Economia & Mercados
19/08/2022 19:32

Especial: Crise energética pode frear, mas não mudar rota em direção a combustíveis mais limpos


Por Eduardo Laguna

São Paulo, 19/08/2022 - A guerra na Ucrânia colocou o Ocidente, sobretudo a Europa, em situação de vulnerabilidade energética, produzindo também um salto nas cotações do petróleo que pode atrasar a transição do mundo em direção às energias renováveis.

Os preços elevados dos combustíveis fósseis - como o carvão, cujo consumo aumentou na Europa em substituição ao gás russo - representam um menor estímulo a investimentos em fontes de energia limpas. A própria transição energética é um motivo por trás da disparada nos preços dessas commodities, dada a redução dos investimentos nas matrizes mais poluentes, a chamada inflação verde.

É um contexto que pode adiar, mas não reverter a tendência, segundo especialistas. "No longo prazo, está estabelecido que o mundo vai caminhar em direção à energia limpa, mas o longo prazo pode ter lombadas no caminho", comenta a coordenadora do programa de Finanças Sustentáveis do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), Annelise Vendramini.

Ela cita avanços tanto na sociedade quanto nas políticas públicas que reconhecem as ações humanas por trás de impactos inéditos no planeta, como o aquecimento global, e que as empresas, por serem parte do problema, são parte também da solução.

Estimativas da Global Sustainable Investment Alliance (GSIA), com dados do início de 2020, apontam a um volume de US$ 35,3 trilhões, um crescimento de 55% em quatro anos, em investimentos considerados sustentáveis nos maiores mercados financeiros do mundo.

Ronaldo Seroa da Motta, professor de Economia Ambiental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), lembra que a guerra no Leste Europeu também é um incentivo ao desenvolvimento mais rápido de fontes de energia limpa, uma vez que Europa e Estados Unidos estão despejando dinheiro na substituição do gás russo. "Se não der certo até o inverno na Europa, vão ter que queimar carvão nas térmicas porque não vão deixar as pessoas morrerem de frio", pondera o professor.

Na avaliação de Vera Kanas Grytz, sócia responsável por comércio internacional do Tozzini Freire Advogados, os consumidores se mostram hoje mais dispostos, do que duas décadas atrás, a assumir o custo de transição à economia de baixo carbono. Ao mesmo tempo, observa, também existe um viés protecionista que aproveita a legitimidade da causa para fechar mercados. "Pela produção agrícola menos competitiva, a Europa tem um histórico de exigências ambientais maiores e viés protecionista", afirma.

Contato: eduardo.laguna@estadao.com
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