Agronegócios
16/07/2018 10:28

Perspectiva: mercado de grãos deve acompanhar clima em importantes regiões produtoras


São Paulo, 16/07/2018 - Investidores dos mercados futuros de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) devem começar a semana atentos às previsões do tempo para importantes áreas produtoras de grãos, como Meio-Oeste e Grandes Planícies, nos Estados Unidos, a região do Mar Negro e Austrália. A procura pelos grãos norte-americanos em meio à guerra comercial também continua no radar do mercado.

Os futuros de soja recuaram na sexta-feira. O vencimento novembro caiu 15 cents (1,77%) e terminou a US$ 8,3425/bushel. Na semana, o contrato cedeu 6,74%. Segundo a analista Ana Luiza Lodi, da INTL FCStone, o mercado foi influenciado pelas perspectivas de clima e demanda. "Nas projeções de quinta-feira, o USDA reduziu bastante a exportação dos EUA e importação chinesa de soja", disse. "E, por enquanto, o clima nos EUA está muito bom, sem ameaças significativas. Isso indica uma safra cheia, com potencial de aumento de produtividade em relação ao que o USDA está apontando."

Para a analista, ainda é cedo para determinar o tamanho da demanda pela oleaginosa norte-americana, e a previsão do USDA tende a sofrer ajustes ao longo dos próximos meses. "A safra 2018/19 é colhida a partir de setembro, e a previsão de exportação está sujeita a grandes mudanças ainda, não necessariamente para baixo. Se China e EUA entrarem em acordo e passarem a não taxar mais a soja e, mesmo se a tarifa for mantida, é bem difícil que a China não compre soja dos EUA", afirmou. As importações chinesas de soja totalizaram 8,70 milhões de toneladas em junho, volume 13% maior do que o registrado em igual período do ano passado, informou na sexta-feira o Departamento de Alfândegas da China. No Brasil, os prêmios de exportação estão fortalecidos, e a guerra comercial continua sendo o principal motivo para isso. "A tarifa chinesa entrou em vigor em 6 de julho, mas os EUA falaram em taxar mais produtos chineses. Isso mostra que os EUA têm essa intenção de continuar taxando a China, e a China provavelmente continue retaliando, o que diminui a chance de eles entrarem em algum acordo."

Para o desenvolvimento da soja norte-americana, as previsões do tempo estão indicando temperaturas mais amenas, dentro da média, nos próximos dias, segundo a analista. "Tem previsão de chuvas em volumes maiores, mas com alguma preocupação ainda com acumulados no oeste da região produtora." Conforme Ana Luiza, o desenvolvimento da soja está adiantado, mas o principal período de determinação do rendimento, o enchimento de grãos, deve ocorrer a partir do fim do mês. Além do clima nos EUA, investidores continuarão observando os desdobramentos da guerra comercial em busca de sinais de acirramento das tensões, retomada das negociações ou algum tipo de compensação aos produtores norte-americanos.

Quanto ao milho, os futuros fecharam em baixa na sexta-feira na CBOT, cedendo parte dos ganhos da véspera, com a expectativa de clima mais úmido nos Estados Unidos. O contrato para dezembro caiu 4,50 cents (1,25%) e terminou a US$ 3,5475/bushel. Na semana, o recuo foi de 1,53%. Segundo o serviço meteorológico DTN, eram esperadas chuvas e temperaturas mais baixas no cinturão nesta semana, o que será particularmente benéfico para as lavouras do cereal em fase de polinização. Com isso, o mercado perdeu o suporte que havia obtido das previsões de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de quinta-feira. O governo norte-americano apontou uma redução nos estoques domésticos e globais do cereal.

Em seu relatório de oferta e demanda, o USDA reduziu a estimativa para as reservas dos EUA ao fim da temporada 2018/19 de 1,577 bilhão para 1,552 bilhão de bushels (40 milhões para 39,4 milhões de t), enquanto o mercado projetava um forte aumento, para 1,733 bilhão de bushels (44 milhões de t). O USDA também cortou a previsão de estoque global em 2018/19 de 154,96 milhões para 151,96 milhões de toneladas. Analistas previam 156,0 milhões de toneladas.

Os futuros de trigo fecharam majoritariamente em alta na sexta-feira, com exceção do vencimento julho, que expirou e terminou com perdas. A expectativa de estoques menores de trigo no mundo após problemas de produção na Austrália, Rússia e Ucrânia devido à seca sustentou as cotações. O USDA projetou, no relatório de oferta e demanda de julho, o estoque mundial de trigo em 260,88 milhões de toneladas em 2018/19, ante 266,16 milhões de toneladas da previsão de junho. Analistas esperavam 264,1 milhões de toneladas. Já para os EUA, o USDA elevou a sua projeção para estoques de trigo ao fim de 2018/19 de 946 milhões para 985 milhões de bushels (25,7 milhões para 26,8 milhões de t). O número ficou próximo da expectativa de analistas, de 982 milhões de bushels (26,7 milhões de t).

As previsões apontam clima em geral favorável nos próximos dias para as áreas produtoras do norte das Grandes Planícies, onde se desenvolve o trigo de primavera. Entretanto, o clima seco persiste em importantes pontos de cultivo da região do Mar Negro e da Austrália. Na CBOT, o trigo para setembro subiu 12,50 cents (2,58%) e terminou em US$ 4,97 por bushel. Na semana, o contrato recuou 3,54%.

Café: contratos caem 3,7% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram desvalorização de cerca de 3,7% (420 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base setembro de 2018. As cotações encerraram na sexta-feira (13), a 109,90 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 115,75 cents (terça, dia 10) e mínima de 106,90 cents (sexta, dia 6).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que a valorização do dólar em relação ao real facilita o trabalho dos interessados em derrubar as cotações do café em Nova York. Essa instabilidade deve continuar, diz Carvalhaes. As incertezas crescem no cenário político e eleitoral brasileiro com a aproximação da data das eleições. Conforme Carvalhaes, o instável cenário geopolítico internacional deve continuar pressionando as commodities em geral e trazendo muita insegurança para os mercados ao redor do mundo.

Carvalhaes informa, ainda, que a exportação de café do Brasil na safra 2017/2018 (30,3 milhões de sacas), encerrada em junho passado, é o pior volume embarcado desde a safra 2011/2012. Essa queda reflete a seca dos últimos anos e, principalmente, o término dos estoques brasileiros de café. O volume exportado só não ficou abaixo de 30 milhões, porque nos embarques de junho, último mês do ano-safra 2017/2018, porque o País pode lançar mão de conilon recém-colhido. No ano-safra agora encerrado, 42% das exportações de conilon foram embarcadas em junho último. Os embarques de solúvel em junho também tiveram participação do conilon da nova safra 2018/2019.

Segundo Carvalhaes, o bom desempenho das exportações brasileiras de café nos quatro últimos anos-safra anteriores ao que agora se encerra só foi possível porque o Brasil dispunha de estoques, governamentais e privados, para complementar suas exportações e também o crescente consumo interno. Com o final dos estoques, as exportações caíram.

Considerando que a exportação do Brasil deverá retomar o nível de 35 milhões de sacas, por causa do ciclo alto, e consumo interno brasileiro de 23 milhões de sacas, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), desaparecerão 58 milhões de sacas da safra "recorde" e muito pouco restará para complementar as exportações brasileiras 2019/2020, quando o País vai colher uma safra de ciclo baixo. "A situação não é confortável. Qualquer problema climático mais sério impedirá novamente um volume normal de embarques pelo Brasil. Sempre é bom lembrar que o consumo cresce em todo o mundo", conclui Carvalhaes.

Açúcar: mercado mostra sinais baixistas
Os contratos futuros de açúcar demerara iniciam a semana com inclinação baixista na Bolsa de Nova York (ICE Futures US). O mercado rompeu o suporte psicológico de 11 centavos de dólar por libra-peso0na semana passada e já acumula desvalorização de 10,5% na primeira quinzena de julho.

Os futuros de demerara em Nova York trabalharam em queda em boa parte da sessão de sexta-feira. O vencimento outubro/18, o mais líquido, fechou com baixa de 1,08% (12 pontos), a 10,96 cents. A máxima foi de 11,14 (mais 6 pontos). A mínima bateu 10,91 cents (menos 17 pontos).

Os fatores técnicos têm prevalecido em relação aos fundamentos no mercado de demerara. Graficamente, os contratos para outubro romperam o suporte psicológico de 11 cents e podem testar agora 10,91 cents e 10,70 cents. As resistências estão em 11 cents; 11,15 cents e 11,30 cents.

Os fundos de investimento e especuladores continuam a apostar em queda das cotações do açúcar em Nova York. Esses participantes estavam com saldo líquido vendido de 56.255 lotes no dia 10 de julho, em comparação com 45.936 lotes no dia 3, mostrou na sexta relatório semanal da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês), com posicionamento de traders.

(Leticia Pakulski e Tomas Okuda - leticia.pakulski@estadao com e tomas.okuda@estadao.com)
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