Por Gabriel Caldeira
São Paulo, 10/11/2022 - Os impactos da guerra na Ucrânia sobre a Europa e o mundo todo impõem desafios importantes a curto prazo, mas não serão uma força contrária à transição para fontes renováveis de energia, segundo o pesquisador do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getúlio Vargas (FGV/CERI), Diogo Lisbona Romeiro.
Em entrevista ao Broadcast Live, encerrada há pouco, o economista especialista em economia de energia pondera que fazer a transição energética sem o gás natural da Rússia "será um desafio a curto prazo" que obrigou a Europa a dar "alguns passos para trás".
Romeiro cita, por exemplo, o maior uso de usinas de carvão para suprir a demanda interna após o corte da oferta russa. Entre outros exemplos, a Alemanha reativou usinas nucleares que estavam inoperantes há anos.
"Isso significa que a transição ficou mais distante? Acredito que não", ponderou o pesquisador da FGV, ao lembrar que o caminho da segurança energética global - e especialmente na Europa - passa por diversificar suas fontes energéticas por meio das renováveis.
Ele também lembrou da importância que o setor privado terá nesse processo. Romeiro destacou projeção da Agência Internacional de Energia (AIE) de que cerca de 70% dos investimentos em prol de energia renovável até 2030 devem vir das empresas. A previsão consta no último relatório de perspectiva global da entidade.
Brasil
Durante a live, Romeiro destacou o potencial que o Brasil tem enquanto eventual propulsor da energia renovável. Para ele, o Brasil tem uma "vantagem" em sua matriz energética, que é majoritariamente renovável - na geração de energia elétrica, ela chega a 80%, diz.
Contudo, há uma série de políticas que travam o crescimento das fontes renováveis, segundo ele. Entre elas, indexações de gás natural a preços muito elevados e subsídios a setores que têm capacidade de avançar sozinhos, como o de energia solar.
Para avançar com as diversas fontes renováveis disponíveis no país, seria importante realizar uma "liberalização" do mercado e deixar que a própria iniciativa privada invista de forma orgânica, avalia Romeiro.
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