Economia & Mercados
22/09/2020 08:54

La Ninã de baixa intensidade pode favorecer armazenamento em reservatórios do Sudeste


Por Wilian Miron

São Paulo, 21/09/2020 - Pressionados pela falta de chuvas entre dezembro de 2019 e janeiro deste ano, os reservatórios das hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, os principais do País, respondendo por 70% da capacidade de armazenamento nacional, podem ter um maior alívio com a chegada do período úmido que começa em outubro e se estende até o final do verão.

Na visão de meteorologistas, a influência do fenômeno climático La Ninã - caracterizado por temperaturas mais amenas, maiores volumes de chuvas no Nordeste e um clima mais seco no Sul - tende a trazer afluências (volume de água que chega aos reservatórios das hidrelétricas) um pouco acima da média para a caixa d’água do setor elétrico brasileiro justamente na época em que estes reservatórios sazonalmente se recuperam para atender o período seco.

Segundo o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Olívio Bahia, o fenômeno climático deste ano será de menor intensidade, o que provocará precipitações mais fortes no Sudeste/Centro-Oeste, e pode ter duração mais curta, chegando até o início de 2021. Este fator pode ser determinante para a quantidade de chuvas que chegará aos lagos das hidrelétricas.

Caso estas previsões se confirmem, poderão melhorar a capacidade operativa das usinas, diminuindo a pressão sobre o suprimento de energia, e influenciar na formação de preços do setor elétrico, principalmente no mercado de curto prazo, que tem como referência o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), apurado semanalmente pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) com base no custo das operações.



Atualmente, os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste estão com 36,41% de capacidade. No Sul, o volume é de 49,66%, enquanto no Norte a água armazenada corresponde a 56,23% da capacidade dos reservatórios e no Norte 69,82%, segundo informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

"A expectativa é que o período úmido tenha entrada para outubro em qualidade para as regiões onde temos reservatórios e bacias hidrográficas importantes", disse o meteorologista da Climatempo, Filipe Pungirum.

Segundo ele, a perspectiva é boa já no mês de outubro para os reservatórios que recebem água dos rios Uruguai, Iguaçu e Paranapanema, o que inclui a hidrelétrica de Itaipu, responsável pela geração de 11,3% da energia consumida no País. Embora a usina binacional fique na Região Sul, seu reservatório é beneficiado pelas afluências sobre as bacias do Sudeste e do Centro-Oeste, que ajudam a abastecer o Rio Paraná, onde está localizada.

Em novembro, as chuvas devem melhorar também na bacia do Rio Grande e do Tietê, onde a previsão é que o volume de água supere a média histórica, e até dezembro a tendência é que a melhora atinja os corredores de Paranaíba e Tocantins. "O período úmido deve ser bom para o setor energético em termos de qualidade das chuvas nas principais bacias", afirmou Pungirum.

O aumento das chuvas a partir do mês que vem é confirmado por Olívio Bahia, para quem os volumes de precipitações devem voltar gradativamente à média nos principais corredores de água do País. "A tendência é que os volumes aumentem ao longo do tempo até chegar em janeiro e fevereiro em uma situação melhor que a atual, o que favorece o setor elétrico porque evita problemas de escassez para geração", disse.

Contudo, o meteorologista alerta que, embora as chuvas mais abundantes comecem a chegar nas próximas semanas e se intensifiquem a partir da segunda quinzena de outubro, a recuperação dos reservatórios ainda deve demorar um pouco mais. "Entramos nesse período com os níveis dos reservatórios muito baixos, então a recuperação precisará de chuvas mais fortes, para dar conta de satisfazer o solo para só depois ser armazenada".

Este alerta é corroborado pela meteorologista da Somar Meteorologia Maria Clara Sassaki. Na visão da especialista, as primeiras chuvas servirão para recuperar o solo, e a persistência delas entre novembro e dezembro deve elevar os níveis dos lagos das hidrelétricas. "A recuperação ainda deve demorar um pouco, porque antes do último inverno o período foi mais seco, então voltar a volumes maiores nos reservatórios demora mais do que o normal".

Demais regiões

Se, por um lado o prognóstico para as chuvas nos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste são otimistas para os próximos meses, no subsistema Sul a tendência é de manutenção da estiagem.

Segundo os profissionais, o La Ninã consiste no resfriamento das águas do Oceano Pacífico, alterando a distribuição de calor, umidade e a concentração chuvas no planeta, e uma de suas características é tornar o tempo mais seco na Região Sul, especialmente em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

"Para a maior parte do País não será um ano de preocupações em termos de chuva, mas no Sul a situação é mais complicada, com uma expectativa menor de chuva e tempo mais seco”, disse a meteorologista da Climatempo, Patrícia Madeira.

Embora espere por chuvas acima da média na maior parte do País, Olívio Bahia, do Inmet, acredita que o fenômeno climático "pode tornar o tempo mais seco no Sul e em uma parte do Nordeste mais próxima à Região Norte".

Já Maria Clara Sassaki, da Somar Meteorologia, enxerga um efeito menor do La Ninã no Nordeste, onde os volumes de chuva tendem a ficar próximos à normalidade, assim como no Norte. "A tendência mais forte é no Sul, onde a tendência é maior de estiagem no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, mas com o Paraná sendo beneficiado pela proximidade com o Sudeste. No Nordeste, o fenômeno terá menor influência”, afirma.

Contato: wilian.miron@estadao.com; energia@estadao.com
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