Agronegócios
13/11/2017 10:35

Perspectiva: mercado de grãos deve concentrar atenção na safra sul-americana


São Paulo, 13/11/2017 - Após a avaliação das projeções de oferta e demanda de novembro do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), investidores dos mercados futuros de soja, milho e trigo devem começar a voltar a sua atenção para outros fatores. A partir de agora, com a produção dos EUA praticamente consolidada, o foco do mercado passa a ser principalmente o plantio e desenvolvimento da safra sul-americana. Novas vendas de grãos norte-americanos para exportação, entretanto, continuam no radar do mercado e podem dar suporte aos preços.

Quanto à soja, os futuros na CBOT fecharam em leve alta na sexta-feira, se recuperando das perdas do dia anterior, causadas pela surpresa com o relatório de do USDA. O vencimento janeiro da soja subiu 2 cents (0,20%), terminando a US$ 9,87/bushel. Na comparação semanal, a variação foi mínima (+0,03%). "A movimentação de hoje (sexta-feira) foi mais uma ressaca do que o USDA mostrou nos números de quinta-feira", apontou o analista Stefan Tomkiw, do Societé Générale. O analista ressaltou que o USDA surpreendeu ao manter o rendimento da safra 2017/18 norte-americana em 49,5 bushels por acre (3,33 toneladas por hectare), quando o mercado esperava ajuste para baixo, mas lembrou que houve uma leve redução no estoque final do país, de 430 milhões para 425 milhões de bushels (11,7 milhões para 11,57 milhões de toneladas). "Agora é esperar para ver se realmente teremos uma safra boa na América do Sul, e o foco começa a ser o clima na região. O plantio no Brasil aparentemente está avançando bem, sem nenhuma grande ameaça", ponderou. "O mercado deve ficar olhando a perspectiva climática e respondendo de acordo, mas com um viés mais baixista. Estamos com a perspectiva de mais uma safra com números respeitáveis no Brasil e na Argentina." O plantio da safra 2017/18 de soja avançou em ritmo acelerado na semana passada no Brasil, informou a consultoria AgRural na sexta-feira. Levantamento semanal da consultoria mostrou que 57% da área prevista estava semeada no País até quinta-feira (09). O avanço semanal, de 14 pontos porcentuais sobre os 43% observados em 2 de novembro, é o maior registrado até agora nesta safra e foi favorecido pela melhora das condições de umidade na maioria dos Estados produtores. Agora o plantio supera ligeiramente a média de cinco anos (56%). Em igual período do ano passado, a semeadura havia sido concluída em 63% da área.

O milho fechou em alta na sexta-feira na CBOT. Compradores foram atraídos pelos preços mais baixos da commodity, após a perda de quase 2% da sessão anterior. O vencimento dezembro subiu 2,00 cents (0,59%) e terminou em US$ 3,4350 por bushel. Na semana, a queda foi de 1,36%. O Departamento de Agricultura dos EUA aumentou a expectativa de safra de 14,280 bilhões para 14,578 bilhões de bushels (362,7 milhões para 370,28 milhões de toneladas), enquanto analistas previam um aumento menor, para 14,323 bilhões de bushels (363,8 milhões de toneladas). Mesmo com uma temporada de desenvolvimento irregular, com episódios de falta de chuva, analistas disseram que uma melhor genética provavelmente ajudou na recuperação da safra de milho. "Parece que o velho ditado 'grandes safras se tornam maiores' será válido para o complexo de milho neste ano", disse Karl Setzer, da MaxYield Cooperative, em nota a clientes, segundo a Dow Jones Newswires. Os estoques finais nos EUA foram estimados em 2,487 bilhões de bushels (63,17 milhões de toneladas), ante projeção de 2,340 bilhões de bushels (59,4 milhões de toneladas) em outubro e 2,360 bilhões de bushels (59,9 milhões de toneladas) na previsão do mercado.

Os futuros de trigo negociados em Chicago fecharam em alta na sexta-feira. O mercado continuou sustentado pela menor projeção para estoques norte-americanos do cereal. Na quinta-feira, o governo dos Estados Unidos reduziu sua estimativa de 960 milhões para 935 milhões de bushels (26,13 milhões para 25,45 milhões de toneladas). Analistas esperavam uma redução menor, para 956 milhões de bushels (26 milhões de toneladas). Ainda assim, a percepção é de que o mundo continua bem abastecido de trigo. A previsão de estoque final global em 2017/18 de 267,53 milhões de toneladas representa um recorde. Na CBOT, o trigo para dezembro subiu 2,50 cents (0,58%) e fechou em US$ 4,3150 por bushel. A alta na semana totalizou 1,35%. Quanto ao clima nos EUA, o sul das Grandes Planícies continua apresentando condições favoráveis para o desenvolvimento do trigo de inverno devido aos bons níveis de umidade do solo.

Café: contratos sobem 2,9% na semana
Os contratos futuros de café arábica acumularam valorização de cerca de 2,9% na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base dezembro de 2017. Os contratos de arábica subiram 360 pontos no período em Nova York. As cotações encerraram na sexta-feira (3), a 127,55 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 128,35 cents (sexta, dia 10) e mínima de 122,25 cents (segunda, dia 6).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que Destaca que faltam menos de dois meses para encerrarmos o ano e já está claro que o melhor resultado que o Brasil pode almejar para 2017 é acumular embarques entre 30 milhões e 31 milhões de sacas de 60 kg de café. Mesmo para alcançar este nível, o País terá de exportar ao redor de 3 milhões de sacas por mês em novembro e dezembro, volume até agora não alcançado em nenhum mês deste ano.

Em 2016 o Brasil embarcou 34,2 milhões e em 2015 alcançou recorde histórico: 37 milhões de sacas de 60 kg. Conforme Carvalhaes, o esforço para atingir recorde histórico em 2015 (o maior volume embarcado em um ano desde a primeira exportação de café do Brasil, em meados do século 18) e o bom resultado em 2016, ao mesmo tempo em que os cafezais do Sudeste brasileiro acumulam três anos seguidos de problemas climáticos (2015, 2016 e 2017) esgotaram pela primeira vez os estoques brasileiros de café arábica. "Os estoques oficiais zeraram e na iniciativa privada apenas alguns cafeicultores mais capitalizados ainda têm alguns lotes de arábica da safra 2016. Daqui para frente o Brasil terá de cumprir os embarques com o resta da colheita 2017", sentencia Carvalhaes.

O mercado físico brasileiro foi mais movimentado na semana passada. Com a aproximação do fim do ano, compradores e vendedores começam a mostrar mais disposição para fechar negócios e os preços melhoraram ligeiramente. "O volume de negócios fechados foi maior que nas últimas semanas", conclui Carvalhaes.

Açúcar: mercado deve operar acima de 15 cents
O mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) buscará retomar e até superar a resistência de 15 cents por libra-peso no contrato março. Para isso, deve contar com os dados de processamento da safra 2017/2018 de cana-de-açúcar no Centro-Sul e de produção da commodity na segunda metade de outubro, que serão divulgados às 10 horas (horário de Brasília) pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

A quinzena inicial de outubro já tinha trazido pressão altista ao mercado, com uma moagem praticamente estável ante 2016, em 32,441 milhões de toneladas, mas com queda de 12,3% na produção de açúcar, na mesma base de comparação, em 1,978 milhão de toneladas. A produção de etanol subiu 11,6% naquele período de outubro, para 1,576 bilhão de litros, e ratificou o final de safra mais alcooleiro na região.

Na sexta-feira (10), o contrato março chegou aos 14,99 cents, mas surgiram fixações e houve um recuo pequeno no final da sessão, para 14,96 cents, ou 8 pontos no dia. Analistas citam que os fundos voltaram às compras, o que impulsionou o mercado, em um cenário de uma restrição de oferta, principalmente do Brasil. Mesmo com o dólar em recuperação no País e com o petróleo próximo à estabilidade, o cenário volta a ser altista para o adoçante.

(Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com, tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com)
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