Economia & Mercados
15/06/2020 15:39

Especial: especuladores voltam a elevar posições vendidas no real em Chicago


Por Fabrício de Castro

Brasília, 15/06/2020 - Após um período de forte desmontagem de posições vendidas no real, os especuladores que atuam na Chicago Mercantile Exchange voltaram a elevar as apostas contra a moeda brasileira. O movimento percebido nas últimas semanas, no entanto, sugere certa prudência, visto que o nível da posição assumida é bastante inferior ao verificado em meses anteriores, já em meio à pandemia do novo coronavírus.

Dados da Commodity Futures Trading Commission (CFTC), responsável pela regulação dos mercados futuros e de opções nos Estados Unidos, mostram que em 9 de junho a posição em aberto dos especuladores (non-commercial traders) em Chicago era vendida em 13.014 contratos futuros de real. O montante é 16,63% superior ao visto em 26 de maio (11.158 contratos) e 40,60% acima do verificado em 28 de abril (9.256 contratos).

Cada contrato futuro corresponde a R$ 100 mil e a referência de variação é o dólar americano. Ao assumir uma posição vendida no real, o player registra ganhos caso haja queda da moeda brasileira (alta do dólar). As posições na Chicago Mercantile Exchange retratam apenas uma pequena fração dos negócios globais com moedas - não apenas o real -, mas são consideradas representativas de amplas tendências de negociação.

Nos primeiros meses deste ano, as posições especulativas de Chicago trouxeram indicações de qual seria a tendência da moeda brasileira em períodos posteriores. Do fim de janeiro para o fim de fevereiro, a posição vendida em real passou de 23.624 contratos para 36.987 contratos (alta de 56,57%). Na prática, estes players entraram em março - período de intensificação da pandemia - com posições muito mais firmes contra o real (a favor do dólar). De fato, no mês de março, o dólar disparou 16% ante o real.

No fim de março, a posição vendida dos especuladores no mercado futuro de Chicago já era menor, de 27.804 contratos (queda de 24,83%). Nesta situação, os players viram o dólar subir 4,66% ante o real em abril.

O desmonte de posições vendidas no real se intensificou justamente em abril, em meio à percepção de que a moeda brasileira poderia não ter mais tanto espaço para cair. A posição vendida em aberto no real encerrou abril em 9.256 contratos - um quarto do visto no fim de fevereiro.

Em maio, o dólar ainda registrou picos ante o real, chegando a ser cotado na faixa dos R$ 5,90 no dia 13. Ainda assim, a moeda americana à vista terminou o mês em baixa de 1,83%, cotada a R$ 5,3389. Já a posição vendida dos especuladores em Chicago encerrou o mês passado em 11.158 contratos. Na última terça-feira, dia 9, ela estava um pouco acima disso, em 13.014 contratos, mas ainda distante do pico de 36.987 contratos do fim de fevereiro.

Para José Faria Júnior, diretor da consultoria Wagner Investimentos, após o dólar recuar de quase R$ 6,00 para abaixo de R$ 5,00, é natural haver certa acomodação. Pelo modelo da consultoria, enquanto a moeda americana estiver acima dos R$ 4,65, sua tendência de longo prazo é de alta.

"Pode vir abaixo de R$ 4,65, mas isso depende de vários fatores", pondera Faria Júnior. Entre eles, estão o movimento de outras moedas de países emergentes ante o dólar, o desempenho das commodities no mercado internacional e a avaliação sobre a situação fiscal brasileira. Faria Júnior lembra que o País não possui hoje o grau de investimento das agências internacionais de rating, ao contrário da Austrália e do Canadá - dois países cujas moedas têm comportamento semelhante ao real brasileiro. Este fato acaba limitando o movimento de baixa do dólar ante o real.

"Chance de o dólar continuar caindo, existe. Mas por enquanto não apostamos que ele romperá essa tendência de longo prazo", diz o consultor. "Ao mesmo tempo, a possibilidade de o dólar voltar para R$ 5,50 é bem menor. Pode subir, mas não é para tanto."

Neste contexto, os especuladores seguem posicionados na baixa do real (alta do dólar) em Chicago, mas o número de contratos em aberto neste sentido, apesar da alta das últimas semanas, ainda é bastante inferior ao visto no fim de fevereiro.

O economista Sidney Nehme, da NGO Corretora de Câmbio, afirma que a principal questão no momento é se haverá uma segunda onda de contaminação pela covid-19 ao redor do mundo, o que poderia prejudicar a recuperação econômica. “Então, a postura defensiva vai ser retomada”, disse, ao avaliar o aumento mais recente das posições vendidas no real.

Nehme avalia, no entanto, que o dólar não deve voltar a patamares próximos de R$ 6, como visto em maio. "Ali houve certo exagero. A moeda americana tende a ficar mais próxima do que está sendo projetado no Focus, com taxa de R$ 5,40 no fim de 2020", afirma o economista, em referência ao Relatório de Mercado Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central.

Contato: fabricio.castro@estadao.com
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