Agronegócios
16/11/2021 10:22

Summit Agronegócio/Lettini: temos de olhar de forma crítica para sistemas alimentares


Por Tânia Rabello e Julliana Martins

São Paulo, 16/11/2021 - Os investidores globais abrigados na Fairr Initiative - que detém ativos de no mínimo US$ 45 trilhões - estão olhando "de maneira crítica para os sistemas alimentares no mundo", disse há pouco a diretora-geral da Fairr, Maria Lettini, na palestra de abertura do Summit Agronegócio Estadão 2021, que ocorre nesta manhã. Ela palestrou sobre o tema na COP-26, onde defendeu que a redução das emissões de gases do efeito estufa no sistema alimentar deveria estar no foco central das atenções, embora a energia, novamente, tenha sido prioridade no evento de Glasgow, Escócia. "Espero que na próxima Conferência do Clima, no Egito, a agropecuária e suas emissões sejam prioridade e o Brasil tem toda condição de ser o protagonista", disse. Na COP que se encerrou neste fim de semana, Lettini lembrou que grandes companhias brasileiras de carne bovina, como JBS e Marfrig, se comprometeram a reduzir suas emissões, "o que é muito positivo".

Lettini comentou ainda que a Fairr Initiative elabora anualmente o Fairr Index, que analisa os aspectos de governança, social e ambiental (ESG na sigla em inglês) das 60 maiores empresas produtoras de proteína animal do mundo. O próximo índice Fairr será publicado no início de dezembro. "Devemos lembrar que o preço das carnes, hoje, é um dos maiores fatores de volatilidade nos mercados", ressaltou. "Nosso Fairr Index ainda mostra dados inconsistentes das empresas de proteína animal", criticou. Ela disse que os investidores não conseguem bases de comparação a partir dos dados apresentados, que são díspares entre uma empresa e outra. "Precisamos de padronização dos relatórios", recomendou. "Queremos ver as melhores práticas sendo instituídas."

Lettini comentou ainda que, se forem avaliados os riscos e oportunidades do setor de proteína animal para redução das emissões, "é um choque pensar que este setor agropecuário não tem recebido maior atenção". Para isso, defendeu "um foco mais colaborativo para o setor de proteína animal". Ela lembrou que é necessário olhar a cadeia produtiva como um todo para reduzir emissões em proteína animal. "Devemos lembrar que 45%, até 65% do preço da carne está na soja, por exemplo", citou, em referência ao fato de que os animais (bovinos, suínos e aves) são alimentados com farelo de soja e milho. "Por isso, a cadeia produtiva tem de ser mais proativa para reduzir emissões; creio que o setor agropecuário vai correr muitos riscos se não se adiantar na mitigação e redução das emissões."

Por isso, defendeu, é necessário que os investidores tenham acesso a bons dados das empresas produtoras de proteína animal. "Precisamos de transparência", reforçou. "Em todas essas 60 empresas que nós avaliamos, vemos divulgações inconsistentes e incompletas, principalmente em relação às suas emissões reais", continuou. "Algumas poucas empresas divulgam dados de emissão de metano, por exemplo, e isso é uma notícia ruim."

De outro lado, Lettini elogiou as iniciativas de empresas como JBS, BRF e Marfrig, que estão investindo no desenvolvimento de formas alternativas de proteína, com base em plantas, e não em carnes. "Vemos essas companhias aproveitando o mercado de proteína vegetal e isso é muito positivo." Para tanto, lembrou da necessidade de mecanismos regulatórios para apoiar as novas proteínas, "inclusive a carne cultivada".

Contatos: tania.rabello@estadao.com e julliana.martins@estadao.com
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