Economia & Mercados
29/05/2023 09:25

Especial: PagBank perde R$ 2,9 bi em NY após indicar que alto crescimento ficou no passado


Por Matheus Piovesana

São Paulo, 26/05/2023 - O PagBank foi a última empresa do setor de maquininhas a divulgar resultados na temporada do primeiro trimestre - e deixou um gosto amargo para os investidores. Nesta sexta-feira, a companhia perdeu R$ 2,9 bilhões em valor de mercado, com um tombo de 13,9% nas ações listadas na Bolsa de Nova York. A empresa é avaliada em US$ 3,4 bilhões (R$ 16,8 bilhões), e no ano, sobe 19%.

Em uma divulgação marcada pela unificação das marcas do grupo, aposentando o nome PagSeguro, a companhia do Grupo UOL mostrou lucro líquido ajustado de R$ 392 milhões, 6% maior que no mesmo período do ano passado. O número foi considerado positivo, mas a composição desagradou a analistas, e o mercado tentou digerir a mensagem de que crescimento não é mais a prioridade número um.

Nos primeiros meses do ano, o PagBank observou uma expansão mais lenta da captura de transações pelas maquininhas, e continuou originando crédito exclusivamente em linhas com garantia, para reduzir a inadimplência e as despesas com provisões. Além disso, demitiu cerca de 500 funcionários em janeiro, em uma reestruturação. O resultado é que as receitas cresceram menos do que se esperava, e o lucro foi "salvo" pelo controle de despesas.

A fórmula contraria o que a antiga PagSeguro apresentava ao mercado desde a abertura de capital, em 2018, quando chegou a Nova York colhendo os louros da atuação na "guerra das maquininhas", e aumentando o lucro graças à expansão rápida do negócio. Em cinco anos, o mundo mudou e o mercado de pagamentos também - assim como a taxa de juros.

"As receitas mais fracas e o crescimento de um único dígito em base anual talvez sejam um sinal de que os tempos de alto crescimento para a Stone e o PagBank acabaram", escreveu o analista Eduardo Rosman, do BTG Pactual, em relatório enviado a clientes.

Foco

Um dos sinais dessa mudança de direção foi a base de clientes em maquininhas, que caiu 10% em um ano, para 6,9 milhões. O PagBank atribui essa queda aos clientes "nano", que processam até R$ 1.000 por mês nas maquininhas. É um cliente que paga boas comissões, mas que é caro de atender porque não tem escala, e muito suscetível a desligar a maquininha se arranja um emprego formal.

No topo da pirâmide, a empresa também tem sido mais seletiva. "Temos trocado crescimento de volumes em grandes contas por rentabilidade", disse ontem ao Broadcast o diretor de Relações com Investidores, ESG e Inteligência, Éric Oliveira. "Esperamos manter a nossa participação de mercado, mas com mais rentabilidade."

A empresa buscou colocar os holofotes nos números do banco digital, que continua crescendo em clientes e em carteira. É uma expansão conservadora: desde o início do ano passado, a originação tem sido de linhas garantidas, como o consignado e cartões de crédito atrelados a investimentos. Tudo para controlar as provisões e os índices de inadimplência.

"As receitas com serviços financeiros, de R$ 331 milhões, caíram 9% em um trimestre, dado que empréstimos com garantia apresentam rentabilidade mais baixa", afirmou Daniel Federle, do Credit Suisse.

De modo geral, a visão do mercado é que a opção conservadora do agora PagBank deve levar a resultados mais estáveis à frente, ou seja, sem saltos, para o mal ou para o bem. "Apesar de ter divulgado números que de alguma forma são saudáveis, vemos pouco espaço para que o lucro cresça em 2023", escreveu Henrique Navarro, do Santander.

Contato: matheus.piovesana@estadao.comP
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