Economia & Mercados
30/07/2021 15:02

Especial: Retomada dos preços de serviços pode ocorrer com bens altos e turbinar IPCA 2021


Por Cícero Cotrim e Thaís Barcellos

São Paulo, 26/07/2021 - O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) passou uma mensagem amarga sobre o cenário - já altamente pressionado - para a inflação oficial deste ano. A impressão que ficou é de que a recomposição dos preços de serviços, em meio ao avanço da vacinação, deve ocorrer sem muito alívio dos bens industriais, que desde o fim do ano passado estrelam como vilões do IPCA.

Com a pressão conjunta, as projeções para a inflação oficial este ano voltaram a avançar, com algumas apostas já superiores a 7%. O Credit Suisse, por exemplo, elevou a projeção para 2021 de 6,9% para 7,2% e, para 2022, de 4,5% para 4,7%, próximo do teto da meta para o ano que vem (5,0%).

O IPCA-15 desacelerou de 0,83% em junho para 0,72% em julho, mas não só surpreendeu ao ficar além da mediana das expectativas da pesquisa do Projeções Broadcast (0,65%), como impressionou com uma composição muito desfavorável. Enquanto os serviços (0,30% para 0,71%) superaram o teto das pesquisas, o arrefecimento dos bens industriais (1,04% para 0,70%) foi menor do que o esperado.

"A inflação de bens deve se normalizar, mas pode levar algum tempo, com problemas na cadeia industrial. Já a recomposição dos preços de serviços é para já, com a o avanço da vacinação e a reabertura econômica", diz o economista-chefe para o Brasil do BNP Paribas, Gustavo Arruda, que manteve sua estimativa para o IPCA de 2021 em 6,5%, com riscos para cima, mais próximo de 7%.

Para Arruda, os preços de serviços no IPCA-15 acenderam um sinal de alerta e, após o dado, a confiança na aposta de alta de 0,75 ponto porcentual da Selic no Copom de agosto diminuiu. "Estimamos 7,5% para a Selic no início de 2020. O risco é de antecipar o ciclo."

O economista da LCA Consultores Fábio Romão elevou de 6,4% para 6,5% a projeção de IPCA em 2021 depois da leitura mais pressionada do que o previsto no IPCA-15 de julho. Nas aberturas, o analista espera inflação de 3,76% dos serviços e de 7,11% dos bens industriais, as mais altas desde 2017 e 2004, respectivamente. O aumento dos custos do atacado praticamente contrata uma taxa mais alta de bens, a despeito da retomada dos serviços, diz o analista.

"Não é porque um acelera que o outro vai aliviar. O bolso do consumidor é um só, mas é difícil de segurar essa avalanche de aumento de custos para os bens, com dificuldade de obtenção de matérias-primas", diz Romão. "Tanto serviços quanto bens vão ficar altos; no caso dos serviços, tem demanda reprimida e uma estrutura de oferta abalada, por causa das muitas empresas que fecharam durante a pandemia."

A elevação do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M) industrial prevista para 2021, de 26,10%, deve inclusive pressionar os preços de bens no IPCA de 2022, quando a taxa dos custos no atacado deve ceder a 6,70%, segundo o economista. Para o ano que vem, a estimativa é de IPCA de 3,80%, com aumento de 4,91% dos serviços e de 3,70% dos bens industriais, ainda superior à média observada entre 2017 e 2020.



Estudo de Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco digital Modalmais, indica pressão dos bens industriais até o fim do ano em todos os cenários simulados com base no índice CRB Raw Industrial e em sua estimativa de câmbio, de R$ 4,80 no fim de 2021 e R$ 4,90 no término de 2022. "Por outro lado, a projeção para 2022 depende das trajetórias de câmbio e insumos traçados. Em geral, as projeções se encontram mais próximas da média."

No IPCA-15 de julho, o economista Leonardo França Costa, do ASA Investments, calcula a inflação de serviços subjacentes, exclusive alimentação no domicílio, no maior nível desde 2015, nas contas dessazonalizadas e anualizadas. Em 12 meses, os serviços pularam de 2,16% para 2,95% e os subjacentes, de 3,87% para 4,39%. Os industriais subjacentes já estão muito acima do teto da meta (5,25%), em 7,28%. Da mesma forma, a média dos núcleos superou a banda superior do objetivo do Banco Central, aos 5,27%.

"O IPCA-15 mostrou que a retomada dos preços de serviços vai ocorrer com industriais ainda pressionados", diz França Costa, que elevou a projeção para 2021 de 6,2% para 6,6% O economista prevê maior pressão de serviços, que devem terminar o ano em 4% (de 1,73% no ano anterior), e administrados, em 10%, mais que o triplo de 2020 (2,63%). Os industriais, por sua vez, devem fechar 2021 em 7,40%, depois de 3,14% no ano passado.

Na MCM Consultores, a projeção de 2021 passou de 6,3% para 6,73% após o IPCA-15. A revisão também incorporou a visão de serviços mais fortes, em 3,5% no fim do ano, além de alimentos mais pressionados no curto prazo e novo aumento da bandeira vermelha 2 na conta de luz, a R$ 11,50, em consulta pública. Para bens industriais, a projeção continuou em 6,5%.

"O avanço de serviços no IPCA-15 foi mais intenso que o esperado. Além de passagens aéreas, foram observadas altas mais fortes em aluguel, condomínio, despesas com recreação e consertos", afirma. "A expectativa para bens industriais é de desaceleração conforme indicações iniciais no produtor, mas ainda está em andamento esse processo."

Contato: thais.barcellos@estadao.com e cicero.cotrim@estadao.com
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