Economia & Mercados
08/02/2024 13:48

Entrevista/Copel/Slaviero: Avanço de pautas setoriais vai surpreender neste ano


Por Luciana Collet

São Paulo, 31/01/2024 - Em meio a um processo de busca de melhorias após a privatização, o presidente da companhia, Daniel Slaviero, tem uma expectativa positiva não apenas sobre o andamento dos movimentos internos em curso, como também da economia brasileira em 2024 e sobre os avanços setoriais.

No âmbito corporativo, a empresa espera concluir nos próximos meses operações de desinvestimentos em andamento, como a termelétrica Araucária (UEGA), já acertada com a Âmbar Energia, e a distribuidora de gás Compagás, que deve receber ofertas vinculantes em fevereiro. Na sequência, a Copel planeja iniciar processo de venda, em bloco, de pequenos ativos de geração e deverá analisar potenciais descruzamentos de ativos. Do ponto de vista de crescimento, a aposta é em investimento na rede da distribuidora.

Foto: Divulgação/Copel
Slaviero: Tendência é não participar de leilões de transmissão deste ano, porque o foco está no leilão de capacidade.


Confira os principais momentos da entrevista:

Broadcast Energia - Qual sua percepção para o ambiente macroeconômico em 2024?

Daniel Slaviero
- Eu estou com visão otimista. O País cresceu 3% e a perspectiva no Boletim Focus é de 1,5%, mas trabalhamos com acima de 2%. Vemos um grande esforço do ministro da Fazenda em não deixar a questão do déficit fiscal extrapolar. Sabemos que a meta zero tem um nível de desafio e complexidade alto, mas esse permanente esforço de ir atrás disso faz com que tenha um sentimento de mercado.

Broadcast Energia - Como o Sr. observa o cenário para o setor elétrico para 2024, do ponto de vista governamental?

Slaviero
- No setor elétrico, as grandes pautas estão andando. A renovação das distribuidoras vai acontecer, os leilões de transmissão vão continuar sendo um sucesso, continuamos achando que terá um grande investimento de capex, a atividade vai continuar alta, e vemos uma oportunidade boa no leilão de capacidade, com possibilidade que tenha um espaço não só para as térmicas, mas também para a fonte hidrelétrica participar e contribuir. Tenho acompanhado as discussões dos ministérios, as questões da transação energética, e tenho uma visão moderadamente otimista de que este será um ano que vai surpreender do ponto de vista de destravamento de algumas pautas setoriais.

Broadcast Energia - A Copel tem grande expectativa de participação no leilão de capacidade com hidrelétricas de seu portfólio que podem receber mais turbinas, mas até agora não houve definição neste sentido...

Slaviero
- O Ministério [de Minas e Energia] está muito absorvido pela renovação das distribuidoras, então isso que acaba atrasando. Achamos que não faz sentido ter dois leilões de capacidade no ano, então a tendência, na nossa visão, é que haja um só, no segundo semestre. Com isso, tem o primeiro semestre para que as regras fiquem mais claras e sejam publicadas. O bom senso tem imperado na condução do MME: tem uma renovação [das concessões de distribuição] sem ônus; tem uma consciência de o excesso de subsídios chegou num ponto insustentável. Vejo também essa pauta da transição energética, hidrogênio verde, temas do futuro do setor começando a serem discutidos. Não é um clima de euforia, mas uma visão de que as coisas vão avançar. A condução do tema da renovação das concessões, pra mim, reforça um comportamento que acho vai prevalecer no MME em outros temas, é uma demonstração clara e cristalina de como as coisas vão ser tratadas ao longo de 2024.

Broadcast Energia - O Sr. tem citado que o objetivo da Copel é ser uma referência para o setor em três anos. Qual o foco prioritário para 2024?

Slaviero
- É ganhar eficiência onde uma empresa privada pode ter eficiência, com um foco de investimento na distribuição. No ano passado tivemos um grande investimento na renovação das concessões. Em 2024 e 2025 os grandes investimentos estarão na distribuidora, porque tem um benefício triplo: aumenta a base de remuneração, reduz custos, e melhora o fornecimento para o cliente numa região que tem crescido muito. O Paraná cresceu 9,1% em 2023, acima da média nacional, e isso faz com que se tenha que seguir esse ritmo. Este ano serão investidos R$ 2,091 bilhões só na distribuição. Então, a eficiência, o foco na distribuição e a perspectiva de recuperação do preço da energia fazem com que se tenha uma empresa moderna, ágil e eficiente, pronta para ser uma excelente referência e pronta para que possa estar atenta a oportunidades que venham a surgir no setor.

Broadcast Energia - Mas neste primeiro momento vocês estão mais focados em desinvestimentos, como da UEGA e da Compagas....

Slaviero
- Sim, hoje todo o processo na UEGA já foi feito, está aguardando a análise no Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica], e na medida em que fizer, no máximo no primeiro semestre [a venda] se conclui. O outro grande processo que estamos conduzindo é a Compagas. Estamos vendo uma boa competição, com bons interessados no ativo. As propostas vinculantes devem vir ao longo de fevereiro. Aí haverá um espaço para o direito de preferência e as questões de fechamento. Pretendemos anunciar a transação ainda no primeiro trimestre, com um fechamento 90 dias depois.

Broadcast Energia - A Copel pretender dar andamento à venda de outros ativos ainda neste ano?

Slaviero
- Tem dois blocos: um de descruzamento de participações - tem participações minoritárias em transmissora ou geração, algumas participações cruzadas que podem ser objeto de análise pela companhia -, e outro de ativos muito pequenos, como CGHs [Centrais de Geração Hidrelétrica] e PCHs [Pequenas Centrais Hidrelétricas]. Neste caso, a tendência é que façamos alguns blocos que possam ser colocados no mercado ainda este ano.

Broadcast Energia - E oportunidades de aquisição, estão no radar?

Slaviero
- Estamos sempre atentos, mas diria que não é uma prioridade. Pode aparecer, mas ativamente não são coisas que estamos buscando para 2024. Se for olhar, vai depender da oportunidade, ou é renovável, ou é transmissão.

Broadcast Energia - A Copel participará dos leilões de transmissão previstos para 2024?

Slaviero
- Do leilão do primeiro semestre não vamos participar, e o do segundo semestre a tendência também é não participar, porque o foco está no leilão de capacidade.

Broadcast Energia - A Copel divulgou esta semana dados sobre desempenho no quarto trimestre de 2023 e se observa um crescimento forte, de 10%, no mercado fio, mas uma alta também expressiva de geração distribuída (GD) na área de concessão. Qual visão da companhia sobre a continuidade de expansão do segmento?

Slaviero
- O quarto trimestre é uma fotografia muito fidedigna de como essa questão de GD atingiu um pico e a tendência é de redução ou normalização. Isso porque no acumulado de 2023 o mercado fio cresceu 4% e tirando a GD ficou 2%, mas observando apenas o trimestre, o mercado fio cresceu 10% e tirando GD cresceu 8%. Ou seja, GD era 50% [de participação no crescimento] e ficou com 20% no trimestre. Mostra também que aquele boom da entrada de GD por causa do fim dos subsídios já passou. Demonstra, ainda, que a GD de telhado vai continuar crescendo e tendo adições líquidas relevantes, esse é um caminho inexorável, mas as fazendas solares para negócios tende a cair.

Broadcast Energia - Qual é o impacto esperado para a companhia?

Slaviero
- No longo prazo tem efeito neutro, porque as tarifas vão ser colocadas com isso, mas no curto prazo traz uns desafios do ponto de vista da sobrecontratação, e acho que traz desafio de operação, porque GD aumenta o consumo - as casas com GD consomem mais, até porque não sente tanto isso por causa do custo, e desloca o horário de pico, que saiu do início da tarde para o final da tarde. Hoje a GD, em vez de melhorar sistema, pressiona o sistema, porque tem de fazer mais investimentos para atender consumos intermitentes. Isso só mostra que a questão do subsidio é autofágica: dá subsídio pra quem não precisa e onera cada vez mais o que fica no mercado cativo.

Broadcast Energia - Ainda nos dados sobre o mercado da Copel no quarto trimestre, vimos uma redução das vendas na comercializadora, relacionada a fim de contratos bilaterais. Como reverter isso em um cenário de preços baixos?

Slaviero
- Nossa redução foi estratégica, porque acreditamos que a perspectiva de longo prazo é melhor. A nossa crença é de que vai ter recuperação do preço.

Broadcast Energia - Mas essa recuperação nos preços, segundo o Sr. mesmo declarou, tem sido esperada para 2026. E até lá?

Slaviero
- Se você observar a nossa venda líquida, ou seja, o que temos de garantia física menos o GSF, já estamos praticamente todo contratados: tem 2% a 3% de energia livre para 2024 e 8% a 10% para 2025, não tem muita margem. E tem que lembrar que o cliente final, que é nosso foco prioritário, normalmente compra de três a cinco anos, então tem de ter um pouco de energia de curto prazo para poder viabilizar vendas mais a médio e longo prazo. Não temos feito nenhuma grande vendas de 10 a 15 anos, porque é muita incerteza.

Contato: luciana.collet@estadao.com
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