Agronegócios
27/08/2021 11:00

Exclusivo/Sicredi: contratação de crédito chega a R$ 4,8 bi em julho (+51%); instituição ganha mercado


Por Clarice Couto

São Paulo, 27/08/2021 - A instituição financeira cooperativa Sicredi, segunda maior na concessão de crédito rural no País, atrás apenas do Banco Brasil, registrou em julho, primeiro mês da safra 2021/22, a contratação de R$ 4,8 bilhões. O valor é 51% maior que o verificado em julho do ano passado e representa 12,5% dos R$ 38,1 bilhões que o Sicredi pretende liberar neste temporada. O resultado superou o do mercado, cujo montante de crédito rural contratado no mês passado, de R$ 26,9 bilhões, ficou 16% acima do verificado em igual mês de 2020. "Temos aumentado nossa base (de associados)", disse ao Broadcast Agro o superintendente de Agronegócio do Sicredi, Luís Henrique Veit.

Ele explicou que outros fatores explicam o resultado acima da média, como a alta dos custos de produção, investimentos represados por produtores na safra passada, o aumento do número de cooperados, a expansão física da instituição e o aprimoramento de processos digitais que facilitam a contratação. "Há aumento dos custos de produção, além da nossa própria expansão, pois continuamos abrindo agências em todo o País", disse Veit. O número de operações liberadas em julho foi de 35.382, 12,5% a mais que em julho de 2020 (31.347), o que sinaliza um valor maior por operação neste ano.

Do total registrado pelo Sicredi em contratações, R$ 3,5 bilhões serão destinados a operações de custeio, 30% a mais do que em julho de 2020. O montante representa 22% do total contratado no mercado para esta finalidade. Boa parte dos recursos será aplicada nas lavouras de soja e milho, além de uma centena de culturas financiadas pela instituição. Para investimentos, os recursos contratados somam R$ 1,2 bilhão, 180% a mais do que o registrado em igual período do ano passado e equivalente a 18% do que foi contratado em todas as instituições financeiras com tal finalidade. Além disso, R$ 67 milhões serão aplicados em comercialização, alta de 98% na comparação anual, e R$ 35 milhões em industrialização, incremento de 146% ante um ano atrás.

O acentuado aumento das contratações para investimento se explica, em boa medida, pelo "represamento" de negócios no primeiro semestre, explicou Veit. "Uma parte dos investimentos ficou represada, porque os recursos tinham sido suspensos com as discussões do orçamento federal. Vimos agora um crescimento expressivo na procura por crédito para maquinário, correção de solo, pocilgas", explicou o executivo.

Considerando os programas federais, houve no primeiro mês do ciclo atual incremento de 48% nas contratações realizadas via Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que chegaram a R$ 1,7 bilhão (26% do mercado), e de 37% via Pronamp (Programa de Apoio ao Médio Produtor Rural), com aproximadamente R$ 1 bilhão (26% do mercado).

As contratações de crédito não relacionado a linhas oficiais do Plano Safra também dispararam. Por meio de Cédulas de Produto Rural (CPR), o Sicredi aprovou no mês passado R$ 388 milhões em empréstimos, montante 1.193% superior aos R$ 30 milhões liberados em julho do ano passado. Para este produto, o Sicredi utiliza recursos próprios, de captações de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) ou da poupança rural, e aplica taxas de mercado que acompanham a variação da Selic e a curva futura de juros. "Essa alta ocorreu porque remodelamos o produto (CPR), mudamos uma série de processos que facilitaram o acesso para o produtor, como uso de assinatura digital. Hoje ele pode abrir o pedido de crédito de CPR pelo WhatsApp", explicou Veit.

Os financiamentos com taxas de mercado por meio de CPRs na instituição já tinham crescido consideravelmente na safra 2020/21, 415%, saindo de R$ 315 milhões no ciclo 2019/20 para R$ 1,619 bilhão em 2020/21. Essa maior procura pelo papel, segundo o executivo, vem ocorrendo tanto pela necessidade de mais dinheiro, além do obtido pelas linhas oficiais, para cobrir os custos de uma safra, como pela maior rapidez no acesso ao recurso quando surge uma oportunidade de comprar insumos com boas condições de mercado.

A alta da Selic, e consequentemente dos juros futuros, têm puxado para cima as taxas cobradas nas CPRs. Na safra 2019/20, ficavam entre 6% e 8% ao ano, segundo Veit. Agora, oscila entre 8% e 11%. Mesmo assim, a perspectiva da instituição financeira é atingir R$ 3 bilhões em contratações de CPRs até o fim de junho do ano que vem, quando termina o ciclo 2021/22.

O forte ritmo da demanda leva o superintendente de Agronegócio do Sicredi a considerar a possibilidade de conceder além do previsto no anúncio da safra. A princípio, a instituição prevê desembolsar R$ 38,224 bilhões no ciclo 2021/22, 31,2% acima dos R$ 29,141 bilhões liberados em 2019/20. A carteira de agronegócio, que hoje soma também R$ 38 bilhões, deve passar com folga dos R$ 40 bilhões ao fim da temporada atual. "É possível que a gente se surpreenda e cresça mais do que 30%", disse.

Para garantir a disponibilidade de crédito para investimentos, a entidade prevê importante participação de recursos com taxas de mercado. Dos R$ 12,1 bilhões projetados para linhas de investimentos, menos da metade, R$ 4,9 bilhões, terão como fonte o BNDES e fundos constitucionais. Outros R$ 7,1 bilhões serão ofertados com recursos da poupança rural do Sicredi (51% acima do valor de 2020/21), dos quais R$ 1,613 bilhão com taxas de juros equalizadas pelo Tesouro Nacional (cerca de R$ 547 milhões a mais do que no ciclo passado) e R$ 5,465 bilhões com taxas de mercado, também 51% a mais do que em 2020/21.

"A demanda por crédito para investimento na agricultura em geral é superior à disponibilidade de recursos oficiais, mesmo com tantas instituições oferecendo recursos (mais bancos oferecendo crédito com taxas equalizadas). Os recursos do BNDES vêm se esgotando e o Sicredi tem aumentado a oferta com o dinheiro da poupança rural", disse. Captações no exterior também serão opções utilizadas pelo Sicredi para conceder empréstimos para investimentos, conforme Veit.

Participação O Sicredi vem conquistando maior participação no mercado de crédito rural. Na safra 2020/21, chegou a 11,3% do total, acima dos 10,4% contabilizados na temporada anterior, 2019/20. Somente em julho deste ano, o total contratado junto à instituição correspondeu a 18% de todo o montante registrado em pedidos por diversos bancos no Brasil. "Deve aumentar em 2021/22, ainda que nossa visão não seja tanto abocanhar market share, e sim atender ao produtor com a linha certa", comentou. Apenas em 2021, o Sicredi abriu 113 novas lojas em todo o Brasil, elevando o total a 2.099.

Contato: clarice.couto@estadao.com
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