Economia & Mercados
18/10/2023 14:11

Pela primeira vez, EUA terão de se explicar na Assembleia-Geral da ONU sobre veto


Por Aline Bronzati, correspondente

Nova York, 18/10/2023 - Depois de vetarem a proposta do Brasil sobre a guerra no Oriente Médio, os Estados Unidos terão de se explicar na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (UNGA, na sigla em inglês). Será a primeira vez que o país vai prestar esclarecimentos, o que é esperado que aconteça em dez dias úteis. China e Rússia já tiveram que se explicar na Assembleia-Geral da ONU

No início da guerra na Ucrânia, foi aprovada uma resolução que estabeleceu que todos os membros permanentes que vetarem decisões no órgão teriam de se justificar. Eles só estariam isentos de explicações caso o tema em discussão não atingisse a quantidade de votos mínima para ser aprovado.

Não foi o que aconteceu com a proposta de solução sugerida pela presidência brasileira junto ao Conselho de Segurança da ONU (CSNU, na sigla em inglês). Depois de quatro rascunhos, o texto final recebeu 12 votos a favor, duas abstenções e somente um contrário, dos Estados Unidos, durante votação realizada nesta manhã.

Sem o veto de membro permanente do Conselho (EUA), teria passado com folga uma vez que são necessários nove votos a favor. No entanto, para que uma resolução seja aprovada, não pode ter veto do grupo formado por Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e França, os membros permanentes do CSNU.

A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas Greenfield, disse que vetou a proposta por dois motivos: ausência de menção ao direito de Israel à autodefesa e por o texto não ter condenado a ação terrorista do grupo Hamas. "Os Estados Unidos estão desapontados por esta resolução não fazer qualquer menção aos direitos de autodefesa de Israel. Como todas as nações do mundo, Israel tem o direito inerente de legítima defesa", afirmou a embaixadora, durante a reunião que apreciou a proposta de resolução.

Já o embaixador da França na ONU, Nicolas de Rivière, disse que o país votou a favor e que não vê contradição no apoio ao texto e a Israel. “Nós não vemos nenhuma contradição [entre a resolução] e o apoio a Israel após esta tragédia. Dissemos isso no primeiro dia: continuaremos a apoiar Israel depois do que aconteceu, do ataque terrorista”, afirmou Rivière a jornalistas.

Desde 2016, não há nenhuma resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre Oriente Médio. O embaixador brasileiro e representante na organização, Sérgio Danese, lamentou que o CSNU não tenha conseguido avançar no tema agora. “A paralisia do Conselho face a uma catástrofe humanitária não é do interesse da comunidade internacional”, disse Danese na reunião, após o veto dos Estados Unidos.

“Infelizmente, muito infelizmente, o Conselho não conseguiu, mais uma vez, adotar uma resolução sobre o conflito Israel-Palestina. Mais uma vez, o silêncio e a inação prevaleceram”, reforçou o embaixador brasileiro.

No limite

A proposta sugerida pelo Brasil, que está na presidência do CSNU no mês de outubro, era para ter sido votada na segunda-feira, mas foi adiada por duas vezes. Desde então, intensas negociações foram feitas com o objetivo de tentar acomodar as demandas dos países-membros.

Segundo uma fonte, os Estados Unidos participaram “dentro dos limites de suas possibilidades políticas”.

A maciça votação a favor da resolução, com 12 de 15 países votando a favor, surpreendeu positivamente a diplomacia brasileira.

Agora, o Brasil envia um documento para a Assembleia-Geral sobre o desfecho da votação da resolução, que decide quando os EUA vão se explicar sobre o veto, diz um diplomata. É esperado que isso ocorra em dez dias úteis. Além disso, os EUA podem ser questionados pela Palestina, que integra a Assembleia-Geral da ONU.

Contato: aline.bronzati@estadao.com
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