Agronegócios
25/03/2021 08:32

JBS/Guilherme Cavalcanti: tendência é lucro líquido "robusto" para 2021


Por Leticia Pakulski

São Paulo, 25/03/2021 - O diretor Financeiro global da JBS, Guilherme Cavalcanti, disse que o lucro líquido em 2020, de R$ 4,6 bilhões (-24,2% ante 2019), foi afetado pela variação cambial sobre empréstimos entre companhias. "Se não tivéssemos tido esse impacto, o nosso lucro líquido teria sido de R$ 10 bilhões. Como este ano a gente transformou esse endividamento entre companhias em um perfil de investimento, não vamos ter esse impacto negativo que tivemos em 2020", disse Cavalcanti. "A tendência é de que a gente tenha em 2021 um lucro líquido muito robusto e, consequentemente, um pagamento de dividendos muito forte também no ano de 2022."

O executivo destacou que, com baixa alavancagem financeira e fluxo de caixa livre forte, a empresa fez aquisições do negócio de margarinas da Bunge e da empresa de "case ready" (carne embalada) Empire Packing nos EUA, pagou R$ 1,44 bilhão em dividendos e fez recompra de ações de R$ 1,3 bilhão. "Essa geração de caixa livre forte fez com que a gente pudesse investir em fazer aquisições, no crescimento da companhia, em pagar dividendos, recomprar ações e ainda reduzir o endividamento", afirmou. A empresa está propondo pagamento de dividendos, para ser avaliado em assembleia em 28 de abril, de R$ 1 por ação, equivalente a R$ 2,5 bilhões, em 2021.

Ainda sobre o efeito do câmbio, Cavalcanti disse que 86% da receita da companhia é gerada em dólares. "Mais ou menos 25% a 30% da receita da JBS vem do Brasil, mas metade disso é exportação. Só 14% da nossa receita é gerada no mercado interno brasileiro em reais”, afirmou. Ele ponderou que o impacto da variação cambial sobre dívidas entre companhias deixa de ser sentido a partir do quarto trimestre de 2020. “O efeito do câmbio foi muito favorável no ano passado em todas as linhas, exceto no lucro líquido, mas do quarto trimestre para frente o efeito do câmbio vai continuar sendo muito favorável, seja na tradução dos resultados do exterior para o Brasil, seja nas exportações do Brasil, e a gente não vai ter esse impacto negativo do câmbio sobre passivo entre companhias, então a tendência é que a gente tenha lucros líquidos muito fortes para 2021."

Ainda de acordo com o executivo, a empresa também priorizou se financiar tomando dívida nos EUA. "A dívida hoje está mais em linha com a geração de caixa: 85% da nossa dívida hoje está nos EUA. Esse porcentual era de cerca de 60% a 65%", disse.

Segundo Cavalcanti, a empresa "continua avaliando aquisições ao redor do mundo", mas com “disciplina financeira". "Se não achamos o ativo certo no preço certo e que crie valor, a gente parte para uma expansão orgânica (novas plantas). Continuamos caminhando nessa direção estratégica, e a velocidade vai depender muito de a gente ter boas oportunidades de aquisição, se não vamos continuar fazendo a nossa expansão orgânica."

Com relação à demanda no mercado interno, o executivo destacou que foi forte no quarto trimestre e que é cedo para avaliar como ficará no começo deste ano. "O auxílio (emergencial) sempre ajuda o setor de alimentos, que é um setor essencial, mas a magnitude é muito difícil de prever." Para as exportações, a perspectiva segue positiva, com destaque para a China. "Das exportações globais da JBS, 31% foi direcionado para a China. E a China é um país que controlou a pandemia mais rapidamente e está voltando a crescer. A demanda da Ásia e, mais especificamente da China, tende a continuar muito forte."

Sobre os novos casos da peste suína africana, uma maior procura chinesa dependeria da evolução da doença, segundo Cavalcanti. "Se realmente os novos casos não forem controlados, você pode ter um efeito na demanda. O gap deste ano da produção de carne suína na China é um pouco menor do que o gap do ano passado, mas ainda é significativo", disse. "Se esses novos casos começam a não ser controlados, esse gap pode aumentar. Por enquanto, o que a gente espera deste ano é um gap de produção na China um pouco menor do que o ano passado, mas ainda significativo a ponto de manter importações bastante elevadas."

Para o primeiro trimestre, os preços sustentados da arroba do boi e do milho são desafios. Quanto ao cereal, ele destacou que é cedo para falar em necessidade de importação. "Está chovendo bastante, as perspectivas de plantio no Brasil são muito favoráveis", disse. Segundo ele, o problema é o preço internacional firme do grão e a cotação interna fortalecida com o dólar valorizado." Cavalcanti diz que a manutenção das margens dependerá do comportamento da demanda. “No ano passado a gente tinha posições de hedge que mitigaram muito esse risco, mas este ano você já começa a ter que repor esses hedges num nível mais alto e acaba apresentando um cenário sem dúvida mais desafiador para 2021."

Com relação ao repasse da alta da arroba do boi no Brasil para os produtos da empresa, o executivo ponderou que há "uma diferença muito grande" entre mercado externo e interno. "No mercado externo, a demanda da China está muito forte, o câmbio já é mitigado naturalmente, você pode ter algum repasse de preço, mas ainda é cedo para falar", disse. Já no mercado interno, o cenário é mais desafiador para esse repasse num ano com os impactos da covid-19 na economia. "O cenário do mercado interno para carne bovina no Brasil é extremamente desafiador com esse preço do gado."

Contato: leticia.pakulski@estadao.com
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