Agronegócios
05/08/2021 08:33

Defensivos/Sindiveg: com real mais fraco, mercado recua 2,8% no segundo trimestre


Por Clarice Couto

São Paulo, 05/08/2021 - A desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar continuou comprometendo os resultados da indústria de defensivos agrícolas no segundo trimestre - quadro que vem sendo observado desde o ano passado, quando o mercado encolheu 10,4% em dólar, também em virtude do câmbio. O valor de mercado dos produtos aplicados recuou 2,8% de abril a junho, para US$ 1,380 bilhão, em comparação ao valor de US$ 1,419 bilhão apurado em igual período do ano passado. Os dados fazem parte de levantamento encomendado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) à Spark Consultoria Estratégica.

A depreciação do real ante o dólar, verificada desde o ano passado, foi a principal causa da queda do valor de mercado na divisa norte-americana, segundo o presidente da entidade, Júlio Borges Garcia. "Somente no 2º trimestre deste ano, a perda cambial foi de 14,5% (na comparação com igual período do ano passado), com o dólar médio de R$ 5,02 em junho de 2021. Além disso, a indústria continua enfrentando forte alta nos preços de matérias-primas e embalagens, bem como aumento no custo logístico, tanto nacional quanto internacional", justificou. "O frete marítimo segue em elevação e os fabricantes já sentem falta de determinadas matérias-primas. A tendência é de piora desse cenário, mas a indústria de defensivos vem trabalhando para evitar a escassez de ingredientes ativos", acrescentou o executivo.

A valorização do dólar sobre o real afeta diretamente o resultado das companhias em dólar - calculado desta forma, já que as matérias-primas, que correspondem a cerca de 70% dos custos, são majoritariamente importadas. As empresas negociam os defensivos com clientes em real, mas adquirem os insumos em dólar para atender à demanda, e em época diferente da entrega e do faturamento do pedido. Assim, o pagamento pelo produtor só ocorre meses depois, no faturamento da compra. Quando o dólar se valoriza ao longo desse período, como vem ocorrendo, a receita das empresas na moeda norte-americana diminui.

Em real, o setor cresceu 13,6% no segundo trimestre de 2021, atingindo valor de mercado de R$ 7,309 bilhões, ante R$ 6,432 bilhões contabilizados de abril a junho de 2020.

Do valor apurado no trimestre encerrado em junho, 38% refere-se a inseticidas, 28% a herbicidas, 24% a fungicidas, 3% a tratamento de sementes e 7% a outros produtos.

Nos seis primeiros meses do ano, o valor de mercado da indústria de defensivos agrícolas, em dólar, diminuiu 7,9%, passando de US$ 5,763 bilhões apurados de janeiro a junho do ano passado para US$ 5,308 bilhões agora. A soja representou 31% do total e os inseticidas, 37%. Em moeda brasileira, houve alta de 13%, de R$ 25,188 bilhões no primeiro semestre de 2020 para R$ 28,462 bilhões no intervalo de janeiro a junho de 2021.

Área tratada - A área tratada com defensivos deve crescer em torno de 10% em 2021, saindo de 1,6 bilhão de hectares contabilizados em 2020 para 1,76 bilhão neste ano, informou o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), Júlio Borges Garcia. No primeiro trimestre do ano, a área tratada cresceu 7% na comparação com igual período do ano passado e no segundo, 12,3%. A área tratada é a soma das áreas pulverizadas por cada produto, o que significa que uma mesma terra pode ser calculada mais de uma vez, seja porque foi utilizada em uma segunda safra, seja porque recebeu mais de um tipo de defensivo.

"Nossa projeção é de que a área continue crescendo no terceiro e no quarto trimestres deste ano. Esse cenário é impulsionado pela alta preocupação que os agricultores estão demonstrando com a incidência de insetos, fungos e plantas daninhas - estas ainda mais prejudiciais no inverno, tendo em vista a competição por nutrientes e água em um período em que esses recursos naturalmente são mais escassos", explicou o executivo. "Até o fim do ano, esperamos crescer em torno de 10% em área tratada", afirmou.

A mesma perspectiva ainda não pode ser dada para o faturamento da indústria em dólar, segundo Garcia. Nos últimos trimestres, o valor de mercado dos produtos aplicados foi menor do que nos períodos correspondentes de 2020, em razão da depreciação do dólar ante o real. Garcia cita também o aumento dos preços de matérias-primas, de embalagens e de frete marítimo, como fatores que podem comprometer o resultado das empresas.

"Apenas com a diminuição do câmbio (queda do dólar ante o real), uma esperança para este ano, será possível pensar no crescimento do mercado em dólar. Outro problema que impacta o valor de mercado é o cenário da China, que segue bastante imprevisível", argumentou o presidente do Sindiveg, referindo-se ao fato de boa parte dos insumos utilizados pela indústria de agroquímicos ser proveniente do país asiático.

De acordo com Garcia, as políticas ambientais mais restritivas no país, que têm levado ao fechamento de plantas, além da crise hídrica que afetou a produção de energia, o tufão e as tempestades que atingiram recentemente a China devem aumentar "muito" a pressão inflacionária dos defensivos agrícolas. "Estimamos que cerca de 60% dos produtos estão sofrendo impacto no custo, direta ou indiretamente. Isso deve permanecer no ano que vem", alertou.

Contato: clarice.couto@estadao.com

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