Economia & Mercados
23/06/2022 15:31

Entrevista/SAAB/Micael Johansson: Vejo o Brasil como um hub importante para indústria da defesa


Por Lorenna Rodrigues

Brasília, 22/06/2022 - Em meio a turbulências internas e externas, o CEO da empresa sueca Saab, Micael Johansson, disse que o Brasil pode ser um "hub" importante para a indústria de defesa e segurança em um momento em que as cadeias de produção estão mudando por conta da pandemia e do cenário geopolítico. "Faz todo o sentido investir aqui", afirmou.

Johansson, 61, falou com o Broadcast em Brasília, onde participou esta semana de reuniões com autoridades brasileiras, como o comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, com quem discutiu, entre outros pontos, as negociações para a venda de um novo lote de 26 caças Gripen, produzidos pela companhia.

Em 2014, a empresa firmou contrato de US$ 5,4 bilhões para a produção de 36 caças, que serão entregues até 2027. Os três primeiros chegaram este ano e estão em fase de testes.

Mais quatro aeronaves devem ser acrescentadas a esse primeiro lote. "Da perspectiva da indústria, queremos [um novo contrato] o mais rápido possível. Normalmente, em qualquer país, quando há uma eleição, as coisas são um pouco mais difíceis de alcançar", admitiu.

Na conversa, ele disse acreditar que a democracia vai prevalecer no Brasil e que não tem preocupações quanto a isso. Defendeu ainda a entrada da Suécia na OTAN, independentemente de ameaças de retaliação por parte da Rússia. "Qualquer país tem que poder decidir de que alianças quer fazer parte, isso não pode ser ditado por outro país", completou.

Confira os principais trechos da entrevista:

Broadcast: O governo brasileiro anunciou que está negociando com a Saab um novo lote para a compra de 26 novos caças Gripen, o que faz parte das conversas do senhor com autoridades nesta visita a Brasília. Para quando podemos esperar que o negócio seja fechado?

Micael Johansson: Começamos agora as discussão, quanto tempo levará exatamente não sabemos, mas estamos em conversas positivas.

Broadcast: Podemos esperar os mesmos termos do primeiro lote, com a mesma exigência de transferência de tecnologia?

Johansson: Haverá discussões agora de quanto será [produzido] localmente e quanto aqui no Brasil. Não tenho uma visão nova sobre isso, acho que há um ganha-ganha em ter uma grande parte do que vamos produzir aqui no Brasil. É isso que estamos planejando há muito tempo.

Broadcast: Qual a expectativa para a entrega do novo lote? É possível falar de preços?

Johansson: É muito cedo para falar sobre isso. Seremos flexíveis no cronograma que a Aeronáutica precisar. É um grande esforço para colocar os aviões em operações, treinar os pilotos, equipamentos de solo, infraestrutura que tem que estar pronta para receber as aeronaves. É o que estamos discutindo agora.

Broadcast: Estamos em um ano eleitoral no Brasil. É possível algum avanço dos novos contratos neste ano ou é algo para o próximo governo?

Johansson: Da perspectiva da indústria, queremos o mais rápido possível. Depende do Brasil, não sei se terá algum efeito. Normalmente, em qualquer país, quando há uma eleição, as coisas são um pouco mais difícil de alcançar.

Broadcast: A política brasileira preocupa nos próximos anos, com questões como ameaças feitas à democracia?

Johansson: Política não é meu assunto. A Suécia é uma democracia, o Brasil é uma democracia e deve continuar desse modo, é muito importante. Presumo que as coisas vão correr bem e vamos partir daí. Não me preocupo com isso, acredito que as pessoas são sábias e farão a escolha certa.

Broadcast: O governo brasileiro está muito interessado em oportunidades com as novas configurações das cadeias globais após a pandemia e com as tensões geopolítica. O Brasil pode ser uma parte maior da cadeia da indústria da defesa?

Johansson: Vejo o Brasil como um hub importante. A tendência é regionalizar as cadeias de produção para ter um pouco mais de segurança no fornecimento e maior controle. Acredito que é um efeito das tensões políticas e da guerra da Ucrânia, mais companhias estão considerando o "tradeoff" entre preço e ter segurança no fornecimento. É muito importante. Se pudermos regionalizar partes da produção no Brasil, faremos isso.

Broadcast: Você vê o Brasil como um bom local para investir no momento? Pretende aumentar os investimentos nos próximos anos?

Johansson: Gostaria de ver nossos investimentos aumentarem no Brasil. Se conseguirmos ampliar nossa cooperação industrial e usar nossa capacidade no mercado internacional, faz todo o sentido investir aqui.

Broadcast: Como vocês veem a entrada da Suécia da Otan?

Johansson: É uma decisão política. A maioria das coisas que produzimos hoje estão no padrão da Otan, fazemos exercícios juntos, são sistemas compatíveis, não é um problema. Mas dentro da aliança, teríamos acesso a oportunidades e tecnologias que hoje não temos. Mas, para além disso, nós [a Suécia] teríamos que assumir responsabilidades, como de proteção da região, além do próprio país.

Broadcast: E essa responsabilidade adicional em um momento em que há uma guerra na região faz sentido para a Suécia agora?

Johansson: Absolutamente. Nós já monitoramos o tempo todo o que acontece ao nosso redor e há sempre incidentes com os russos. Isso acontece hoje, mas será uma responsabilidade maior com a Otan.

Broadcast: A Rússia usou a tentativa de entrada da Ucrânia da Otan para justificar a invasão. Pode haver uma resposta semelhante aos países nórdicos?

Johansson: Qualquer país tem que poder decidir de que alianças quer fazer parte, isso não pode ser ditado por outro país. É uma tragédia o que estamos vendo na Ucrânia , não é o que o ninguém quer. Queremos estabilidade.

Contato: lorenna.cardoso@estadao.com
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast+ e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso