Economia & Mercados
08/07/2022 17:01

Especial: Sob temor de recessão, empresas nos EUA devem ter a menor alta de lucros desde 2020


Por Aline Bronzati, correspondente

Nova York, 08/07/2022 - As empresas de capital aberto nos Estados Unidos devem entregar o menor crescimento de lucros no segundo trimestre desde o fim de 2020, em meio ao temor de uma recessão à vista. Além de cristalizar o efeito da subida de juros para controlar a disparada de preços no país, os resultados do período podem se tornar um desafio para o desempenho futuro das ações em Wall Street, segundo analistas consultados pelo Broadcast.

A temporada de balanços do segundo trimestre nos Estados Unidos tem início na próxima semana, com gigantes do setor financeiro como Citigroup, JPMorgan, Wells Fargo e Morgan Stanley revelando seus números do período. Além dos grandes bancos norte-americanos, a PepsiCo, de alimentos e bebidas, puxa a fila.

O lucro das empresas do S&P 500, que reúne as 500 maiores companhias listadas nos EUA, deve apresentar expansão de 4,1% no segundo trimestre ante um ano, de acordo com estimativa revisada para baixo da norte-americana FactSet. Antes, previa alta de 5,9%. Marcará, assim, o menor crescimento de lucros reportado pelo índice desde o quarto trimestre de 2020, quando o avanço foi de 3,8%, e as economias foram impactadas pelos bloqueios implementados para conter a pandemia da covid-19.

"Seis dos 11 setores (do S&P 500) devem relatar crescimento de lucros no segundo trimestre frente um ano, liderados pelos setores de energia, indústria e commodities", diz o vice-presidente e analista sênior de resultados da FacSet, John Butters. "Por outro lado, espera-se que cinco segmentos tenham uma queda nos lucros, liderados pelo setor financeiro", acrescenta.

Em termos de receitas, contudo, os analistas seguem otimistas. A estimativa da FacSet aponta para um aumento de 10,1% no segundo trimestre frente um ano antes, contra uma projeção anterior mais tímida, de avanço de 9,6%. "Todos os setores (do S&P 500) devem relatar um crescimento ano a ano nas receitas", afirma Butters, mencionando que cinco deles devem entregar avanço de dois dígitos, liderados pelos setores de energia e commodities, justamente os que tiveram seus preços pressionados para cima em meio à guerra na Ucrânia, em seu quinto mês.

O pontapé da temporada de resultados nos EUA será dado pela PepsiCo na próxima terça-feira, dia 12, antes da abertura dos mercados em Wall Street. Para analistas que acompanham a empresa, a gigante de bebidas e alimentos terá um trimestre positivo, mas com pressão nas margens, após um forte conjunto de resultados nos três meses anteriores. Descartam, porém, uma nova revisão para cima na previsão da companhia, como já fez ao fim de março. "Acreditamos que o impulso da marca, principalmente em lanches, apesar da pressão modesta nas margens, manterá as metas dos lucros para 2022 intactas", dizem analistas do Credit Suisse em comentário a clientes.

Nesse contexto, o JPMorgan manteve inalterada sua projeção para o lucro por ação da PepsiCo, de US$ 1,75 no segundo trimestre, mas cortou a anual em dois centavos, para US$ 6,65, mantendo a recomendação de desempenho acima do mercado, overweight, no jargão financeiro. "Até agora, o consumo provavelmente está se saindo bem, mesmo com o preço aumentando, enquanto o ambiente de custos provavelmente não piorou muito desde o primeiro trimestre", dizem Andrea Teixeira, Drew Levine e Shovana Chowdhury, do JPMorgan, que esperam, porém, uma dose de "conservadorismo" ou "cautela" nos comentários da empresa dadas as incertezas para o segundo semestre.

Gatilho para ações

Os resultados do segundo trimestre são vistos como um dos principais gatilhos para o desempenho futuro das ações das companhias listadas nos EUA, na opinião de bancos em Wall Street e consultorias econômicas. Diante de uma inflação persistente e o risco de uma recessão a reboque, o horizonte, porém, não é dos melhores.

"Embora o crescimento da receita deva permanecer relativamente saudável, vemos decepção frente ao consenso sobre as perspectivas para as margens de lucro", diz o diretor global de estratégia de ações da Oxford Economics, Daniel Grosvenor.

De acordo com o Morgan Stanley, as estimativas de ganhos para o S&P 500 e o Nasdaq 100, que reúne as cem maiores empresas não financeiras da bolsa de tecnologia, estão 20% acima das vistas após a grande crise financeira de 2009. "Vários sinais importantes apontam para uma desaceleração das expectativas de lucros futuros nos próximos meses a partir desses níveis elevados", afirma a equipe de análises financeiras do banco norte-americano.

As próprias empresas já estão sinalizando um guidance negativo para o lucro por ação no segundo trimestre e no fechamento de 2022. Das mais de 100 empresas que forneceram uma orientação para o intervalo de abril a junho, 71 foram negativas e 32 positivas. "De fato, o segundo trimestre tem o maior número de empresas do S&P 500 emitindo orientação de EPS negativa para um trimestre desde o quarto trimestre de 2019", observa Butters, da FacSet.

Além do cenário macro, as sinalizações negativas para o segundo trimestre têm como pano de fundo ainda fortes perdas em Wall Street. Com o aperto monetário mais intenso nos EUA, diante da maior inflação em quatro décadas, cresce o temor de que a maior economia do mundo enfrente uma recessão em breve, o que afeta o apetite de risco em Wall Street. Como consequência, o S&P 500 teve na primeira metade do ano o seu pior semestre desde 1970, quando a inflação também assombrava os Estados Unidos.

Contato: aline.bronzati@estadao.com
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