Economia & Mercados
03/10/2023 16:57

Nodal, ligada ao grupo Deutsche Börse, se junta a fundo para criar bolsa de energia no Brasil


Por Ludmylla Rocha e Luciana Collet

São Paulo, 03/10/2023 - A Nodal, ligada ao European Energy Exchange (EEX), instituição ligada ao Deutsche Börse Group que atua em bolsas de energia em 21 países, e o L4 Venture Builder, fundo voltado a inovação apoiado pela B3, lançam nesta terça-feira, 03, a joint venture N5X, que busca se estabelecer no Brasil como uma bolsa de energia.

As operações da nova plataforma de negociação de energia devem começar formalmente em 2024, mas, com o lançamento, a empresa esperar iniciar conversas com reguladores e agentes do mercado e avançar na formação de equipe, a fim de desenvolver produtos que atendam à realidade brasileira do mercado de energia e destaquem a iniciativa frente a outras já existentes, afirmou ao Broadcast Energia a presidente da N5X, Adriana Barbosa.

"É um projeto de longo prazo. O que a gente está fazendo agora é anunciando para o mercado a nossa entrada, porque o que a gente aprendeu a partir da experiência da EEX entrando no Japão, nos países da Europa, nos Estados Unidos, que é superimportante a gente 'cocriar' os serviços e soluções com os participantes e os reguladores", disse.

Num primeiro momento, a empresa pretende oferecer a possibilidade de formalização dos contratos bilaterais com entrega física, modelo já vigente no mercado nacional. No futuro, porém, a ideia é lançar os derivativos financeiros de energia e avançar no estabelecimento de uma clearing, para atuar como contraparte central nas transações de energia, medidas que demandarão registros em instituições como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central. Este processo, no entanto, ainda não foi iniciado. "É uma jornada que não é de um ano, ela é maior do que isso. Aos poucos a gente vai trabalhando em paralelo para a gente conseguir trazer isso para o mercado", disse.


Adriana Barbosa: Bolsa de Energia é projeto de longo prazo, como aconteceu nos países da EEX.
Foto: Caue Diniz/N5X


O roteiro é similar ao que já vem sendo trilhado pelo Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE), infraestrutura que hoje se apresenta como principal ambiente de negociação de energia no Brasil, criada há dez anos por um grupo de comercializadoras de energia e que também tem em seus planos se desenvolver e se transformar em uma bolsa de energia. Hoje, essa empresa oferece serviços de negociação em tela e a formalização de operações com contrato de entrega física e derivativos, um segmento aprovado pela CVM, porém, ainda com baixa liquidez.

O mercado brasileiro também já contou com uma outra iniciativa que visava desenvolver o mercado de bolsa de energia, a Brazilian Intercontinental Exchange (Brix), constituída em 2010 pelo economista e fundador da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Roberto Teixeira da Costa, em parceria com a Intercontinental Exchange (ICE), e o empresário Eike Batista. A iniciativa, porém, não deslanchou.

Barbosa destaca como diferencial da N5X a experiência internacional da Nodal e o conhecimento do fundo L4 Venture Builder no mercado brasileiro. "A gente vai conseguir juntar a experiência em infraestrutura no setor financeiro local com a infraestrutura em bolsa de energia para a gente conseguir trazer a nova bolsa de energia para o Brasil", disse.

Novo momento no Brasil

De acordo com a executiva, a decisão de apostar no mercado, neste momento, considerou o tamanho do mercado consumidor brasileiro de energia, a oferta e expansão das fontes renováveis e a alteração de regras prevista para janeiro de 2024, quando todos os consumidores atendidos em alta tensão poderão escolher seu fornecedor no mercado livre de energia (Ambiente de Contratação Livre, o ACL). Hoje, o acesso é restrito a consumidores com demanda superior a 500 quilowatts (kW).

Atualmente, pouco mais de 35% da energia elétrica consumida no País é negociada no mercado livre, no qual atuam cerca de 12 mil consumidores, com 35,1 mil unidades de consumo (fábricas, lojas, escritórios). Mas estimativas de mercado apontam que o número de consumidores que poderá migrar para o mercado livre a partir do ano que vem supera os 165 mil.

Do total de energia no ACL, cerca de 70% são negociados diretamente entre cliente e fornecedor, aponta a N5X. A BBCE afirma que 30% da energia do mercado livre passa pela empresa, ou via formalização de contratos (boleta), ou via negociação em tela. Barbosa salienta, porém, que apenas 1,45% das operações hoje são feitas em tela, o que denota um enorme potencial de crescimento.

Embora a perspectiva seja positiva em termos de crescimento dos volumes de energia no mercado livre, o cenário atual de preços é desafiador para plataformas de negociação de energia, que visam liquidez e alto giro financeiro. Há mais de um ano, os preços de energia de curto prazo operam perto do piso regulatório, reflexo da boas condições de geração de energia, sobretudo, por conta dos elevados níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas. Essa condição dificulta operações com energia de curto prazo e de contratos derivativos, que são estimulados com a volatilidade de preços.

"Tem uma jornada enorme do ponto de vista regulatório para a gente conseguir se tornar o que a gente quer ser. Hoje, o PLD [Piso de Liquidação de Diferenças] está no piso, mas não necessariamente vai acontecer isso em 2025, 2026, 2027. Os acionistas entenderam que esse é um projeto de longo prazo", disse.

"A gente está falando cinco, dez, quinze anos, que é um pouco como aconteceu nos países da EEX, na Nodal nos Estados Unidos, para a gente conseguir chegar a um cenário de maturação do negócio e do mercado", completou.

Barbosa afirmou ter como meta aumentar o índice de rotatividade do mercado de energia, medido pela relação entre o volume de energia elétrica transacionado e o volume consumido para um patamar de 10 vezes, similar ao visto em mercados de energia internacionais. Em 2022, esse índice foi de 4,27 vezes. Em 2019, chegou a 4,57, segundo dados da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel).

"Para a gente chegar lá, tem algumas coisas: trazer novas classes de produtos como os derivativos, mas também ter a oportunidade de, como aconteceu em outros países, fazer não só energia elétrica", disse. Entre as alternativas no radar estão produtos ambientais e gás natural.

contato: energia@estadao.com
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast+ e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso