Economia & Mercados
16/05/2023 10:14

Exclusivo: teto no rotativo poderia tirar cartões de 40 mi de brasileiros, diz Vélez, do Nubank


Por Matheus Piovesana e Altamiro Silva Junior

São Paulo, 15/05/2023 - A imposição de um teto aos juros do crédito rotativo poderia retirar de 30 milhões a 40 milhões de pessoas do mercado de cartão de crédito no Brasil. A estimativa, feita ao Broadcast pelo CEO e cofundador do Nubank, David Vélez, mostra, na visão dele, que uma solução para reduzir os juros da modalidade, que estão entre os mais altos do mercado, precisa considerar outras potenciais medidas que tenham menor impacto sobre o setor.

"O jeito de resolver a equação sem esse efeito colateral é limitar o parcelado sem juros", afirma o executivo. "Se não existe uma mudança no parcelado sem juros, teria que buscar outro tipo de alternativa. Olhar o que dá para fazer sem criar esses efeitos negativos."

O CFO do Nubank, Guilherme Lago, diz que a própria fintech teria de rever as bases de clientes na eventualidade de um teto de juros vir a ser imposto. "Não tem um número, mas se houvesse um 'cap' (teto) unilateral, uma parcela relevante dos nossos clientes deixaria de ser economicamente viável", adiciona.

"Teríamos que remodelá-los ou retroceder na inclusão financeira, que eu acho que seria pior." Analistas de mercado acreditam que, por depender mais de cartões de crédito que os grandes bancos, o Nubank seria um dos mais afetados em termos de perdas de receita e resultados com a imposição de um teto. O banco encerrou março com 35 milhões de clientes ativos no cartão de crédito. No total, o banco digital tem 80 milhões de clientes, crescimento de 33% em 12 meses.

O Goldman Sachs calculou que com um teto de 10% ao mês, a fintech teria lucro potencialmente 16% menor neste ano que nas estimativas atuais; se o teto fosse mais restritivo, de 8%, a redução seria de 24%. Em ambos os casos, o impacto seria maior apenas para o Inter, com quedas de 38% e de 56%, respectivamente.

Lago afirma, porém, que essa é uma chance vista como remota. "São medidas muito ruins para a economia, o BC e a Fazenda têm consciência disso. Não achamos que o teto de juros é um risco grande dadas as conversas que temos tido", pontua.

O Nubank, que completa dez anos este mês, estima que seus clientes economizaram nesse período o equivalente a R$ 40 bilhões no pagamento de tarifas bancárias. Nascido com a proposta de ser totalmente digital, sem agências e sem tarifas.

Discussão longa

O tema está em discussão entre a indústria de cartões, o Ministério da Fazenda e o Banco Central desde o mês passado. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estimulou a conversa ao considerar que os altos juros da modalidade contribuem para o endividamento da população. O setor financeiro tem dito, por outro lado, que mudanças no rotativo precisam ser estudadas com cautela.

"A indústria de cartão de crédito é muito grande no Brasil: representa mais ou menos 40% do consumo e 20% do PIB do País", diz Lago. "Qualquer potencial e pequena disrupção pode ter um efeito muito grande na atividade econômica."

Segundo o executivo do Nubank, ainda é cedo para dizer como e quando haverá uma solução para os altos juros da modalidade. Atualmente, em linhas de crédito livre, o cheque especial possui limitação dos juros mensais a 8%.

Os emissores de cartões de crédito, entre eles o Nubank e os grandes bancos, afirmam que as altas taxas do rotativo, em alguns casos superiores a 400% ao ano, são um subsídio cruzado ao parcelado sem juros, produto que só existe no Brasil e que na prática, faz com que as instituições financeiras incorram no risco associado à concessão de limites sem o ganho de juros.

Cálculo do JPMorgan apontou que no País, apenas 25% da carteira de cartões de crédito rendiam juros em dezembro do ano passado, contra 66% no Chile e 62% no México. O banco lembrou, por outro lado, que desde 2018 os bancos têm de transferir clientes que atrasam a fatura do cartão por mais de um mês para outras linhas de crédito, mais baratas que a do rotativo. Na prática, os clientes não pagam 400% de juros, afirma a casa.

Contato: matheus.piovesana@estadao.com e altamiro.junior@estadao.com
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