Economia & Mercados
22/08/2022 11:10

Especial: Mercado Livre lança mão do caixa para garantir liquidez ao próprio criptoativo


Por Aramis Merki II e Talita Nascimento

São Paulo, 18/08/2022 - O Mercado Livre anunciou na última quinta-feira, 18, o lançamento de uma nova criptomoeda, denominada Mercado Coin, feita em parceria com a empresa Ripio. A Mercado Coin começa valendo 10 centavos de dólar e passará então a obedecer à lógica de precificação do mercado. A moeda será recebida como cashback nas compras feitas no comércio eletrônico e ficará disponível para ser usada em novas compras, mas será possível comprar e vender o criptoativo via Mercado Pago.

Para o cliente, o cashback em Mercado Coin aparece já convertido em reais como opção para abater do valor de determinados produtos à venda no comércio eletrônico do Mercado Livre. No entanto, por trás, existe uma grande estrutura para caracterizar esse ativo como criptomoeda e não como um simples sistema de pontos.

O Mercado Livre criou um bolsão de liquidez para dar conta desse novo produto. Nesse bolsão, há uma quantia em dinheiro e em Mercado Coins. “É dinheiro do caixa do Mercado Livre para garantir liquidez nas duas pontas, de compra e de venda”, afirmou o Gerente Sênior de Desenvolvimento Corporativo, Guilherme Cohn.

Essa quantia armazenada no bolsão garante que o cliente que receber o cashback possa escolher não usar o valor em novas compras e, sim, vender sua Mercado Coin pela cotação do dia e usar o valor em reais para pagar contas ou sacar em dinheiro.

A empresa não informou, porém, qual o valor separado para isso, apesar de o porta-voz ter usado o adjetivo “grande” para definir a quantia. A Mercado Coin usa o blockchain da Ethereum e obedece ao protocolo ERC-20, considerado sólido por especialistas da área. Mas a empresa não revela qual o tamanho da emissão. O whitepaper - documento que acompanha as emissões públicas de tokens com as diretrizes do projeto - não foi disponibilizado.

A Mercado Coin será emitida à medida em que os clientes receberem a moeda como cashback. Com a expansão planejada para outros países, o capital reservado para a liquidez da moeda deverá crescer. Cohn disse ao Broadcast que o Mercado Livre controla a quantidade de novas emissões e que existe essa perspectiva de novas emissões à medida que as vendas e a demanda pela moeda crescerem.

Novas emissões

Como o principal meio para obter a moeda é via cashback, novas emissões estariam atreladas ao aumento de vendas do Mercado Livre. A princípio o cashback em Mercado Coin estará disponível a 500 mil usuários, mas nas próximas semanas, o benefício será disponibilizado a toda a base de clientes da empresa.

O ativo poderá ser negociado no Mercado Pago, a carteira digital da empresa que passou a oferecer criptoativos em dezembro do ano passado. A princípio, o ativo não será listado em outras exchanges, o que representa menos liquidez para os usuários, comenta Rodrigo Borges, analista de cripto da Ohm Research. Não está descartada, porém, a possibilidade de liberar a compra e venda da moeda em outras bolsas cripto.

A moeda da empresa coloca cripto como base para um serviço que já é conhecido e agrada ao consumidor, o de cashback. “Todas as grandes corporações do mundo tem um case em que faz sentido ter uma moeda própria", avalia Borges. Ele levanta a hipótese de que uma companhia presente em vários países poderia emitir seu token, uma stablecoin lastreada em dólar, por exemplo, e transacionar de forma independente do mercado financeiro com ganho de eficiência. Claro que a possibilidade esbarra em questões regulatórias, além de depender da absoluta confiança nas redes descentralizadas.

A equipe jurídica e de auditoria do Mercado Livre considera que a Mercado Coin é um caso clássico de utility token, afirma Cohn. A definição é usada para o ativo digital que é criado para conferir direitos de aquisição de produtos ou serviços. É diferente de quando o token é classificado como valor mobiliário. Nesse caso, a emissão precisaria ser registrada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Segundo o executivo, o projeto foi bem recebido pelo Banco Central, que regula o ambiente de meios de pagamento a que o Mercado Pago está submetido.

Contatos: merki@estadao.com; talita.ferrari@estadao.com
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