Agronegócios
14/01/2019 10:20

Perspectiva: Demanda chinesa e clima na América do Sul devem orientar cotações em Chicago


São Paulo, 14/01/2019 - Investidores do mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) devem começar a semana atentos a relatos de vendas de soja dos Estados Unidos para a China, ao clima e à perspectiva de oferta na América do Sul e à competitividade do trigo norte-americano no mercado internacional. A paralisação parcial do governo norte-americano segue no radar dos traders em virtude da falta de relatórios do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) como o mensal de oferta e demanda e o semanal de exportações.

Os futuros de soja fecharam em alta na sexta-feira na CBOT, com compras técnicas e de oportunidade depois do recuo de mais de 1% na quinta-feira. Na semana, a oleaginosa acumulou perdas de 1,22%. Conforme o analista Aedson Pereira, da IEG FNP, investidores seguem atentos à negociação comercial entre Estados Unidos e China e à demanda chinesa pela oleaginosa norte-americana. "As variações nos preços vão sendo ditadas por compra da China nos EUA. Quando a China fecha alguma operação nos EUA, a bolsa esboça recuperação", apontou o analista. Os ganhos esbarram, contudo, em uma perspectiva de estoque ainda confortável. "Por mais que haja quebra de produção no Brasil, a Argentina deve ter uma safra boa e os EUA estão com estoques historicamente elevados. Chicago está com dificuldade de ultrapassar US$ 9,20/bushel, quanto mais bater em US$ 9,50/bushel."

Pereira destacou que, por enquanto, o mercado tem sido balizado por rumores de novas compras chinesas, já que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) continua não apresentando dados de venda semanais ou diários por causa da paralisação do governo norte-americano. "Nos bastidores, a gente tem acompanhado que estão acontecendo algumas operações, mas ainda em volumes muito pontuais. A firmeza dos preços está sendo balizada por esses reportes." O analista ponderou que a alta de sexta-feira foi mais uma recomposição de carteira após as perdas da véspera. "Mas na terça e quarta-feira podem surgir mais reportes de aquisições chinesas nos EUA. Aqui no Brasil a China não está conseguindo fazer novas compras." Pereira disse que produtores brasileiros estão focados na colheita e no cumprimento de contratos até que saibam efetivamente o volume que vão produzir em meio às perdas causadas por adversidades climáticas. Além disso, os preços atuais não atraem interesse de venda por causa do recuo do dólar e dos prêmios. "O mercado brasileiro está com liquidez praticamente nula."

Quanto à safra brasileira, Pereira ressaltou que a IEG FNP está fazendo um levantamento junto a produtores, cooperativas e tradings e avalia um corte na previsão de produção do Brasil entre 3 milhões e 5 milhões de toneladas, o que se traduziria em uma safra entre 117 milhões e 119 milhões de toneladas. Conforme o analista, o clima seco e as temperaturas elevadas causaram problemas principalmente no Paraná e em Mato Grosso do Sul, mas também em algumas áreas de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. "Mesmo que venha a chover em janeiro não é possível recuperar parte dessas lavouras, porque o dano foi severo em algumas áreas", disse. "Infelizmente o potencial de 120 milhões de toneladas já foi abandonado."

Além das perdas já consolidadas, o mercado segue atento ao clima no País. "Agora os olhos se voltam para Rio Grande do Sul e Santa Catarina bem como para a região do Matopiba", ponderou o analista. Segundo ele, para Norte e Nordeste, as previsões meteorológicas indicam períodos de seca no fim de janeiro. "Essas previsões trazem certa preocupação. Se faltar chuvas com um mínimo de regularidade, ou se a temperatura aumentar como aumentou no Paraná e no Rio Grande do Sul, podemos ter problemas de safra do Matopiba." Já para o Rio Grande do Sul, a perspectiva é de chuvas mais amenas e com boa distribuição, o que beneficiaria as lavouras do Estado.

Na Argentina, o plantio da safra 2018/19 de soja atingiu 96,1% da área prevista, de 17,9 milhões de hectares, informou na quinta-feira a Bolsa de Cereais de Buenos Aires. O plantio está 1,8 ponto porcentual adiantado em relação a igual período do ano passado. Segundo a bolsa, a tendência para a safra continua sendo favorável, apesar da disparidade de cenários nas regiões de cultivo. A maioria da safra (91%) se encontra em condições normais, boas e excelentes.

O trigo negociado em Chicago fechou em alta na sexta-feira. Segundo analistas, o preço do trigo norte-americano está US$ 1,50 por bushel mais baixo que o do grão do Mar Negro, o que vem atraindo compradores para o mercado futuro. "Os preços do trigo dos EUA caíram para níveis que o tornam bastante competitivo no mercado mundial", disse Don Roose, da US Commodities. Especialistas acreditam que a oferta da Rússia está apertada e que o país terá de restringir suas exportações em algum momento. Até agora, porém, isso não aconteceu. Em sua mais recente licitação, a agência estatal de grãos do Egito comprou 415 mil toneladas de trigo russo. Embora o trigo norte-americano esteja mais competitivo, os custos de frete acabam tornando o produto mais caro. Na CBOT, o vencimento março do trigo subiu 5,75 cents (1,12%) e terminou em US$ 5,1950 por bushel. Na semana, o contrato avançou 0,48%.

O milho terminou com ganhos na sexta-feira na CBOT, impulsionados pelo desempenho do trigo. Os dois grãos tendem a se mover na mesma direção porque um é substituto direto do outro em ração animal. A alta da soja também deu suporte às cotações. O milho vem acompanhando a soja porque o desempenho da oleaginosa deve influenciar as intenções de plantio do cereal nos Estados Unidos este ano. O vencimento março do milho ganhou 2,00 cents (0,53%), para US$ 3,7825 por bushel. Na semana, o milho recuou 1,24%. Esses fatores vêm tendo maior influência porque a paralisação parcial do governo dos EUA está deixando produtores e traders sem dados necessários para a negociação de commodities agrícolas. O aguardado relatório mensal de oferta e demanda do USDA, por exemplo, não foi publicado na sexta-feira. Já o relatório semanal de vendas externas dos EUA não vem sendo divulgado há três semanas. "Relatórios agrícolas publicados pelo governo dos EUA são considerados o padrão-ouro de informação por traders em todo o mundo", disse Sal Gilbertie, presidente e diretor de investimentos da Teucrium Trading.

Café: contratos sobem 2,2% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram valorização de 2,2% (225 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base vencimento março de 2019. As cotações encerraram na sexta-feira (11), a 103,85 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 106,25 cents (quarta, dia 9) e mínima de 100,40 cents (sexta, dia 4).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal Destaca que, tradicionalmente, o mercado físico brasileiro de café costuma ser calmo nas duas primeiras semanas do ano. Em 2019, os negócios foram ainda mais lentos por causa dos baixos preços oferecidos pelos compradores e da expectativa dos brasileiros com as mudanças que deverão ser feitas pelo novo governo de Jair Bolsonaro.

Em Nova York, a alta na semana ocorreu em virtude da "queda do valor do dólar frente ao real nas últimas semanas com o otimismo dos mercados com as primeiras medidas anunciadas pelo novo governo", diz Carvalhaes.

Conforme a corretora, os números divulgados sobre o crescimento da produção e das exportações brasileiras de café acabam sendo usados pelos operadores para pressionar as cotações em Nova York e, consequentemente, no físico brasileiro. O forte e constante crescimento do consumo mundial, ano após ano, tanto nos mercados tradicionais como em novos mercados na Ásia, como o da China, chama a atenção e cria manchetes nos noticiários e jornais ao redor do mundo, mas quase não influenciam as bolsas, onde os operadores estão voltados para o curto prazo e para o resultado que alcançarão no fim do mês, comenta Carvalhaes.

Açúcar: mercado deve continuar atento ao clima no Brasil
Participantes do mercado de açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures) seguem atentos ao tempo no Centro-Sul do Brasil. A depender do comportamento do clima, há possibilidade de o contrato março romper a resistência de 13 cents por libra-peso. Altas pontuais do petróleo, a melhora do humor no mercado e o enfraquecimento do dólar contribuem para ao avanço dos contratos do adoçante.

A previsão de chuvas apenas esparsas na região brasileira ao menos até o fim da próxima semana ofuscou a queda do petróleo e manteve os futuros do demerara em alta na sexta-feira. Falta de água nas lavouras e altas temperaturas podem prejudicar o desenvolvimento da cultura e a oferta do açúcar durante a próxima safra.

Na última sessão da semana, na sexta-feira (11), o vencimento março operou em alta e fechou o dia com ganho de 11 pontos, ou 0,87%, sobre quinta-feira, em 12,78 cents. Segundo analistas, a máxima, de 12,91 cents, mostra certo temor de investidores para apostas mais agressivas nesse mercado. Otimista, Michael McDougall, da ED&F MAN Capital Markets, lembra que os fatos de o açúcar ter se descolado do petróleo e a consolidação do açúcar entre 12,60 e 12,90 cents nesse primeiro vencimento ampliam a chance de o mercado testar os 13 cents

(Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com; tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com)
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