Economia & Mercados
17/10/2022 17:28

Especial: Neobancos cancelam cartão de clientes em dia e geram onda de reclamações


Por Matheus Piovesana

São Paulo, 17/10/2022 - A auxiliar de produção Gleidsmar Santos, de 35 anos, tinha R$ 1.700 em limite no cartão de crédito do C6 até a semana passada. De forma repentina, descobriu que o cartão havia sido cancelado pelo banco digital mesmo pagando as faturas em dia. O relato não é único, e tem sido recorrente nas redes e em sites que reúnem reclamações de clientes.

"Perguntei se pagando a fatura que venceria no dia 10 de outubro o meu limite seria liberado. Fui informada de que não seria no momento, e de que talvez seria mais à frente", diz ela. Santos tinha o cartão do C6 há cerca de dois anos, inicialmente com um limite de R$ 500, que posteriormente foi elevado.

O mesmo aconteceu com a streamer de jogos online Gabrielle Araújo. Ela tinha limite de R$ 950 no cartão do C6, e foi informada por e-mail de que ele seria cancelado. "Também pagava antecipado muitas vezes, para liberar mais limite", afirma. "Eu usava sempre, era meu banco principal há mais de um ano."

Ela fez uma postagem no Twitter reclamando do cancelamento, o que fez com que mais pessoas entrassem em contato. "Falei com outras oito pessoas que me viram no Twitter, todas falaram que aconteceu o mesmo com elas, sem razão", comenta.

Além do próprio Twitter, outras redes sociais têm recebido relatos parecidos. Em um grupo no Facebook com mais de 42 mil membros que reúne clientes do C6, a maior parte das postagens nos últimos dias tem sido sobre o cancelamento de limites por parte do banco digital. Em muitos casos, o cliente tem o limite reduzido a R$ 0,01 - o que o deixa virtualmente sem cartão de crédito.

Segundo o Reclame Aqui, que reúne reclamações de consumidores sobre serviços diversos, o C6 foi a terceira empresa com mais reclamações na semana passada, com mais de 2.000 queixas. Nos últimos 30 dias, está na oitava posição, com 8.800.

Tanto no Reclame Aqui quanto nas redes sociais, o C6 tem informado que analisa de forma constante os perfis financeiros dos clientes, e que fez revisões nos limites de algumas contas. Procurado pelo Broadcast, o banco manteve o posicionamento.

PicPay

Em menor escala, clientes do PicPay também têm reclamado sobre o cancelamento de cartões de crédito. O designer John Maia, por exemplo, tinha um limite de R$ 700, retirado mesmo com as faturas pagas. "Usava (o cartão) principalmente em ferramenta de trabalho, como Adobe (programa de edição), assinaturas como YouTube, HBO", diz ele.

Maia possui outros dois cartões, do Banco Inter e do Mercado Pago, que costumava utilizar para compras com valores mais altos. No PicPay, tinha cartão de crédito há cerca de um ano, mas abriu conta há seis. "Achei que era um bug (o cancelamento do crédito), mas vi que aconteceu com muita gente."

Procurado, o PicPay informou que analisa informações com uso recorrente dos cartões, nível de risco do titular, regras de segurança e fatores de mercado.

"Com base nessas referências e de acordo com as cláusulas do contrato do cartão de crédito, a companhia identificou a necessidade de reduzir limites ou cancelar a função de crédito de alguns usuários que sofreram uma deterioração no perfil de risco de crédito", disse a empresa, em nota. "O PicPay salienta que a função débito, assim como outros serviços do app, continuam disponíveis para esses clientes."

Revisão

Em algumas respostas, o C6 justifica a revisão de limites através da resolução 96 do Banco Central, que entrou em vigor em março deste ano. A norma afirma que as instituições precisam comunicar o titular do cartão sobre a redução do limite com ao menos 30 dias de antecedência.

É possível fazer a redução sem observar este prazo caso haja uma "deterioração do perfil de risco de crédito do titular da conta, conforme critérios definidos na política de gerenciamento de risco de crédito", afirma o BC. O cancelamento repentino aconteceu nos relatos colhidos pela reportagem.

Sem garantias, o cartão de crédito tem sido um dos vilões do crescimento da inadimplência no País: em agosto, os atrasos entre pessoas físicas chegavam a 7,2%, de acordo com o BC, crescimento de 2,2 pontos porcentuais em um ano. No crédito livre para pessoas físicas, o índice subiu 1,2 ponto, para 5,6%. Bancos e fintechs têm apertado as normas para a concessão do produto.

Contato: matheus.piovesana@estadao.com
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