Economia & Mercados
05/10/2021 09:09

Exclusivo: Cenário adverso já reduz emissões de bonds no exterior, diz Bradesco


Por Cynthia Decloedt

São Paulo, 04/10/2021 - A mudança do cenário no exterior nos últimos dias está diminuindo o número de ofertas de títulos de dívida (bonds) no exterior, mercado onde as empresas no mundo todo se financiam. Nas duas últimas semanas, o volume de emissões de empresas norte-americanas e de mercados emergentes encolheu e as companhias brasileiras deixaram na gaveta o lançamento de ofertas que estavam previstas para esse período, que em todos os anos é a segunda melhor janela para captações no exterior.

Na semana em que os problemas com a construtora Evengrande evoluíram para um desfecho de potencial calote em dívidas de US$ 300 bilhões e os sinais de retirada dos estímulos da economia norte-americana ficaram mais claros, o total de emissões por empresas de melhor qualidade, ou seja, que têm o selo grau de investimento, caiu para cerca de US$ 14 bilhões. A média mensal de captações para esse grupo varia de US$ 30 bilhões a US$ 40 bilhões. As captações com emissão de bonds por empresas de países emergentes também ficaram reduzidas à metade. Do Brasil, duas empresas testaram o mercado, com operações muito pequenas e público certo. Na semana passada, a melhora no humor dos investidores elevou para US$ 25 bilhões as captações de empresas com grau de investimento norte-americanas.

Mas o mercado ainda não melhorou o suficiente para justificar a retomada da fila de lançamentos de bonds que estavam previstas por emissores brasileiros, na opinião do responsável pelo mercado de dívida internacional do Bradesco BBI, Gilberto Noboru Nakayasu. Segundo ele, a perspectiva é que a fila de emissões brasileiras se arraste e, eventualmente, algumas companhias considerem deixar para janeiro suas captações no mercado externo ou busquem alternativas no mercado local.

"O pipeline pode ser que fique mais magro agora e que se recupere em meados de outubro ou novembro", afirma. Ele lembra que havia expectativa de que as emissões ganhassem ritmo em setembro, quando começa a segunda melhor janela para captações no mercado de dívida externa. Nakayasu conta que existem entre oito e dez empresas que têm intenção de captar por meio da emissão de bonds.

O executivo diz que o impacto de Evergrande na economia chinesa causa muito desconforto, pela importância da China para os exportadores de commodities e para o crescimento mundial. Ao mesmo tempo, o Banco Central norte-americano (Fed) está preparando o mercado para a reversão do estímulos à economia, diminuindo a liquidez, e para um aumento de juro no ano que vem. As taxas futuras dos Treasuries, que compõem a remuneração paga pelas empresas nas novas emissões de bonds, já estão respondendo em alta.

Nakayasu observa que de toda a forma, a liquidez, que tem atraído muitos investidores para os bonds brasileiros e de emergentes, "está lá". "As assets e fundos seguem requisitando papéis com valor agregado, com yield maior, mas está mais seletivo sobre onde alocar recursos", pondera.

O executivo do Bradesco estima que, sem evoluções negativas dos fatores que vêm abalando o mercado, incluindo as incertezas domésticas, existe uma chance de o total de captações feitas por emissores brasileiros no exterior encostar na marca de 2017, última vez que o montante levantado ultrapassou US$ 30 bilhões. Este ano, já foram US$ 26,1 bilhões em emissões feitas pelo Brasil no mercado de dívida internacional.

contato: cynthia.decloedt@estadao.com
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