Economia & Mercados
08/04/2022 18:36

Especial: 'risco Le Pen' no 1° turno da eleição francesa pode pressionar euro e ações


Por André Marinho

São Paulo, 08/04/2022 - O acirramento das eleições presidenciais na França deve imprimir volatilidade aos mercados financeiros. Segundo analistas, o avanço da candidata Marine Le Pen, de extrema-direita, na corrida para tentar impedir a reeleição do presidente Emmanuel Macron pode impor pressão sobre o euro, deixar as bolsas europeias instáveis e acentuar o spread entre os bônus soberanos franceses e alemães.

Adormecido diante da confortável liderança de Macron no início da disputa, o "risco Le Pen" voltou a assustar investidores na reta final da campanha. Os papéis de bancos, em Paris, foram particularmente penalizados, em meio à possibilidade do triunfo de uma liderança política crítica ao projeto europeu de integração. "Embora a perspectiva de uma separação da zona do euro pareça mais remota do que durante a campanha presidencial francesa de 2017, a possibilidade de Marine Le Pen assumir o poder ainda é um grande risco para os mercados financeiros da zona do euro", avalia o economista Jonas Goltermann, da Capital Economics.

Se há cinco anos Le Pen fez da saída do bloco uma das propostas centrais de sua candidatura, desta vez, ela já não defende a separação. Ainda assim, a ex-deputada mantém uma plataforma que colocaria em xeque a viabilidade da união monetária. "Suas promessas de ignorar a primazia da lei da UE sobre a lei nacional e as restrições à política fiscal colocariam o futuro do projeto da zona do euro em dúvida", ressalta Goltermann.

No contexto doméstico, Le Pen advoga por uma política econômica populista, com intervenção estatal nos preços e concessão de subsídios aos setores mais afetados pela crise econômica provocada pelo coronavírus. A postulante também promete cortar a carga tributária de trabalhadores e eliminar o imposto de renda para franceses com menos de 30 anos.

Macron, por outro lado, deve manter os pilares que definiram o primeiro mandato, entre eles a flexibilização de normas trabalhistas. O presidente quer ainda aumentar a idade mínima de aposentadoria, de 62 para 65, e reduzir os impostos sobre heranças.

Diante disso, os mercados já reavaliam o balanço de riscos relacionados à eleição e cobram prêmio dos soberanos franceses. O spread entre os juros de 10 anos de França e Alemanha superou 50 pontos-base, acordo com o ING. O banco acredita que essa diferença pode ficar acima de 60 pontos-base até o segundo turno, que acontece em 24 de abril. "Antes disso, níveis mais altos foram vistos pela última vez nas eleições presidenciais de 2017", lembra.

Para o câmbio, um desempenho sólido de Le Pen no domingo pode reduzir o euro para a faixa de US$ 1,05 (de US$ 1,08 atualmente), conforme prevê o ING. A pressão sobre a divisa comum é exacerbada pelos desdobramentos da guerra na Ucrânia, em meio a novas sanções contra o carvão russo.

Por outro lado, se Macron surpreender as pesquisas e ficar muito à frente da rival no domingo, a tensão recente no euro diminuirá, na visão da Capital Economics. A consultoria pondera, entretanto, que os dois principais riscos aos mercados europeias persistiriam: as consequências da guerra na Ucrânia e dúvidas sobre a postura da política monetária do Banco Central Europeu (BCE).

O Rabobank entende uma eventual reeleição de Macron como positivo para a economia. Isso porque o presidente provavelmente retomaria a agenda de reformas econômicas que havia sido paralisada por conta da pandemia. Mas o banco acredita que o triunfo seria resultado de uma fragmentação da opinião pública, não um sinal claro de força política. . "Neste contexto, estamos cada vez mais preocupados com a possibilidade de agitação social anti-reforma uma vez que os eventos internacionais fiquem em segundo plano", alerta.

Contato: andre.marinho@estadao.com
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