Economia & Mercados
05/08/2022 09:18

Especial:Justiça dos EUA e Wall Street pressionam Visa e Mastercard contra pornografia infantil


(Retransmitimos nota publicada ontem, às 19:02)

Por Aline Bronzati, correspondente

Nova York, 04/08/2022 - Uma decisão de um juiz da Califórnia e Wall Street cobraram de gigantes de pagamentos dos Estados Unidos uma posição firme contra clientes que contribuem para o financiamento de pornografia infantil. Visa e Mastercard anunciaram hoje que interromperam o envio de recursos à plataforma de publicidade da MindGeek, plataforma global de conteúdo erótico e dona de sites como o Pornohub.

O posicionamento vem após a polêmica ter saído da esfera da Justiça dos EUA e ido parar em Wall Street. Na última sexta-feira, dia 29, o juiz federal da corte de Califórnia, Cormac Carney, negou retirar a Visa em um processo em que é acusada de ser cúmplice de sites que estimulam a pornografia infantil. A decisão se refere ao caso Fleites v. MindGeek, que foi aberto por uma mulher que, aos 13 anos, teve vídeos seus expostos nestas plataformas.

Quase uma semana após a decisão, o CEO e chairman da Visa, Alfred Kelly, afirmou hoje que a companhia discorda da decisão e está "confiante" de sua posição. Disse ainda que abriu uma exceção para se posicionar sobre uma questão legal antes de uma decisão final. "Essa situação, no entanto, é diferente, e como CEO - e pai e avô - me sinto compelido a falar", disse, emendando: "Em nossa opinião, a função, as políticas e as práticas de nossa empresa foram descaracterizadas. As alegações neste processo são repugnantes e estão em contradição direta com os valores e propósitos da Visa".

Segundo Kelly, a Visa suspendeu sites que continham conteúdo gerado pela plataforma MindGeek em dezembro de 2020 e que não era possível usar cartões da bandeira no site Pornohub. A aceitação nesses sites, acrescentou, não foi restabelecida depois disso. Informou ainda que a decisão judicial criou novas incertezas contra a TrafficJunky, braço de publicidade da MindGeek. Assim, a Visa decidiu também bloquear o uso de seus cartões para a aquisição de anúncios em sites que contribuem para a monetização da pornografia infantil.

A rival Mastercard também suspendeu a aceitação de seus produtos na TrafficJunky. "Novos fatos da decisão judicial da semana passada nos alertaram sobre a receita de publicidade fora de nossa visão que parece fornecer financiamento indireto ao Pornhub", afirma a companhia, em nota à imprensa, alegando que o desdobramento reforça a posição tomada em dezembro de 2020, quando decidiu descontinuar a aceitação de seus cartões no site.

"Temos tolerância zero para atividades ilegais em nossa rede. Continuaremos a acompanhar este caso e tomaremos outras medidas, conforme necessário", destaca a Mastercard, em nota.

O caso ganhou holofotes após o megainvestidor de Wall Street, Bill Ackman, cobrar um posicionamento das gigantes de pagamentos dos EUA. Pai de quatro filhas, ele interrompeu seus rotineiros tweets sobre macroeconomia para cobrar uma posição efetiva contra a pornografia. "A decisão resume a destruição da vida de uma menina de 13 anos devido a um vídeo de sexo", alertou Ackman, que afirma que sua empresa, a Pershing Square, não tem qualquer posição em companhias do setor de pagamentos.

"Não tenho interesse econômico, mas acredito que esta é uma das falhas de governança corporativa mais flagrantes que já testemunhei, resultando em enormes danos para muitos", acrescentou o megainvestidor, que cobra ressarcimento às vítimas.

Ackman conta que recorreu ao CEO da Mastercard, Ajay Banga, que atendeu ao seu alerta e bloqueou o site, decisão esta seguida também pela concorrente Visa. Como consequência, conforme Ackman, a MindGeek removeu mais de 10 milhões de vídeos ilegais, equivalente a 80% de seu conteúdo. Antes disso, Paypal havia parado de processar pagamentos ao site enquanto a American Express já não atuava neste segmento.

Para o advogado de mais de 70 vítimas em casos de pornografia infantil dos sites da MindGeek, Mike Bowe, a posição da Visa veio tardia. "O anúncio da Visa hoje está muito atrasado e muito curto. É total má-fé da Visa sugerir que não sabia o que estava acontecendo nos sites da Mindgeek, apesar de inúmeras mídias".

Contato: aline.bronzati@estadao.comP
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