Economia & Mercados
22/04/2022 16:54

Especial: Nubank reduz dependência do cartão de crédito e vê concorrência aumentar


Por Matheus Piovesana

São Paulo, 22/04/2022 - A diversificação das fontes de receita continua a ser um dos fatores de risco do Nubank, mas o neobanco começa a colher os frutos do investimento em uma prateleira mais ampla. No ano passado, as tarifas de intercâmbio e os juros relacionados aos cartões de crédito responderam por pouco menos da metade da receita da fintech, ante 63% em 2020. Por outro lado, o aumento da concorrência é dado como certo.

Nascido do cartão de crédito sem anuidade, o Nubank obtém receitas com o produto através do intercâmbio pago pelas adquirentes e do crédito rotativo. Nos últimos anos, agregou à carteira produtos como os seguros, numa aposta na fidelização dos clientes que também diversifica os riscos, mas o cartão ainda é central.

"(...) nossa receita será significativamente prejudicada se perdermos todo ou parte substancial de nosso negócio de cartão de crédito, seja devido à perda de clientes, alterações regulatórias ou legislativas, como no caso das taxas de intercâmbio e/ou as taxas de juros que cobramos passarem a ser limitadas por reguladores", afirma o neobanco em seu formulário de referência, divulgado na quarta-feira.

Dor de cabeça
Analistas esperam que o cartão de crédito seja fonte de dores de cabeça neste ano, em um cenário de inflação e endividamento altos. "Notavelmente, créditos ao consumidor sem garantias e cartões de crédito devem enfrentar alguma pressão, à medida que o ano começa com alta inflação e endividamento das famílias", afirmou o JPMorgan, em relatório de prévias do setor financeiro.

O Nubank tem ressaltado que a qualidade de crédito de sua carteira historicamente fica acima da média do mercado. No quarto trimestre do ano passado, os atrasos acima de 90 dias atingiam 3,5% da carteira, ante média de 5% do setor, segundo a fintech.

No campo da regulação, o neobanco ressalta, no formulário de referência, que uma limitação das tarifas de intercâmbio em cartões pré-pagos por parte do Banco Central aos moldes da proposta da consulta pública 89, do ano passado, teria feito com que suas receitas fossem impactadas negativamente em R$ 480 milhões em 2021.

O BC ainda não publicou novas normas, mas as bandeiras de cartão começam a propor mudanças. A Mastercard, bandeira estampada nos cartões do Nubank, propôs reduzir as tarifas para 0,8% em parte das transações com pré-pagos. Como mostrou o Broadcast, o setor aposta na autorregulação para evitar o que enxerga como tabelamento de preços.

Mais concorrência

A fintech admite que a concorrência deve aumentar. "Esperamos que a concorrência se intensifique no futuro à medida que as tecnologias emergentes continuam a entrar no mercado e as grandes instituições financeiras buscam cada vez mais inovar os serviços concorrentes de nossa plataforma que oferecem", afirma o Nubank no formulário.

As iniciativas dos grandes bancos ganham atenção especial. O texto afirma que os bancos tradicionais "ou concorrentes afiliados a bancos tradicionais" têm recursos financeiros e operacionais maiores que os do Nubank, o que pode colocá-lo em desvantagem na briga por clientes e aumentar custos e despesas no futuro.

No ano passado, os maiores bancos privados do País deram maior tração a suas marcas digitais. O Itaú, por exemplo, colocou o Iti no centro de sua estratégia, enquanto o Bradesco, dono do Next e da carteira digital Bitz, assumiu o controle total do Digio, em que era sócio do Banco do Brasil.

Os conglomerados posicionam seus "filhotes" digitais como bancos direcionados a um público jovem, de menor renda e avesso à oferta dos bancos tradicionais - justamente o público que tem no Nubank uma referência.

Custo das mudanças

A fintech dedica outra seção do texto às mudanças na regulação de instituições de pagamento, divulgadas pelo Banco Central em março. A fintech calcula que se as novas normas estivessem em vigor no ano passado, a Nu Pagamentos teria de apresentar capital regulatório mínimo de R$ 2,5 bilhões. Seria um aumento de R$ 541 milhões na comparação com as normas a que a Nu Pagamentos e a Nu Financeira hoje estão submetidas.

A implementação será gradual, com entrada em vigor em janeiro de 2023 e implementação completa dois anos depois. A questão, porém, não se restringe ao Brasil: o Nubank ressalta que no México e na Colômbia, as autoridades locais também podem alterar, nos próximos anos, suas respectivas regulações.

Contato: matheus.piovesana@estadao.com
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