Economia & Mercados
22/08/2022 11:23

Especial: De shopping a galpão 'last mile', o plano da XP para os aeroportos da 7ª rodada


Por Juliana Estigarríbia e Cynthia Decloedt

São Paulo, 19/08/2022 - A XP surpreendeu o mercado ao conquistar, sozinha, o bloco de aviação executiva na 7ª rodada de concessão de aeroportos promovida pelo governo federal. Muito além de pousos e decolagens, o grupo olha o Campo de Marte (SP) e Jacarepaguá (RJ) como potenciais polos de negócios no segmento imobiliário, que podem incluir desde shopping centers até galpões de entregas de última milha. Além disso, tem como ideia operar os aeroportos sozinha no futuro.

"Nosso contrato com a Egis (operadora francesa) é de cinco anos e a partir do quinto ano, a primeira possibilidade é tentar se qualificar como operadora, pediremos para a Anac para internalizar a operação dos aeroportos", disse o head da XP Asset, Túlio Machado, em entrevista ao Broadcast. Se isso não for possível, a XP pode seguir com a Egis ou buscar um novo operador.

O bloco Aviação Geral - como é denominada a aviação executiva - tinha lance mínimo de R$ 141 milhões no leilão. A gestora de recursos do grupo ofereceu proposta sem ágio e não teve concorrentes. Machado relata que tanto a área de Jacarepaguá quanto do Campo de Marte são grandes. No caso do terminal paulistano, ele destaca que são quase 100 mil quilômetros quadrados de área muito próxima ao centro.

"Podemos desenvolver galpão logístico, centro de distribuição, galpão last mile, temos todo um plano de negócio", afirmou o executivo. "Para um Magazine Luiza, uma Via Varejo ou Amazon, é um local muito próximo ao centro da capital, em uma região nobre", esclarece Machado.

Já em Jacarepaguá, ele pondera que a pista, de 900 metros, opera bem aviões pequenos e helicópteros. "O terminal atende plataformas de petróleo, tem uma operação forte offshore. Essa é uma receita interessante", conta.

O executivo também vê com otimismo os recentes testes envolvendo os veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (eVTOLs, na sigla em inglês), conhecidos como "carros voadores", no Rio de Janeiro. Em sua visão, a forte operação de helicópteros no aeroporto de Jacarepaguá é uma vantagem para o desenvolvimento do veículo no terminal.

Ele afirma ainda que, em São Paulo, a nova concessão de Congonhas, conquistada pela espanhola Aena também na 7ª rodada, prevê expansão para áreas que hoje abrigam a aviação executiva. "Uma parte da demanda vai acabar indo para Campo de Marte", avalia. "Também estamos estudando investir em tecnologia para instrumentalizar o terminal (permitir pousos e decolagens por instrumentos)", complementa.

Segundo Machado, o braço imobiliário da XP Asset tem áreas dedicadas a shopping centers, galpões logísticos, lajes corporativas, que ajudaram a validar a proposta para a 7ª rodada. "Quando olhamos para esse negócio, na prática, é um real estate, tem muita receita de imobiliário. São receitas acessórias que vão ser importantes para viabilizar os aeroportos."

O diretor de infraestrutura do Banco Fator, Ewerton Henriques, esclarece que a exploração de uma concessão privada de aeroportos vai além das receitas tarifárias. "Nenhum aeroporto fica de pé sem receita acessória, a tarifa aeroportuária ajuda, mas não fecha a conta."

Investimentos

Os recursos que possibilitaram a XP Asset participar do leilão vieram do fundo XP Infra IV, que captou R$ 305 milhões junto a 5 mil investidores qualificados no início de agosto. Isso não significa, entretanto, que praticamente metade dele já esteja alocada nessa concessão.

Machado relata que o pagamento de parte da outorga pode ser alavancado por meio de alguma engenharia financeira, envolvendo debêntures de infraestrutura ou a emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).

Ele explica que, no aeroporto de Jacarepaguá, já existe uma receita imobiliária muito grande, vinda de empreendimentos como um shopping e uma faculdade, alojados na área que pertence à concessão. Esses ativos podem ser usados para dar lastro a uma operação de CRIs, esclarece.

O fundo tem mandato de investimento em quatro setores de infraestrutura que, além de logística, envolvem telecomunicações, saneamento e o setor elétrico. Os "cheques" do fundo devem variar entre R$ 150 milhões a R$ 250 milhões.

De acordo com Machado, oportunamente, o fundo pode crescer e alcançar R$ 1 bilhão captados, embora esteja autorizado a alcançar R$ 2 bilhões. Mas ele diz que as rodadas de captação devem acompanhar a demanda dos investidores. "É como se fosse um search fund, encontro os ativos e vou captar. Começamos há pouco tempo e é melhor gerar confiança dos investidores mostrando onde vamos investir", afirma.

Contato: juliana.estigarribia@estadao.com e cynthia.decloedt@estadao.com
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