Agronegócios
28/06/2021 09:25

Perspectiva: mercado de grãos continua com atenção voltada para clima nos EUA


Por Leticia Pakulski, Isadora Duarte, Tomas Okuda e Augusto Decker

São Paulo, 28/06/2021 - Investidores do mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) começam a semana de olho no clima nos Estados Unidos e tentam antecipar os números de área plantada no país. As disputas sobre a mistura de biocombustíveis nos combustíveis nos EUA também seguem no radar.

Na sexta-feira, os futuros de soja negociados na CBOT fecharam em baixa, pressionados pelo desempenho do óleo, que caiu quase 5%. O vencimento novembro da soja em grão recuou 22,00 cents (1,70%), para US$ 12,6975 por bushel. A queda na semana foi de 3,29%. O óleo de soja foi pressionado por uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos que favoreceu pequenas refinarias de petróleo em disputa envolvendo exigências de mistura de biocombustíveis. Também persistem rumores de que o governo do presidente Joe Biden poderia flexibilizar essas exigências, apesar de não haver uma confirmação até o momento. O óleo de soja é uma das principais matérias-primas usadas na fabricação de biodiesel.

A AgResource Brasil destacou, em relatório que, não bastassem as incertezas em relação ao clima para as lavouras dos Estados Unidos e o compasso de espera por parte dos operadores em relação aos relatórios de área plantada e estoques trimestrais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), "mais uma notícia foi adicionada para mexer com o mercado". "Agora, cabe à Agência de Proteção Ambiental determinar quando e se essas isenções serão realmente concedidas", disse a consultoria. Para a AgResource, a sentença da Suprema Corte traz "pouca ou nenhuma clareza" sobre a produção e consumo de biocombustíveis no longo prazo. "Vale lembrar que a expansão da capacidade de geração desses combustíveis ainda está em andamento. E, inclusive, a construção de uma usina de US$ 550 milhões em Louisiana foi anunciada nesta manhã (manhã de sexta-feira)."

Em comentário enviado a clientes, a Pátria Agronegócios assinalou que a decisão da Suprema Corte contribuiu para a pressão sobre os futuros, associada a chuvas previstas para o cinturão nos próximos 10 dias. "Isso pode levar a uma retração no uso de biocombustíveis lá nos EUA, o que diminuiria demanda por etanol de milho e pelo biodiesel produzido a partir do óleo de soja, levando também a uma menor demanda por esses grãos", disse a consultoria. "Isso foi suficiente, juntamente com a melhora climática, para derrubar novamente as cotações em Chicago."

Quanto ao clima nos EUA, Arlan Suderman, da StoneX, destacou a ocorrência de 300 mm de chuva sobre partes do noroeste do Missouri na noite de quinta-feira, "dentro de uma área de chuvas muito fortes que se estendeu do nordeste do Kansas em uma faixa pelo Missouri". A corretora Labhoro apontou, em relatório semanal, que as previsões sugeriam chuvas abaixo do normal para as Dakotas, mas mantinham precipitações para boa parte do Meio-Oeste. Para o leste de Iowa, norte do Missouri, Illinois e Michigan eram esperadas chuvas fortes no último fim de semana. "Tais previsões animam produtores e negociantes, considerando que os volumes poderão amortizar a falta de umidade do solo nas regiões mais afetadas pela estiagem", disse a corretora.

Traders também ajustaram posições antes dos relatórios de área plantada e de estoques que o USDA publica depois de amanhã (30). De acordo com analistas consultados pelo Wall Street Journal, a área de soja deve ser estimada em 89,15 milhões de acres (36,08 milhões de hectares), em comparação a 87,6 milhões de acres (35,45 milhões de hectares) projetados no fim de março. Quanto aos estoques em 1º de junho deste ano, os analistas estimam 795 milhões de bushels (21,64 milhões de toneladas), ante 1,382 bilhão de bushels (37,62 milhões de toneladas) um ano antes. O analista Michael McDougall, da Paragon, destacou que há grande variação entre as projeções de área nos EUA, "com muitos olhando para a relação de preço de milho e soja e fazendo suposições fundamentadas". "É possível pensar que, com US$ 40 bilhões em dinheiro do governo, mais preços atraentes, produtores aumentariam a área tanto quanto possível."

Fundos de investimento reduziram suas apostas na alta dos preços de soja na CBOT na semana encerrada na última terça-feira (22). De acordo com dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), a posição líquida comprada diminuiu 21,44% no período, de 102.242 para 80.318 lotes.

Os futuros de milho fecharam em queda na sexta-feira na CBOT. Os negócios foram influenciados pela decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos sobre isenções a pequenas refinarias de petróleo. Com a decisão, essas refinarias ficam desobrigadas de cumprir integralmente exigências de mistura de biocombustíveis. No país, o etanol é feito principalmente com milho. O vencimento dezembro do grão caiu 16,75 cents (3,13%), para US$ 5,1925 por bushel. Na semana, o recuo foi de 8,30%.

O mercado também passou por ajustes antes dos relatórios de área plantada e estoques que o USDA publica nesta semana. Analistas ouvidos pelo Wall Street Journal acreditam que a área semeada com milho nos EUA será estimada em 93,818 milhões de acres (37,97 milhões de hectares), ante 91,144 milhões de acres (36,88 milhões de hectares) projetados no fim de março. Já os estoques no começo de junho devem ser estimados em 4,204 bilhões de bushels (106,78 milhões de toneladas), em comparação a 5 bilhões de bushels (127 milhões de toneladas) um ano antes. Karl Setzer, da AgriVisor, disse que os estoques podem ser maiores do que se imaginava, tendo em vista as vendas recentes realizadas por produtores.

A empresa de meteorologia DTN prevê chuvas nesta semana no sul de Iowa, no Missouri e em áreas de Illinois. No noroeste do Meio-Oeste, no entanto, as precipitações devem ser fracas. A expectativa é de que a seca na região persista durante o verão do Hemisfério Norte.

O saldo comprado de fundos em milho diminuiu 4,75% na semana encerrada na terça-feira (22), de 254.907 para 242.811 lotes, segundo números da CFTC.

A queda nas cotações internacionais do trigo de mais de 4,5% no acumulado do mês deve se estender nas próximas semanas e ao longo do segundo semestre se não houver extremos climáticos, avaliou o gerente sênior de Risco de Grãos e Algodão da consultoria Hedge Point, Roberto Sandoli. Segundo ele, o recuo dos preços deve-se à perspectiva de uma boa safra no Hemisfério Norte. "Toda semana estamos vendo revisões positivas na colheita do Hemisfério Norte. A produção da Europa tende a se recuperar e a região do Mar Negro deve ter uma safra próxima ao do ano passado", observou Sandoli.

Conforme o analista, se não houver "surpresas climáticas", a safra dos Estados Unidos, que está sendo colhida, também tende a ser "boa", o que pode aliviar a oferta mundial do cereal. Já do lado da demanda, as compras de trigo pela China estão no centro das atenções do mercado e podem frear o recuo dos preços internacionais do grão, segundo Sandoli. "Se os chineses voltarem a comprar ativamente o cereal, a queda pode ser limitada", projetou.

Na sexta-feira, os futuros de trigo negociados na CBOT fecharam em baixa, influenciados pelo desempenho do milho. Os dois grãos tendem a se mover na mesma direção porque um é substituto direto do outro em ração animal. Na quarta-feira, o USDA publica seus relatórios de área plantada e estoques. De acordo com analistas consultados pelo Wall Street Journal, a área total de trigo no país deve ser estimada em 45,951 milhões de acres (18,6 milhões de hectares), ante 46,358 milhões de acres (18,76 milhões de hectares) projetados no fim de março. Já os estoques do grão em 1º de junho deste ano devem ser estimados em 858 milhões de bushels (23,35 milhões de toneladas), em comparação a 1,028 bilhão de bushels (27,98 milhões de toneladas) um ano antes.

Na semana encerrada na terça-feira (22), fundos reduziram em 69,14% suas apostas na queda dos preços de trigo. A posição líquida vendida passou de 16.207 para 5.001 lotes.

O vencimento setembro do trigo na CBOT caiu 11,25 cents (1,73%) na sexta, para US$ 6,4075/bushel. O recuo na semana foi de 3,76%.

Café: contratos futuros sobem 3,85% na semana passada

Os contratos futuros de café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) tiveram valorização de 3,85% (585 pontos) na semana passada, no vencimento setembro/21. Na sexta-feira passada (25), o contrato fechou a 157,80 centavos de dólar por libra-peso, em comparação com 151,95 cents no dia 18. Na semana passada, a máxima do vencimento setembro/21 foi de 158,25 cents (na própria sexta, 25) e a mínima alcançou 149,05 cents (segunda, dia 21).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que o mercado físico brasileiro permaneceu calmo na semana passada, praticamente paralisado. "Repete esse comportamento nas três últimas semanas", diz Carvalhaes. Segundo a corretora, havia interesse comprador na sexta, mas o valor das ofertas, apesar de subirem com a alta em Nova York e subida do dólar, continuaram afugentando grande parte dos cafeicultores, que ficam fora do mercado aguardando preços mais altos. "Saíram alguns negócios, mas foram poucos para uma entrada de safra nova. Os negócios continuam travados no mercado físico brasileiro", acrescenta Carvalhaes.

A corretora ressalta, ainda, que as indústrias que abastecem o mercado interno brasileiro de café, o segundo maior do mundo, continuam enfrentando fortes dificuldades para conseguirem o volume de café necessário para atender suas necessidades. Os relatos são de que, por necessidade, estão aumentando a participação de café conilon em seus blends. "A produção brasileira de café 2021/2022 será intensamente disputada entre as indústrias que abastecem o consumo interno, as indústrias de café solúvel e os exportadores", conclui Carvalhaes.

Açúcar: menor produção no Brasil sustenta mercado futuro

O mercado futuro de açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) fechou a semana com recuperação, puxada pelo câmbio e petróleo favoráveis e a perspectiva de menor produção do Brasil. Esses três fatores devem continuar no foco do mercado nesta semana. Os preços do etanol também permanecem no radar.

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) informou na sexta-feira que a fabricação de açúcar no Centro-Sul do Brasil foi de 2,192 milhões de toneladas nos primeiros 15 dias de junho, queda de 14,35% ante os 2,560 milhões de toneladas de igual período de 2020. O mix sucroenergético na quinzena ficou em 53,75% para o etanol e 46,25% para o açúcar. A qualidade da matéria-prima processada na primeira quinzena de junho, medida a partir da concentração de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), atingiu 138,35 kg por tonelada ante 136,52 kg/t verificados em igual quinzena da safra passada, alta de 1,34%.

"A produção de etanol apresentou queda inferior àquela registrada para açúcar, indicando que as unidades produtoras priorizaram a produção do etanol anidro", disse em nota o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues. No acumulado da safra, a produção de açúcar soma 9,344 milhões de toneladas, montante 11,90% inferior aos 10,607 milhões de toneladas produzidos um ano antes. A moagem atingiu 165,592 milhões de toneladas, recuo de 11,58% sobre os 187,277 milhões de toneladas de igual período do ciclo 2020/21.

Os indícios de menor produção e mix mais alcooleiro deram sustentação ao açúcar. O contrato outubro do adoçante terminou a sessão de sexta-feira em alta de 0,41% (7 pontos), a 17,31 cents por libra-peso em Nova York. Foi uma semana de recuperação para a commodity, que avançou em quatro das cinco sessões e acumulou ganho de 3,90%.
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