Agronegócios
18/06/2018 10:17

Perspectiva: tensão comercial entre EUA e China deve concentrar atenção na CBOT


São Paulo, 18/06/2018 - Investidores dos mercados futuros de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) devem começar a semana ainda atentos às tensões comerciais entre Estados Unidos e China. O clima nos EUA, que ficou em segundo plano na semana passada com a disputa entre os dois países, também pode voltar a direcionar o mercado.

Na sexta-feira, os futuros de soja recuaram. O vencimento julho caiu 21,75 cents (2,35%) e terminou a US$ 9,0550/bushel. Na semana, a queda chegou a 6,58%. Os Estados Unidos anunciaram na sexta-feira que suas tarifas contra a China têm como alvo 1.102 produtos do país asiático. O governo do presidente Donald Trump afirmou que vai impor tarifas de 25% sobre produtos chineses equivalentes a US$ 50 bilhões. No fechamento do mercado, a China anunciou que vai tarifar produtos importados dos Estados Unidos como medida retaliatória às barreiras impostas por Washington a bens chineses. A soja está entre os produtos que a China pode retaliar dos EUA. Já a partir do próximo mês, o país asiático deve tarifar pelo menos US$ 34 bilhões em produtos norte-americanos, incluindo agrícolas como soja, carne suína, frango e frutos do mar. Entretanto, analistas disseram que ainda há dúvidas sobre se a tarifa de importação sobre a soja será de fato de 25% e se novos desdobramentos da guerra comercial podem impedir a entrada em vigor das medidas, por ambos os países, em 6 de julho.

Segundo o analista João Paulo Schaffer, da Agrinvest, o mercado já antecipava a possibilidade de tarifas, e a soja vinha recuando mesmo antes do anúncio. "O mercado antecipou um pouco o anúncio (na última semana). Vamos ver como ficará o noticiário internacional quanto à troca de acusações", disse. "A China pode não tributar a soja em 25%", ressalva ele sobre a necessidade do país em se abastecer de soja nos EUA. "Não tem lugar, a não ser nos EUA, para a China olhar soja em volume." Schaffer lembra que o Brasil já tem 75% da safra vendida. Ainda assim, conforme o analista, os prêmios da soja brasileira continuam subindo. Schaffer acrescenta que o mercado já vinha considerando a possibilidade de concretização das tarifas ameaçadas porque a China reduziu as compras da soja norte-americana. "Se a China ameaçasse, mas continuasse comprando, a queda (dos preços na Bolsa de Chicago, a CBOT) não seria tão forte. Como ameaçava não comprar e não contratava (novos lotes), o mercado embutiu nos preços a ausência da China", explica.

Matheus Gomes Pereira, analista da ARC Mercosul, avalia que, apesar dos anúncios desta sexta-feira, persiste a incerteza sobre a aplicação de fato das tarifas sobre a soja norte-americana. Ele diz que tanto a China quanto os EUA tentam se impor na discussão sobre a balança comercial entre os dois países. Para ele, nesta semana haverá maior clareza se as tarifas desta vez vão de fato se concretizar em julho. Ele, admitiu, porém, que a tensão entre os países aumentou. "Deixou de ser uma ameaça de guerra comercial para ser de fato uma guerra comercial", considera. E espera mais compras chinesas no mercado brasileiro. "Mesmo que esse plano tributário não venha a ser efetivado, os chineses devem optar por mais compras da oleaginosa brasileira com o receio de que o assunto possa vir à tona de novo", disse. Traders devem continuar atentos nesta semana também ao clima nos EUA. Por enquanto, o cenário continuava favorável, ressaltou Schaffer, da Agrinvest, com a indicação de chuvas e temperaturas altas para os próximos sete dias, o que seria benéfico às lavouras.

Os futuros de milho fecharam em queda na sexta-feira na CBOT, pressionados pelo aumento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China. O vencimento julho caiu 1,75 cent (0,48%) e fechou a US$ 3,6125/bushel. A queda na semana foi de 4,37%. O milho era um dos produtos que fazia parte da lista negociada para que a China ampliasse compras dos EUA, caso o país abandonasse a intenção de impor tarifas de importação sobre produtos chineses. Embora a China não seja o maior mercado para o milho e trigo norte-americanos, diferentemente do que ocorre com a soja, os preços de ambos os grãos podem ser pressionados se as disputas comerciais com outros parceiros dos EUA se acirrarem.

O trigo terminou em baixa em Chicago na sexta-feira, acompanhando o milho. Os dois grãos são substitutos diretos em ração animal e, por isso, tendem a se mover na mesma direção. As perdas também foram consequência dos anúncios de tarifas de importação dos EUA e da resposta chinesa. Na CBOT, o trigo para julho perdeu 2,00 cents (0,40%) e fechou em US$ 4,9950 por bushel. O recuo semanal foi de 3,94%. Quanto ao clima nos EUA, o sul das Grandes Planícies continuava com condições quentes e secas, que no atual período favoreciam a maturação e colheita do trigo de inverno, segundo o serviço meteorológico DTN. Contudo, para esta semana é esperado um aumento das chuvas, que pode atrapalhar a retirada dos grãos. Outras regiões produtoras importantes, como a do Mar Negro, contudo, continuariam com clima desfavorável para as lavouras de trigo.

Café: contratos caem 1,6% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram desvalorização de cerca de 1,6% (195 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base julho de 2018. As cotações encerraram na sexta-feira (15), a 117,55 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 120,20 cents (segunda, dia 11) e mínima de 116,85 cents (sexta, dia 15).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que o mercado físico de café no Brasil apresentou-se praticamente travado na semana passada. "Nesse ambiente confuso e com grandes incertezas políticas e econômicas, os produtores de café estão retraídos, vendendo o mínimo possível", diz Carvalhaes. Os cafeicultores voltaram suas atenções para a colheita da nova safra, que agora começa a deslanchar.

Conforme Carvalhaes, o número de negócios fechados continua muito baixo. Os compradores reclamam do pequeno volume de vendedores, mas suas ofertas se resumem a acompanhar o sobe e desce dos futuros em Nova York e do dólar frente ao real.

Carvalhaes observa que lotes de café da nova safra chegam devagar ao mercado e em número menor do que era previsto pelos compradores. São em sua maioria lotes com muitos verdes e quebra no preparo entre 30 e 40%. "Em nossa opinião os cafeicultores vão continuar vendendo devagar, conforme forem precisando de caixa para cumprirem seus compromissos mais próximos", estima Carvalhaes.

Açúcar: mercado deve continuar pressionado
O mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) continua pressionado negativamente pelo petróleo em queda, com a possibilidade de aumento da produção em grandes países exportadores. Além disso, o dólar fortalecido no exterior após a alta nos juros nos Estados Unidos na semana passada também atua como fator baixista.

Na sexta-feira (15), o contrato outubro fechou em queda, de 21 pontos, ou 1,67%, a 12,35 cents por libra-peso. O julho testou o suporte de 12 cents, bateu mínima de 11,93 cents, mas se recuperou com compras de oportunidade e encerrou o pregão em 12,02 cents, recuo também de 21 pontos.

Relatório da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) com posicionamento de traders no período encerrado na terça-feira passada (12) mostrou que fundos e especuladores reduziram em 2% as apostas na queda dos preços do açúcar na ICE, com a leve alta da posição líquida vendida de 24.984 de lotes, em 5 de maio, para um saldo de 25.523 lotes, em 12 de junho.

(Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com; tomas.okuda@estadao.com e gustavo. porto@estadao.com)
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