Economia & Mercados
04/11/2021 08:44

Especial: Powell adota tom dovish, mas mercado aposta que Fed vai elevar juros em junho de 2022


Por Iander Porcella

São Paulo, 03/11/2021 - O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, tentou afastar a ideia de que uma alta de juros pode ocorrer nos Estados Unidos de forma antecipada. O banco central americano anunciou nesta quarta-feira o tapering, como é chamado o processo de redução gradual das compras de ativos, mas o dirigente fez questão de dizer que o Fed será paciente quando se trata de aumentar a taxa básica de juros. O mercado, contudo, manteve a aposta de que o ciclo de aperto monetário deve começar em junho do próximo ano.

Durante a tradicional coletiva de imprensa após a divulgação do comunicado de política monetária, Powell disse que o apoio à retomada econômica do país vai continuar mesmo com a redução mensal de US$ 15 bilhões nas compras de Treasuries, títulos da dívida pública americana, e de ativos lastreados em hipotecas.

"A reunião de ontem e hoje foi focada no tapering. [Quanto à alta dos juros] Acho que podemos ser pacientes. Não hesitaremos se a economia pedir por uma elevação dos Fed funds", afirmou o chefe do BC dos EUA.

Nos contratos futuros monitorados pelo CME Group, contudo, 51,1% das apostas do mercado hoje, após a reunião do Fed, indicavam uma elevação da taxa básica de juros em junho na magnitude de 25 pontos-base, da faixa entre 0% e 0,25% para o intervalo de 0,25% a 0,50%. Outros 35,3% apostavam em manutenção do atual nível de juros no período.

Na avaliação do NatWest Markets, a maioria das respostas de Powell na entrevista coletiva foram "relativamente vagas". Para os economistas Jan Nevruzi, John Briggs e Brian Daingerfield, que assinam relatório do banco britânico, o dirigente reconheceu que os riscos apontam para uma pressão inflacionária mais forte nos EUA. "Mesmo à luz dessa admissão, o tom de Powell sobre a inflação em geral não parecia tão preocupado como a precificação do mercado sugere", afirmam.

O Citi, por sua vez, antecipou a previsão para a primeira alta de juros nos EUA no atual ciclo da política monetária, de dezembro para junho de 2022, em linha com o mercado. "Nossa visão depende fortemente de leituras de núcleo de inflação mais fortes esperadas e de um mercado de trabalho estruturalmente apertado, com a inflação cada vez mais impulsionada por serviços e bens", dizem os economistas Andrew Hollenhorst e Veronica Clark, que assinam análise do banco americano.

A Oxford Economics, por outro lado, manteve a projeção para alta dos juros nos EUA apenas em dezembro. "Mas não podemos ignorar o risco de um erro de política do Fed, com um aperto antecipado em face da inflação impulsionada pela oferta", pondera a economista Kathy Bostjancic.

O próprio BC dos EUA realizou uma mudança, ainda que marginal, na parte do comunicado que faz referência à inflação. O Fomc avalia agora que a alta de preços reflete, em grande parte, fatores que "devem ser transitórios". Em setembro, o documento apontava que as pressões inflacionárias derivavam em grande parte de fatores "transitórios".

Segundo Bostjancic, a ponderação "devem" mostra que a autoridade monetária tem menos certeza agora sobre a perspectiva para a inflação. No comunicado, o Fed também destacou que a pressão de preços tem origem nos desequilíbrios entre oferta e demanda relacionados à pandemia e à reabertura econômica.

Na reunião de setembro, o gráfico de pontos do Fed indicou uma divisão entre os dirigentes sobre a política monetária. Nove membros do BC americano previam alta de juros em 2022 e outros nove, apenas em 2023.

Para o ING, a economia está voltando a acelerar e a inflação deve atingir 6% nos EUA, o que aumentaria a pressão para que o Fed antecipasse o ciclo de aperto monetário. Em setembro, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) atingiu 5,4% no acumulado em 12 meses.

Em março de 2020, o Fed retomou o programa de compras de ativos, cujo processo de encerramento foi anunciado hoje, e cortou a taxa básica de juros para a faixa entre 0% e 0,25%. Era o começo do pânico com a pandemia de covid-19. A percepção de que haveria uma grave crise econômica derrubava mercados mundo afora e levou o BC dos EUA a agir para conter os danos à economia.

Contato: iander.porcella@estadao.com
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast+ e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso