisões e abre gabinete a militares


Brasília, 21/01/2019 - No primeiro dia como presidente em exercício durante a viagem de Jair Bolsonaro a Davos, o vice-presidente Hamilton Mourão optou por adotar uma postura contida evitando assinar decretos ou receber ministros palacianos. Por outro lado, o general não fugiu dos holofotes da imprensa, destoou de Bolsonaro em relação à posse de armas e intensificou a movimentação de militares em seu gabinete.

Ao longo desta segunda-feira, 21, circularam pelo gabinete da vice-presidência, no anexo II do Palácio do Planalto, pelo menos cinco militares, entre eles o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e o porta-voz da Presidência, Otávio Santana do Rêgo Barros. Além desses, Mourão fez interlocução com os embaixadores da Alemanha e da Tailândia no Brasil, Georg Witschel e Surasak Suparat, respectivamente, e com o engenheiro da CSN Miguel Angelo da Gama Bentes.

Auxiliares de Mourão lembram que o vice já disse que sua atuação no cargo seria discreta, como a de Marco Maciel, vice do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no segundo mandato do tucano. "Nenhuma luz pode brilhar mais que o sol. E o sol é o Bolsonaro", resumiu um dos assessores do general, citando uma referência das Forças Armadas. O próprio vice, o primeiro militar a assumir a Presidência após a redemocratização, evitou adotar um tom de mudança na condução de governo ou de sobreposição a Bolsonaro. "Sem marola, só tocando a bola para o lado", declarou. Mais tarde, relatou que recebeu uma recomendação do presidente diretamente de Davos: "prudência e caldo de galinha".

Flávio Bolsonaro
A transferência do cargo ocorreu em meio à polêmica envolvendo as movimentações financeiras do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho de Jair Bolsonaro. Mourão insistiu na tentativa de afastar o caso do governo afirmando que não há impacto para a administração federal ou preocupação com os efeitos na negociação da reforma da Previdência no Congresso. "O governo não. Pode preocupar o presidente como pai em relação ao filho, todos nós nos preocupamos com nossos filhos, talvez é isso aí, apesar de ele não ter me dito nada a respeito." Ele reafirmou que quem deve explicar a situação é o próprio filho do presidente.

Enquanto estiver no exercício do cargo, Mourão não pretende receber ministros nem adiantar decisões de governo. Do Palácio do Planalto, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, coordenou nesta segunda mais uma reuniu interministerial para discutir a região Nordeste. Nenhuma medida, no entanto, foi anunciada. Restou ao presidente em exercício, que é general da reserva do Exército, fazer sugestões em relação à reforma da Previdência.

Ele defendeu um período de transição na proposta de aumentar de 30 para 35 o tempo mínimo de serviço para aposentadoria de militares e voltou a falar que o fim do pagamento integral a beneficiários de pensão por morte de militares seria importante para o País. "São assuntos que estão sendo discutidos. Militar não resiste, militar é tranquilo, são os mais fáceis", declarou.

Alerta
O presidente em exercício também recebeu alertas. Relatando preocupações com o País, o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, pediu que o governo brasileiro explique melhor suas intenções em relação a reformas e seus compromissos com os direitos humanos e contra mudanças climáticas. "O que nós queremos é medir o novo governo segundo os atos, segundo os fatos, e não segundo os tuítes e as palavras durante a campanha", disse o embaixador alemão, fazendo referência a falas de Jair Bolsonaro. Mourão, por sua vez, declarou que não é sua tarefa debater o assunto com o representante da Alemanha no País.

Mesmo falando pela manhã que só "tocaria a bola para o lado", Mourão destoou do discurso de Bolsonaro logo na primeira entrevista do dia. Em entrevista à rádio Gaúcha, afirmou que a flexibilização do posse de armas não é uma medida voltada a reduzir a violência. "Esta questão da flexibilização da posse de armas, eu não vejo como uma medida de combate à violência. Eu vejo apenas, única e exclusivamente como o cumprimento de promessa de campanha e que vai ao encontro aos anseios, em grande parte, de parte de eleitorado dele", afirmou.

A agenda militar e a interlocução com empresários não ficará restrita ao primeiro dia no cargo. Nesta terça-feira, 22, Mourão viaja ao Rio para a passagem de comando do 2° Regimento de Cavalaria de Guarda do Exército. À noite, de volta a Brasília, janta com dirigentes da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). A entidade pretende levar as principais reivindicações do setor ao governo, entre elas uma ampla reforma no sistema de aposentadorias e o avanço na agenda de privatizações. (Daniel Weterman - daniel.weterman@estadao.com)
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