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Por Matheus Piovesana e Altamiro Silva Junior
São Paulo, 28/04/2022 - A maior parte da remuneração que a diretoria do Nubank poderá receber neste ano virá de um acerto fechado pela fintech no ano passado com o CEO e cofundador, David Vélez. Pelo acordo, a depender do atingimento de ambiciosas metas para o preço das ações, Vélez, que detém a maior parte do poder de voto no neobanco, receberá novos papéis ou opções para comprá-los.
O Nubank prevê pagar para sua diretoria uma bolada de até R$ 804,4 milhões este ano, sendo que R$ 787,2 milhões serão através de remuneração baseada em ações. Deste último montante, 85% correspondem ao acordo contingente de ações assinado em novembro de 2021, e que envolve a Rua California, veículo por meio do qual Vélez exerce o controle do Nubank.
O acordo, fechado em novembro do ano passado, estabelece que a Rua California, holding através da qual o CEO e cofundador David Vélez controla o Nubank, receberá 1% dos papéis da fintech caso o preço dos papéis se mantenha acima de determinados patamares por 60 pregões seguidos. O nome da holding é uma alusão a rua onde fica a casa no bairro do Brooklin em São Paulo, onde o banco digital foi fundado.
A faixa de preço para a atribuição do prêmio vai de US$ 18,69 a US$ 35,30. Há outro prêmio para o caso de o preço ficar igual ou superior a US$ 35,30 por 60 pregões consecutivos. Segundo o acordo, estes papéis também serão doados por Vélez, que assumiu o compromisso de doar sua fortuna em vida.
Nas últimas semanas, a perspectiva de um aperto mais agressivo dos juros nos Estados Unidos tem mantido o preço da ação do Nubank próximo de suas mínimas históricas. Ontem, fechou em US$ 6,33, 30% abaixo do preço da oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), realizada em dezembro de 2021.
Em novembro do ano passado, no prospecto do IPO, o Nubank reconhecia que haveria um aumento no custo com a remuneração da administração "nos próximos anos", graças ao acordo contingente de ações que fechou em 2021. Não fica claro, porém, quanto do plano responde pelos gastos previstos para este ano.
"O valor justo total do acordo contingente de ações de 2021 foi determinado em US$ 422,6 milhões, e as despesas serão reconhecidas ao longo de 7,5 anos a partir de sua emissão", afirmou o Nubank no formulário 20F, o equivalente americano do formulário de referência.
Segundo o texto, o acordo alinha interesses de Vélez aos dos acionistas ao criar uma ligação "forte e visível" entre o executivo e o desempenho de longo prazo da fintech. As metas são consideradas "desafiadoras". "O acordo contingente de ações responde por quase 100% da compensação baseada em desempenho e de longo prazo do Sr. Vélez", diz o formulário.
Comparação
O plano de remuneração do Nubank ganhou repercussão no mercado e nas redes sociais por superar o de bancões tradicionais, como o Itaú, e ficar muito próximo ao do Bradesco. O valor também representa uma alta significativa em relação a 2020, quando estavam previstos pagamentos de até R$ 175,5 milhões.
Entre 2020 e 2021, a diretoria do Nubank ganhou mais quatro membros e chegou a oito, com a fintech ajustando seu alto escalão para a estreia como companhia aberta. A remuneração máxima da diretoria, porém, escalou diante do acordo relacionado a Vélez: subiu 358% no mesmo período.
O pacote de remuneração do Nubank se aproxima de outros bancões mais tradicionais. No Bradesco, foram reservados R$ 879 milhões de remuneração este ano para a diretoria, que tem mais de 80 nomes. No Itaú, o banco aprovou esta semana em assembleia pagar remuneração de até R$ 500 milhões para diretoria e membros do conselho este ano.
Contato: matheus.piovesana@estadao.com; altamiro.junior@estadao.com
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