Economia & Mercados
09/09/2022 19:36

Especial:Mercado vê chance de IPCA negativo em setembro e maior deflação do Plano Real no 3ºtri


Por Cícero Cotrim, Ítalo Bertão Filho, Marianna Gualter e Isabela Bolzani

São Paulo, 09/09/2022 - As desonerações promovidas pelo governo e os cortes dos preços da gasolina pela Petrobras podem levar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) à maior deflação trimestral do Plano Real no terceiro trimestre de 2022. Após dois meses seguidos de queda dos preços, em julho e agosto, economistas ouvidos pelo Broadcast agora monitoram a chance de uma nova taxa negativa em setembro.

Uma alta de até 0,18% no mês levaria o IPCA a uma deflação de 0,86% no período de julho a agosto, mais intensa do que a queda de 0,85% registrada no terceiro trimestre de 1998 - a maior do Plano Real até agora. Mas a chance de uma taxa negativa em setembro já aparece nas estimativas preliminares de casas como Greenbay Investimentos (-0,20%), Bank of America (-0,15%), XP Investimentos (-0,14%) e Barclays (-0,10%).

Os cortes de preços da gasolina estão por trás das expectativas de deflação em setembro. Desde julho, a Petrobras diminuiu quatro vezes o valor cobrado pelo combustível nas refinarias. A última redução, feita em 2 de setembro, ainda não foi incorporada pelo IPCA e pode retirar cerca de 0,20 ponto porcentual da inflação do nono mês, de acordo com economistas ouvidos pelo Broadcast.

"Devemos ter uma nova deflação da gasolina e do etanol e isso deve garantir mais uma deflação [do índice cheio]", disse o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, comentando as expectativas para setembro. Caso a queda prevista se concretize, o IPCA ficará em terreno negativo por três meses consecutivos pela primeira vez desde 1998, após ceder 0,68% em julho e 0,36% em agosto.

Em relatório publicado hoje, o chefe de Economia para Brasil e Estratégia para América Latina do BofA, David Beker, acrescenta às pressões de baixa para setembro o alívio de alimentos. "As pressões sobre alimentação e bebidas desaceleraram, seguindo a recente queda dos preços de commodities, e a inflação de preços livres também deve se mover nessa direção", afirmou.

Com impacto da desoneração de impostos federais e da limitação da alíquota de ICMS a 17%, a gasolina teve deflação nas três últimas leituras do IPCA: junho (-0,72%), julho (-15,48%) e agosto (-11,64%). Ainda em terreno positivo, a inflação do grupo Alimentação e bebidas arrefeceu de 1,30% em julho para 0,24% em agosto, segundo dados divulgado hoje pelo IBGE.

2022

A expectativa de uma nova queda dos preços em setembro também levou a revisões para baixo nas projeções de inflação do ano por instituições como BofA (6,50% para 5,90%) e Barclays (6,50% para 6,0%). Outras casas, como Daycoval Asset e LCA Consultores, mantiveram as estimativas - de 6,20% e 6,70%, respectivamente -, mas reconheceram viés de baixa para os números.

"É mais fácil o IPCA ir para 6,50% do que para 7,0%", disse o economista da LCA Fábio Romão, que atribui o viés de baixa na projeção para o ano à possibilidade de novos reajustes negativos de combustíveis e de alívio mais intenso dos alimentos. Caso o IPCA fique estável em setembro (0,0%), a inflação acumulada em 12 meses deve ceder a 7,48%, de 8,73% em agosto, a menor desde abril de 2021 (6,76%).

Apesar do alívio do número cheio, analistas ouvidos pelo Broadcast alertam que a dinâmica qualitativa da inflação ainda é preocupante para o Banco Central (BC). Em relatório, o economista para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, lembra que a aceleração da média dos núcleos em agosto (0,53% para 0,66%) superou a mediana do mercado (0,54%) e deixou a taxa em 12 meses praticamente estável, em 10,42%.

"Continuamos acreditando que o ciclo de aperto acabou com a Selic em 13,75%, mas o timing dos cortes será determinado por um declínio consistente dos núcleos de inflação, pelos desenvolvimentos fiscais e pelo comportamento das expectativas de inflação (principalmente as de 2024)", escreve o economista.

Contatos: cicero.cotrim@estadao.com; italo.filho@estadao.com; marianna.gualter@estadao.com e isabela.bolzani@estadao.com
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