Por Vinicius Neder
Rio, 11/03/2021 - Apesar da “janela de plantio” - entre a colheita da soja e o plantio do milho - menor para a segunda safra do cereal, a produção total do grão em 2021 poderá passar por revisões para cima nos próximos meses, afirmou há pouco Carlos Antônio Barradas, analista de Agropecuária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mais cedo, ao divulgar o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) de fevereiro, o IBGE informou uma estimativa de produção de 103,5 milhões de toneladas para a safra total de milho em 2021, ligeira alta de 0,3% ante 2020 e novo recorde na série histórica iniciada em 1975. Apesar da previsão de recorde, a produção total de milho passou por um ajuste para baixo em relação ao LSPA de janeiro, com queda de 0,2%.
Segundo Barradas, a tendência poderá se inverter por causa de uma dinâmica que envolve regime de chuvas, tecnologia e cotações internacionais elevadas do milho. Tudo isso para ganhar tempo diante da “janela de plantio” menor para o milho de segunda safra - que responde por três quartos da produção total.
Essa janela foi reduzida, primeiramente, por causa do atraso no plantio da soja, no fim do ano passado, diante da demora no início da chuvas, em outubro. Embora os produtores de soja tenham recuperado o tempo perdido, usando tecnologia para plantar rapidamente, algum atraso na colheita, no início deste ano, era inevitável.
Segundo Barradas, como na maior parte do País “está chovendo bem” no momento, “temos a notícia de que essa soja, em alguns lugares, está com dificuldade de colheita”. Por um lado, isso poderá diminuir ainda mais a “janela de plantio” do milho de segunda safra. Por outro lado, em compensação, a quantidade de umidade é “propícia” para plantar o milho nas áreas antes ocupadas pela soja, disse o pesquisador do IBGE.
Nesse quadro, entra a tecnologia, que já foi fundamental para acelerar o plantio da soja no fim de 2020. Barradas citou o caso de produtores, verificado em alguns locais do País, que começaram o plantio do milho de segunda safra antes mesmo de colher a soja. “O produtor, diante das expectativas de preço, é muito criativo. Quando se poderia imaginar que íamos plantar o milho antes de colher a soja?”, afirmou o pesquisador.
Segundo Barradas, isso só é possível por causa da tecnologia do plantio direto, que dispensa o tempo antes dedicado à preparação do solo. Como o maquinário usado na colheita da soja também avançou tecnologicamente, é possível semear o milho nas entrelinhas e, posteriormente, colher a soja sem atrapalhar o plantio.
Para completar o quadro favorável às revisões para cima nas previsões de produção de milho no País, Barradas citou os preços elevados. “Uma boa área de soja não é aproveitada pelo milho de segunda safra. Como os preços estão muito elevadas, pode ser que os produtores aproveitem mais (a área desocupada de soja com o plantio milho)”, afirmou o pesquisador do IBGE.
Contato: vinicius.neder@estadao.com
