Economia & Mercados
30/12/2020 14:54

Exclusivo/CLP: Amazonas teve o pior quadro de covid-19 em 2020, seguido de RR e RJ


Por Thaís Barcellos

São Paulo, 30/12/2020 - O Amazonas teve o pior quadro diante da pandemia de covid-19 neste ano, aponta a avaliação final do Ranking Covid-19 dos Estados desenvolvido pelo CLP - Centro de Liderança Pública. Colado na segunda posição, ficou Roraima, seguido por Rio de Janeiro. Na outra ponta, Acre, Bahia e Santa Catarina conquistaram as melhores classificações. Por regiões, os piores desempenhos são de Norte e Centro-Oeste, essa última considerada a que menos se esforçou para combater o crescimento da doença, segundo o CLP. O Sul, por sua vez, tem a melhor avaliação no acumulado do ano, mas sofre mais com o crescimento recente de casos da doença.

O Ranking Covid-19 dos Estados foi criado para analisar comparativamente a ação das 27 unidades federativas no enfrentamento à doença. "O benchmark é algo trivial em outros países. Aqui é ainda tabu. Somente com essa comparação que a gente pode incentivar a melhoria de políticas públicas", destaca o gerente de Causas do CLP, José Henrique Nascimento, sobre a iniciativa de comparar a atuação dos Estados na pandemia por meio de números que refletem o dia-a-dia da população.



O balanço anual do ranking considerou os casos de coronavírus dos 26 Estados e do Distrito Federal até o dia 21 de novembro e também de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que é uma forma de suavizar a subnotificação de contágio por covid-19. No caso da SRAG, foram feitos ajustes por causa da sazonalidade e para abater os números da doença respiratória que tiveram relação confirmada com a infecção por coronavírus.

O levantamento também levou em consideração a média de letalidade de covid-19 e de SRAG no período, a partir da semana epidemiológica 14 (29/03), quando todos os Estados já tinham ao menos um contágio pelo vírus. Ainda foram considerados os dados de isolamento social total e sua variação até a 2ª semana de setembro. Depois, o CLP concluiu que houve a reabertura total nos Estados, imputando nota zero para todos.

O balanço é uma avaliação final da "primeira tsunami" de covid-19 no Brasil, diz Nascimento, fazendo referência à permanência de nível alto de casos e de mortes durante a maior parte do ano, além da incerteza sobre uma nova onda no País. O objetivo do balanço foi identificar, comparativamente, de forma objetiva, quais os Estados tiveram mais sucesso - ou não - em salvar vidas.

Epicentro da doença na chegada da pandemia no Brasil e palco de imagens que marcaram o ano, como a abertura de valas comuns para enterrar as vítimas da doença, o Amazonas não conseguiu escapar do primeiro lugar entre os Estados com pior quadro de covid-19 no País, argumenta o gerente de Causas. Mesmo com controle posterior, até o dia 21 de novembro, o Estado tinha o quarto maior número de contágio por covid-19 por milhão de habitantes (pmh) e estava em sexto entre as maiores taxas de letalidade (4,16%).

Roraima, segundo no ranking de pior atuação contra a pandemia e Estado conhecido pela falta de infraestrutura, foi líder em casos por milhão de habitantes (47,21 mil). Já o Rio de Janeiro permaneceu durante todo o período com a maior taxa de letalidade. A média foi de 8,03%, bem acima do segundo colocado, Pernambuco (6,93%). "Para um Estado com a capacidade financeira do Rio de Janeiro e território pequeno, não ter conseguido controlar a pandemia é uma vergonha", critica Nascimento.

Com a melhor classificação no ranking, o Acre, porém, não convence, diz o gerente de Causas. "Essa classificação pode estar relacionada a prováveis subnotificações, não houve nenhuma decisão estratégia que proporcionasse uma boa atuação contra a doença. Se o Estado não mostra dados, pode ser beneficiado." No levantamento, o Estado aparece com a menor letalidade do País por SRAG (3,79%) e uma das mais baixas por covid-19 (2,55%), embora o número de casos de coronavírus por milhão de habitantes (pmh) seja o oitavo maior do Brasil (19,61 mil).

Já a Bahia merece destaque positivo, acrescenta Nascimento, graças à implementação, desde o início da pandemia, de atendimento online da população, com encaminhamento, caso fosse necessário, para unidades de saúde próximas, de forma georreferenciada. A Bahia é o sexto Estado com menos infectados por covid-19 por milhão de habitantes (pmh), de 11,25 mil, e tem taxa de letalidade de 2,54%, a 7ª mais baixa do Brasil. A diferença para o Acre está na elevada taxa de letalidade por SRAG, de 10,24%, explica Nascimento.

Sobre Santa Catarina, Nascimento diz que a avaliação é difícil, porque foi de um dos Estados que mais controlou a doença no início da pandemia para o mais afetado pela ressurgência de contaminação recente. Até 21 de novembro, o Estado estava em posição mediana em número de casos por milhão de habitantes (pmh), de 15,42 mil, e tinha a menor taxa de letalidade por covid-19 (1,54%).

"Em Santa Catarina, houve o pedido de impeachment do governador [Carlos Moisés], com politização desse processo. Sem comandante, o barco fica à deriva. Hoje, neste exato momento, é o pior estado em números de covid-19: em casos e mortes, em ocupação de leitos, principalmente no litoral. Foi um Estado que fez um trabalho interessante no início, e agora a população está sendo punida por essa politização, diz Nascimento.
O gerente de Inteligência Técnica do CLP, Daniel Duque, ainda lembrou que, no caso do Rio de Janeiro, o foco em questões políticas também prejudicou o combate à pandemia, com o afastamento do governador Wilson Witzel, além de denúncias de corrupção nas compras relacionadas à doença.

O que dizem os Estados

O governo do Amazonas destacou que adotou medidas de distanciamento social três dias depois do primeiro caso no Estado e que o estudo "Curva Epidemiológica da Covid-19 em Manaus" mostrou que as ações tomadas ajudaram a salvar ao menos 2.500 vidas nos primeiros meses de enfrentamento da Covid-19. O governo ainda disse que, em virtude do aprimoramento de tratamentos e da expertise das equipes, a taxa de letalidade caiu de 8,9% em abril para 2,6% atualmente.

Em nota, a assessoria de comunicação da secretaria de Saúde da Bahia destacou que o Estado tem a menor taxa de letalidade do Nordeste, de 1,9%, e a 7ª menor do Brasil. "Infelizmente, mais de 8.500 vidas foram perdidas e não há o que comemorar, mas há um esforço contínuo para ofertar em quantidade e qualidade, o melhor serviço assistencial possível", disse, citando ações para ampliação de testes, que, segundo a secretaria, permitiram análise "em tempo oportuno" para a tomada de decisão em nível estadual e municipal.

O governador de Santa Catarina, Carlos Moisés, disse, por escrito, que a boa classificação no ranking é resultado do comprometimento das equipes que estão na linha de frente de enfrentamento à pandemia no Estado e das ações do Governo do Estado e dos municípios. Moisés destacou a ampliação do número de leitos de UTI e a criação do Centro de Operações de Emergência em Saúde (COES). "Assim, hoje temos a menor taxa de letalidade do País (1,02%)."

Já a secretaria de Saúde de Pernambuco destacou que foi o segundo Estado com maior proporção de leitos de UTI adulto para covid-19 em relação ao tamanho da população, segundo a Fiocruz. No ápice da pandemia, houve a abertura de 2 mil leitos hospitalares, sendo 900 de UTI. Com a queda de casos, alguns foram bloqueados, mas há a previsão de abertura de 379 leitos até o fim do ano com a ressurgência da doença. A secretaria ainda pontuou que Pernambuco foi o quinto Estado do País em número de testes RT-PCR para detecção de covid-19, segundo o Ministério da Saúde.

Em nota, o governo do Acre contesta as avaliações do gerente de Causas do CLP, José Henrique Nascimento. Segundo a nota, o gerente do CLP acusa o Estado de omissão de informações sem prova. O governo afirma que os dados oficiais sobre o enfrentamento à covid-19 no Estado estão disponíveis no portal Pacto Acre Sem COVID (http://covid19.ac.gov.br/pacto). O governo ainda acrescenta que foi oferecido atendimento online, houve aumento de leitos clínicos e de UTI. Além disso, argumenta que o Acre foi um dos últimos Estados a flexibilizar o isolamento social. "Como ficamos na primeira posição sem ter acertado nos requisitos propostos como metodologia pelo referido site?", questiona.

Os outros Estados citados não responderam os contatos da reportagem até a publicação desta matéria.

Contato: thais.barcellos@estadao.com
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast+ e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso