Economia & Mercados
27/05/2022 17:04

Entrevista Davos/BNDES/Montezano: ideal é que Eletrobras vá a mercado antes do fim de julho


Por Altamiro Silva Junior, enviado especial

Davos, 26/05/2022 - O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, avalia que a capitalização da Eletrobras, uma oferta de ações que pode movimentar ao menos R$ 30 bilhões, deveria ser precificada no mercado antes do fim de julho. Depois, o hemisfério norte entra em férias de verão e o Brasil entra na reta final da campanha presidencial, dificultando a venda dos papéis.

No Fórum Econômico Mundial em Davos, Montezano participou de vários painéis e anunciou o primeiro leilão de crédito de carbono do banco público, além de cobrar avanços na governança do país. Entre um evento e outro, conservou com o Broadcast. Abaixo, os principais trechos.

Broadcast: Qual sua impressão das discussões do Fórum Econômico Mundial na volta para um evento presencial?

Gustavo Montezano:
É impressionante a diferença de janeiro de 2020 para hoje, em todos os sentidos. O Fórum hoje discute basicamente a guerra na Europa, que pode ter impacto em todo o mundo, a questão da segurança energética e alimentar. Fala-se ainda de rescaldo da pandemia e, por consequência, do tema macroeconômico, juro, inflação e eventual recessão. Quando vim em 2020, era uma discussão climática por si só, com metas, decisões e ações difíceis de serem materializadas. Discussões até um pouco arrojadas demais. Hoje, com questões geopolíticas, segurança alimentar, segurança energética, a discussão fica mais racional, mais pé no chão.

Broadcast: O debate sobre transição energética ganhou foco?

Montezano:
Total, pois soma a necessidade de se desvincular dos combustíveis fósseis por questões climáticas e também agora por questões geopolíticas. Quanto mais diversificado e mais amigo for fornecedores de energia, e mais limpa, melhor.

Broadcast: Como está vendo o interesse pelo Brasil nas conversas do Fórum?

Montezano:
Tanto na minha viagem recente a Nova York como agora, a demanda por conversas com o Brasil aumentou drasticamente.

Broadcast: Interesse por algum setor ou tema específico nessas conversas?

Montezano:
Tem dois temas prioritários, segurança alimentar e acesso a energia limpa. São os dois temas mais demandados.

Broadcast: Em um debate do Fórum o senhor disse que a governança no Brasil precisa melhorar. O que precisa ser feito?

Montezano:
Desde 2016, o Brasil tem uma agenda construtiva de governança. Melhoramos muito, mas é importante que essa agenda continue a andar. Tem muito dever de casa para fazer. Não podemos reclamar do custo de capital. Capital tem e tem bastante para alocar. O que precisamos criar é um ambiente de governança para poder absorver esse capital. Projetos com boa regulamentação, bem modulados, com informação transparente, têm demanda. ESG [sigla em inglês para práticas sociais, ambientais e de governança] no Brasil começa com G.


Broadcast: O Brasil tem interesse em aumentar o parque de geração de energia eólica?

Montezano:
No Brasil, ainda é pouquíssimo explorado. Tem hoje pouco mais 40 MW já de solicitação para construir no offshore [no mar]. Logisticamente, você está perto da Europa e dos Estados Unidos e reduz o risco Brasil, não tem a logística interna para fazer. E é apenas a primeira autorização. Daqui a alguns anos, você vai conseguir negociar a energia renovável através do hidrogênio. Das grandes frentes de potencial, o mais notório é o eólico offshore.

Broadcast: Quando espera que a operação de capitalização da Eletrobrás vá a mercado?

Montezano:
O que posso falar é que o Tribunal de Contas aprovou na semana passada a operação e agora está nas mãos da empresa fazer o lançamento.

Broadcast: Mas qual o próximo passo para a operação ir a mercado?

Montezano:
Agora tem os passos internos da empresa para fazer o lançamento.

Broadcast: Alguma expectativa de quando deve ser precificada?

Montezano:
Posso dizer que se você for precificar uma operação no final de julho, já pega o verão no hemisfério norte, não é tão recomendável. Tem que ser antes disso. Depois, você teria que pegar quando eles voltarem em setembro, só que estará na boca da eleição, então fica um momento muito incerto.

Broadcast: Não é o BNDES que está estruturando essa operação para ir a mercado?

Montezano:
É, mas não posso comentar sobre a operação específica. Uma oferta dessa tem que ter um roadshow global de pelo menos duas semanas. E tem que precificar isso antes do final de julho. Então faça as suas contas. O principal desafio é a preparação interna da empresa.

Broadcast: O BNDES estruturou recentemente uma operação de debêntures, atuando como um banco de investimento. Essa estratégia vai prosseguir?

Montezano:
Vai prosseguir. Na hora que bota o BNDES junto com o mercado, cresce o tamanho do mercado como um todo. Tem mais inovação e um banco como o BNDES tem capacidade de tomar mais risco. Na hora que coloca o selo do banco na operação, o mercado vê que está bem feito, tem um valor reputacional.

Broadcast: Tem interesse em operações de renda variável também?

Montezano:
Nesse momento, não. Investir no capital de empresa de forma direta, não tem nada no radar. Em renda variável, fazemos um pouquinho via fundos.

Contato: Altamiro.junior@estadao.com
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