Agronegócios
29/06/2022 08:44

Etanol: Índia conta com clima favorável e tecnologia do Brasil para mistura de 20% até 2025


Por Gabriela Brumatti

São Paulo, 29/06/2022 - O regime de chuvas da Índia, orientado pelas monções, será determinante para garantir que o país consiga alcançar o E20, objetivo de incorporar 20% de etanol na gasolina até 2025, afirmam representantes do setor sucroenergético do país. Em contrapartida, a parceria com o Brasil alimenta esperanças de que a meta seja atingida até antes do prazo, garantiram o presidente da Associação Indiana das Usinas de Açúcar (Isma), Aditya Jhunjhunwala, e o diretor-executivo da Associação dos Fabricantes dos Automóveis Indianos (Siam), Prashnat Kumar Banerjee. Eles estiveram no Brasil na última semana em uma comitiva, que veio a convite da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), para conhecer o funcionamento de usinas de etanol e fábricas montadoras com tecnologia para veículos híbrido-flex.

Embora seja o segundo maior produtor de açúcar do mundo, o país asiático ainda é incipiente na produção de etanol e não consegue converter parte considerável da cana-de-açúcar em biocombustível por defasagens tecnológicas. Desde 2019, a parceria com a Unica visa a fomentar o uso do biocombustível e a redução das emissões de carbono na atmosfera.

"Na Índia não chove tanto quanto no Brasil, então dependemos das monções. Esperamos ter monções boas por muitos anos que possibilitem o fornecimento de etanol. Essa é uma grande questão", definiu Prashnat Kumar Banerjee. Na avaliação de Aditya Jhunjhunwala, a colaboração com o Brasil tende a ajudar nesse processo. "Os brasileiros foram muito transparentes na discussão, estão nos dizendo que problemas enfrentam e o que devemos fazer nesse tipo de situação. Assim, podemos pensar de antemão em soluções para alcançar o E20", ressaltou o presidente da Isma.

Na atual temporada, a Índia produziu cerca de 40 milhões de toneladas de açúcar a partir da cana e direcionou 22,5 milhões de toneladas para o mercado interno. No início deste mês, o país atingiu, cinco meses antes do prazo, a meta E10, que visava a incorporar 10% de etanol à mistura da gasolina. Assim, 3,4 milhões de toneladas do adoçante foram convertidas na produção do biocombustível. Com a meta E20, a Isma estima que pelo menos 4,5 milhões de toneladas de açúcar sejam direcionadas à produção de etanol na atual temporada 2022/23.

Enquanto a Índia persegue a meta de dobrar o porcentual de etanol incorporado à gasolina em três anos, desde 2015, o porcentual obrigatório no Brasil é de 27%. "Foi nesse contexto que decidimos visitar o Brasil. O Brasil vem fazendo isso há mais tempo e precisamos entender qual pode ser o melhor modelo a ser adotado na Índia", explicou Aditya Jhunjhunwala. "Os indianos se apaixonaram pelo futebol brasileiro e agora é a hora de fazer uma nova amizade com o etanol", acrescentou Prashnat Kumar Banerjee.

Nos últimos três anos, o Brasil estreitou essa parceria com os indianos ressaltando os benefícios ambientais e socioeconômicos da produção e uso de etanol como fonte de energia renovável. No início deste ano, o então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, esteve na Índia e se reuniu com o ministro do Petróleo e Gás Natural do país, Hardeep Puri. Na ocasião, ambos se comprometeram a aprofundar a cooperação entre os setores privados sucroenergético e automotivo dos dois países. "Muitos dos fabricantes de automóveis brasileiros, como Toyota, Volkswagen, General Motors (Chevrolet), Hyundai, todos eles estão operando na Índia, então a tecnologia está disponível e agora é só atingir as metas de forma sinérgica", definiu o diretor-executivo da Siam.

Efeitos concretos da cooperação Brasil-Índia já são vistos no setor automotivo. No segundo semestre de 2022, a Índia iniciará a produção de carros com motores flex fuel - tecnologia brasileira que permite a utilização de 100% de etanol ou a mistura do biocombustível com o seu equivalente fóssil. O país asiático é o terceiro maior emissor de carbono do mundo e tem grande dependência do petróleo importado para abastecer o setor de transportes. No Brasil, a tecnologia flex fuel foi introduzida em 2003.

Açúcar - A Isma solicitou ao governo da Índia permissão para exportar 8 milhões de toneladas de açúcar na próxima temporada (2022/23), que se inicia em outubro próximo. O presidente da Isma, Aditya Jhunjhunwala, explicou que o volume faz referência a um cálculo que considera até mesmo a quantidade do adoçante a ser destinada para o etanol, uma vez que o país asiático busca expandir sua indústria do biocombustível. "Estamos muito esperançosos de que o governo decida sobre a questão até o mês de julho", afirmou.

O governo indiano impôs, em maio, restrições às exportações de açúcar do país para garantir a disponibilidade de adoçante no mercado interno. O teto de exportações na atual temporada 2021/22 está em 10 milhões de toneladas. Segundo a Isma, a definição de, ao menos, 8 milhões de toneladas para o próximo período de negociações ajudaria as usinas a assinar contratos de exportação previamente, antes do início da temporada.

O número proposto para a temporada 2022/23 faz parte de um cálculo da associação. "Assumimos que a produção será de 40 milhões de toneladas no próximo ano. Então, se nosso consumo foi de 27,5 milhões de toneladas e forem desviados 4,5 milhões de toneladas para a produção etanol, nos sobram as 8 milhões de toneladas que solicitamos", explica Aditya Jhunjhunwala. O presidente da Isma afirmou, ainda, que "os preços atuais estão bons" para o adoçante, o que permitiria ampliar as negociações com o mercado externo.

A Índia adota uma política governamental de subsídio aos fornecedores de cana-de-açúcar e de incentivos diretos para a indústria local exportar a commodity. A política já foi condenada pela Organização Mundial do Comércio (OMC), em um processo aberto por Brasil, Austrália e Guatemala, sob a alegação de que viola o Acordo sobre Agricultura, deprime os preços internacionais da commodity e gera prejuízos aos agricultores locais. Analistas do setor afirmam que o incentivo à produção de etanol à base de cana-de-açúcar é uma alternativa para o país controlar a oferta global do adoçante e estabilizar os preços sem a aplicação do subsídio.

Contato: gabriela.brumatti@estadao.com
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